True Detective: nova temporada tem ótimo começo e promete!

True Detective retorna com Night Coutry, nova temporada com novos mistérios e elenco. Pelo primeiro episódio, temporada pode ser incrível.

True Detective

Em maior ou menor grau, “True Detective” sempre lidou com o sobrenatural, com o etéreo. Seja no niilismo de alguns discursos ou nos símbolos visuais de algumas cenas, a série sempre mesclou com maestria o real e o fantasioso ou inexplicável. É com felicidade, portanto, que constatamos que “True Detective: Night Country” é um retorno às raízes do programa.

O que não deixa de ser curioso, já que “Night Country” não é comandada por Nic Pizzolatto, o criador original do projeto. Issa López assume o roteiro e o controle da série que, agora, chega ao Alasca. No novo mistério, um grupo de trabalhadores de uma estação de pesquisa desaparece. Uma língua é encontrada no chão, moradores enxergam coisas estranhas na solitude da neve e as detetives Danvers e Navarro assumem a investigação do caso.

“Night Country” aos poucos começa a traçar paralelos com outras temporadas de “True Detective”, em especial a primeira. Seja através de pequenas sugestões visuais (círculos, espirais, etc.), de discussões sobre religião ou leves acesos à mitologia. “Night Coutry” é para a franquia algo como “O Despertar da Força” foi para “Star Wars”: um renascimento confortável com suas origens.

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Como não poderia deixar de ser, portanto, seguindo a tradição, temos um grande nome na linha de frente. Jodie Foster lidera o show carregando o peso inigualável de já ter vivido uma das detetives mais icônicas da cultura pop, Clarice Sterling. Aqui, Foster vive uma investigadora que tem décadas de experiências nas costas. Se em “O Silêncio dos Inocentes” ele exalava inteligência jovial e bruta, em “True Detective” ela traz a calma de quem reconhece pontos invisíveis em uma cena de crime.

A presença de Foster, com esta personalidade bem embasada e já reconhecida pela público, ajuda a estabelecer Danvers como alguém confiável ou, no mínimo, interessante. Apesar de parecer uma pessoa difícil, Danvers revela a sua humanidade aqui e ali. Note a conversa dela com a filha no carro. A detetive não mede palavras com a garota, mas é possível perceber que, gradativamente, ela começa a controlar o que diz, para não ferir a jovem ou agravar a discussão.

“Night Country” ainda emula elementos fortes de “True Detective” através de outros elementos, como a música e a edição. Assim como nas temporadas anteriores, “Night Country” também investe em canções fortes que não só embalam a trilha como têm duas funções vitais. Uma é estabelecer o clima da cena (tensão, medo, leveza, etc.) outra é sugerir o tema da sequência através da letra da música.

“Night Country” é belo aceno e remodelagem às reízes da franquia

Além disso, a edição aposta nas idas e vindas no tempo, algo comum em todas as temporadas até então. Antes, entretanto, as mudanças na cronologia eram mais complexas e sutis. Em “Night Coutry” as viagens são mais diretas e claras. Por exemplo: Danvers começa a relatar um caso antigo e, ao mesmo tempo, cenas do tal caso surgem na tela. Com isso, parece que a nova temporada será mais objetiva em sua linha temporal. O que não impede sua narrativa de ser complexa e multifacetada.

Este, aliás, é um dos melhores elementos da nova temporada. Não só o mistério central é interessante e bem estruturado, como todos os personagens tem backgrounds sólidos. Não só: há pequenas cenas e diálogos que aparentemente servem apenas para enriquecer o contexto geral da história. Pegue, por exemplo, as cenas envolvendo Stacy, a mulher alcoolizada. Sua presença no episódio não avança a trama, mas enriquece os personagens.

Note a cena em que Danvers vai impedir que seu colega de trabalho liberte Stacy, que grita incansavelmente na cela. Nesta breve cena podemos capturar informações importantíssimas sobre alguns personagens. Em poucos minutos vemos que Danvers é líder do lugar, firme em suas ordens e pouco delicada nas palavras. Por outro lado, através dos comentários da detetive, fica estabelecido que Hank Prior pode não ser um homem confiável, alguém que esconde segredos. Nesta perspectiva ainda, vemos como Peter, jovem policial do distrito, fica diminuído e incomodado com a situação. Afinal, Danvers é sua chefe e Hank é seu pai.

“True Detective Night Coutry”, portanto, acerta em cheio naquilo pelo qual a franquia ficou famosa: apesar do mistério, são as pessoas que fazem uma boa história. Ao criar tantas camadas para a investigação, investigadores, vítimas e suspeitos, “Night Country” já começa prometendo uma temporada estupenda.

Nota: 4,5/5*

*PS.: só não darei nota máxima porque aqueles animais em CGI no início foram duros de engolir. Cena é tão porca que deveria ter ficado de fora da versão final. Sorte que o que vem depois compensa tamanho tropeço.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.