The Last of Us: 3º episódio será marcado como um dos melhores do ano
Episódio 3 de The Last of Us entregou emoção e levantou interessantes debates sobre vida e amor em um mundo escasso de tais elementos,
Em dezembro, ao compilarmos a lista dos melhores episódios de 2023, “Long Long Time” estará lá. Será lembrado com facilidade e carinho. Isso porque, em seu terceiro capítulo, The Last of Us prova – mais uma vez – sua força. Afinal, qual outra série deixou seus protagonistas de lado para focar em dois personagens desconhecidos logo no início da história?
O terceiro episódio começa um pouco depois do último, com Joel e Ellie lidando com o impacto da tragédia mais recente. Ainda tentando alinhar os passos entre si, a dupla busca se conhecer de um modo trôpego. Em um mundo onde conhecer e aprender coisas novas parece inútil.
Cruzando os Estados Unidos a pé, homem e garota dividem o pouco que sabem através de um vocabulário limitado, quase todo monossilábico.
Onde muitos dizem que é o fim, para outros é o começo
“Long Long Time“, afinal, é sobre insistência. Sobre insistir em perguntar, em conhecer e se permitir. Encapsula, então, aquela que talvez seja a maior mensagem de The Last of Us: seguir buscando motivos para viver e âncoras para se agarrar.
Bill, interpretado com absoluto brilhantismo por Nick Offerman, é um sujeito paranoico que, mesmo antes do apocalipse, vive escondido em um bunker. Sozinho e sem perspectivas, o fim do mundo é apenas uma extensão de sua solidão e falta de propósito.
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Mas e se o fim do mundo for o começo para alguém? Gay, em um mundo que não o aceita, Bill viu em conspirações o sentido absurdo que a própria realidade não conseguia encontrar para coisas simples. É triste, portanto, que ele consiga se abrir e viver sua verdade só depois que a população da Terra fora quase que totalmente dizimada.
Ele, enfim, se permite, enquanto as casas vizinhas se deterioram com o tempo. Enquanto infectados caem em armadilhas dispostas no perímetro.
Relação de Bill e Frank reflete a de Joel e Ellie
The Last of Us prova, assim, alguns dos pontos centrais do desenvolvimento de Joel e sua relação com Ellie. O mundo não é aquilo que acabou com a pandemia fúngica. O mundo é aquilo que construímos a cada momento, com as coisas e pessoas que surgem no nosso caminho.
Bill encontrou sentido na vida quando já havia desistido disso antes mesmo da tragédia. Joel encontra razões para seguir depois de deixar de ser um homem e se transformar em um assassino vazio.
É tocante, por exemplo, que Joel tente mudar o trajeto apenas para que Ellie não encontre cadáveres, algo que poderia traumatizá-la. Igualmente emocionante é a relação entre Bill e Frank, repleta de camadas e detalhes notavelmente desenvolvidas em poucos minutos.
Frank pinta vários quadros daquilo que mais conhece: Bill. Bill apelida os remédios (“laranjinha, branquinho, redondão“) da pessoa com quem mais se preocupa: Frank. Juntos, vivem a vida que jamais teriam em outras condições. A vida perfeita que jamais viveriam se o mundo não acabasse.
Atores brilham em capítulo emocionante
Essa belíssima história de amor poderia não funcionar caso não estivesse nas mãos de dois atores brilhantes: Offerman e Murray Bartlett. Este último, por exemplo, comove com seu bom humor e leveza. Otimista, Frank quer construir seu universo cada vez mais, seja pintando as casas do entorno ou contatando desconhecidos no rádio.
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E Offerman, entretanto, que rouba a cena de The Last of Us. Bill é trágico e complexo. O ator, porém, domina o papel com total habilidade, principalmente por estar acostumado a modular drama e humor em outros papeis. Aqui, Offerman entrega um trabalho riquíssimo, preciso, tanto na voz quanto na expressão corporal.
Note, por exemplo, como ele adota uma postura defensiva após conhecer Frank. Ou então a breve confusão mesclada à vergonha que sente entre a música no piano e o subir de escadas.
Escadas que levaram ao quarto que selou o início daquele amor, bem como o seu fim. Um final embalado pela obra-prima de Max Richter, “On the Nature of Daylight”. Em uma das montagens mais belas que a televisão concebeu nos últimos anos, vemos os minutos derradeiros de suas vidas destinadas a se cruzar.
Através de uma direção delicada e uma fotografia espetacular, “Long Long Time” provou que o fim pode ser belo. Temos apenas que construir o meio e vivê-lo por inteiro.
Nota: 5/5