The End of the F***ing World: origens, teorias e futuro da série

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The End of the Fucking World chegou de surpresa ao catálogo da Netflix no inicio de 2018. Em uma semana a plataforma divulgou o trailer e em outra disponibilizou os oito capítulos da primeira temporada. A estratégia é conhecida da empresa: The OA, no final de 2016, foi pelo mesmo caminho: pouca propaganda e, de repente, estava lançada.

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A Netflix deixa, assim, que suas estreias cresçam através do boca a boca e não da divulgação prévia. Neste sentido, TEOTFW acabou fazendo um bom burburinho, o que resultou na renovação do programa para um segundo ano. Baseado em uma HQ homônima, o show acompanha dois adolescentes que fogem de suas casas. O rapaz, James, deseja matar uma pessoa. Alyssa quer fugir pelas estradas e encontrar o pai. A dupla de outsiders se forma e escapa pedindo caronas, roubando carros e cometendo pequenos crimes.

Com oito episódios de 20 minutos, a primeira temporada pode ser assistida rapidamente; e a série tem tudo para render uma ótima maratona. Bem escrita, com ótimo visual e elenco, TEOTFW te convida a assistir um capítulo após o outro e, no fim, a sensação é de carência, já que tudo termina muito rápido. Neste texto, falaremos sobre as origens da série, comentando as diferenças e semelhanças entre o programa e a HQ original. Além disso, debateremos sobre o futuro da série, cuja segunda temporada se avizinha.

Assim, estejam avisados: este texto contém spoilers da primeira temporada de The End of the Fucking World e da HQ que a inspirou.

Série versus HQ

A primeira temporada de TEOTFW é baseada na HQ homônima de Charles Forsman, lançada no início da década. Vale apontar que tudo começou no formato de tirinhas curtas lançadas regularmente e que, depois, viraram a HQ completa que inspirou a série. Assim, a linguagem é simples e objetiva, algo que se reflete nos traços práticos. O principal ponto a ser apontado é que a série é notavelmente fiel à HQ. Algumas das cenas seguem rigorosamente a lógica visual e os diálogos do livro. Algumas mudanças, contudo, saltam aos olhos.

A primeira grande mudança é: as duas detetives que investigam o caso envolvendo James e Alyssa não existem na HQ, tendo sido incluídas exclusivamente na série. Nas páginas, quem persegue o casal é outra pessoa. Na HQ a dupla chega na mesma casa vazia da série. Eles entram, comem e se divertem. James descobre a caixa com fotos de cadáveres e chega à conclusão de que o dono do lugar é um maníaco. Aqui as coisas divergem entre os materiais: na série, Alyssa encontra um rapaz na rua e o leva para casa. Na HQ, James e Alyssa transam e dormem juntos, até que o maníaco chega em casa. Na série, James fica escondido embaixo da cama, assustado, antes de tomar uma decisão e matar o maníaco que está preste a estuprar Alyssa. Na HQ há uma pequena, mas considerável mudança: James, deitado na cama com Alyssa, diz para ela ficar quieta e confiar nele. Ele sai da cama e espera, propositalmente, pela chegada do maníaco. O homem chega e James, tendo elaborado o plano, mata o assassino.

A mudança é considerável pelo fato de que James, na série, é um jovem assustado, cheio de dúvidas sobre o que quer e sua personalidade criminosa. Na HQ, contudo, ele é muito mais frio e propenso à violência. Nas páginas, James pensa em toda a situação e friamente elabora um plano para matar o maníaco. Na série, o rapaz quase permanece escondido, sem muita coragem para matar. É uma das grandes diferenças da série para a HQ: James e Alyssa têm personalidades muito diferentes. Eles são mais alternativos/hipsters na série, enquanto na HQ são mais frios.

Depois da morte do maníaco há a grande mudança: na HQ, uma colega do maníaco chega na casa e descobre o corpo do parceiro. O problema é que além de fazer parte do culto, sendo, assim, outra psicopata, a pessoa também é policial, e consegue ver o rosto de James antes da fuga. Isso não acontece na TV, já que quem está no encalço dos jovens são as duas policiais do bem. Outros personagens que não existem na HQ são: Frodo, o atendente do posto de gasolina, e sua chefe, e o rapaz que Alyssa leva para casa.

Outras pequenas mudanças são claras: na série, James tem a mão ferida depois de mergulhá-la em óleo fervente. Na HQ ele coloca o braço no triturador da pia, que lhe arranca alguns dedos. A mudança possivelmente foi feita por uma questão de praticidade, já que é muito mais fácil aplicar uma simples maquiagem na mão do ator do que retirar alguns dedos digitalmente. Outra alteração envolve o padrasto de Alyssa: embora saibamos que o homem é pervertido na HQ, não o vemos. Na série, seu personagem é melhor desenvolvido.

Outra abordagem distinta envolve o pedófilo que dá carona à dupla e ataca James no banheiro. Na série, o homem está ao lado de James no banheiro até que pega a mão do garoto e o faz tocá-lo. Na HQ, o homem tenta molestar James dentro do carro, enquanto dirige; a ação acaba quando Alyssa acorda no banco de trás e imobiliza o pedófilo. Pequenas mudanças surgem aos poucos e com menos destaque (na HQ, quem pega Alyssa roubando é um guarda; James não paga para os garotos o agredirem, mas rouba uma garrafa de álcool, o que desencadeia a briga nas páginas)

Duas mudanças interessantes envolvem o espaço e o tempo: a HQ se passa nos Estados Unidos enquanto a série é tipicamente britânica. O show se passa nos dias atuais, enquanto a HQ parece se desenvolver alguns anos no passado. Na HQ, embora sejam outsiders, a dupla parece mais convencional, sendo jovens deslocados, mas um tanto normais. Na série, ambos são consideravelmente diferentes dos demais adolescentes da mesma idade. A Alyssa da TV é muito mais afrontosa, desbocada e valente do que a da HQ, enquanto James é mais sensível na série. Outra alteração considerável é que os jovens são muito mais próximos na HQ, nutrindo um relacionamento amoroso mais explícito, envolvendo mais declarações sobre isso, além de uma cena de sexo, o que não ocorre na adaptação.

O fim…

Na série, após a denúncia do pai e Alyssia, a polícia encurrala a dupla. James diz para Alyssa alegar inocência, jogando toda a culpa para ele. Com isso, foge da polícia, correndo pela praia. Os policiais atiram e, ao som de um disparo, a série acaba. Não sabemos o que aconteceu; não fica claro se James é atingido ou se consegue escapar.

Na HQ, o processo é semelhante: o pai de Alyssa denuncia e a polícia chega ao local. James foge e é perseguido pela policial que era parceira de culto do maníaco. James é atingido por um tiro na perna e cai. A policial/psicopata se aproxima e, com uma faca, corta o rosto de James, bem como os dedos restantes de sua mão machucada. James reage e começa a agredir a mulher. Outro policial se aproxima e pede para que James pare com a agressão. O jovem não obedece e é alvejado. James morre. Depois desta sequência, vemos Alyssa em casa. Ele está deitada na cama, triste. Ela levanta, esquenta um prego na chama de uma vela e escreve o nome de James no braço, provando seu amor ao jovem.

A HQ, diferente da série, tem um final definitivo. A questão é que a primeira temporada segue a HQ à risca. Desta forma, não há mais material para servir de base. A partir de agora, a série segue com as próprias pernas, de forma original. De todo modo, o show pode beber em alguns elementos pouco ou nada explorados, como a psicopata que participa do mesmo culto sádico da vítima do casal.

Antes de a série ser renovada e assistirmos os trailers do segundo ano, consideramos que James pudesse ser capturado, com a nova temporada se desenvolvendo no julgamento da dupla. As ideias eram inúmeras: poderíamos acompanhar Alyssa tentando resgatar James da prisão. Poderíamos ver os jovens sendo inocentados e partindo em busca de novos psicopatas para matar. É possível que vejamos os jovens tentando viver normalmente na cidade. Na época, comentamos que algo interessante seria vermos os adolescentes inocentados dos crimes e tentando levar uma vida sossegada. Com o tempo, uma pessoa amiga do maníaco assassinado poderia surgir, perseguindo o casal em busca de vingança. Seria uma forma de seguir levemente fiel à HQ, além de desenvolver a história com base em fuga e perseguição.

E pelo que vemos no trailer, aparentemente é quase isso que acontecerá. O vídeo sugere que James morreu (mas não aposte nisso) e que Alyssa seguiu com a vida. Enquanto a menina segue aos tropeços, possivelmente inocentada pelos crimes, novas ameaças parecem surgir. Respeitar a HQ e matar James seria uma aposta arriscada, mas corajosa. É preciso tomar cuidado, contudo, pois a trama se baseava – e muito – na dinâmica do casal.

TEOTFW é uma série que se baseia na estrada, e tê-la parada não faz sentido. É preciso ver a dupla – ou Alyssa – em movimento para que a trama aconteça; assim, seria interessante que a personagem da HQ, que faz parte do culto, surgisse para atormentar a vida de James e Alyssa.

Assim, resta esperar para ver o que pode – ou não – acontecer com The End of the Fucking World. A segunda temporada estreia no dia 5 de novembro. Enquanto isso, reveja o primeiro ano, leia a HQ e nos diga o que você acha que pode acontecer no futuro da série.

Leia nossa CRÍTICA da primeira temporada.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.