Um Marido Fiel: suspense chato é cópia barata de filmes melhores

Suspense enfadonho, Um Marido Fiel se leva muito a sério e tenta copiar filmes melhores. Resultado é duvidoso e esquecível.

Um Marido Fiel

Quem é do Brasil e já tem alguns anos nas costas deve ter ouvido, em algum momento, que um filme era “típico do Supercine”, ou um “suspense tipo Supercine”. Isso porque há alguns anos, na Globo, uma sessão de Cinema chamada Supercine exibia, em grande parte, suspenses medianos, semelhantes entre si. Às vezes até encontrávamos algo interessante, mas geralmente era uma thriller barato metido a inteligente. Assim como Um Marido Fiel, novo título da Netflix.

Não que o lançamento dinamarques da plataforma seja uma desastre. Há coisas piores no catálogo, mas Um Marido Fiel decepciona por se levar muito a série. Com uma trama estapafúrdia e um elenco fraco, o filme poderia seguir dois caminhos: o da galhofa, com bastante humor, ou o erotismo, com muita nudez e s*xo. O problema é que o longa acha que tem grife e investe numa sisudez que em pouco ou nada lhe favorece.

Um Marido Fiel mira em Garota Exemplar e acerta na novela mexicana

É impossível, por exemplo, não lembrar de Garota Exemplar. Na obra de David Fincher tínhamos uma porção de absurdos, mas tudo era costurado com inteligência e gabarito técnico e narrativo. Um Marido Fiel, por outro lado, já começa derrotado, arrastando-se com sofreguidão até determinado momento da narrativa. É no plot twist, então, que o filme ganha um pequeno respiro.

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Sem entregar spoilers, basta dizer que algo acontece pouco antes da metade e isso injeta certo gás na história. É aqui, portanto, que o longa se aproxima de Gone Girl. Estabelece-se, então, uma guerra entre marido e mulher. Nesse jogo de rato e rato, um leva o outro a cometer erros e crimes de modo que, no fim, ambos estejam tão sujos que seria impossível apontar manchas no outro. 

Falta muita coisa para manter o interesse do público

O conflito do casal até poderia envolver caso a dupla central fizesse um bom trabalho. A questão é que Leonora é uma vilã exagerada, com pouca ou quase nenhuma nuance, enquanto Christian é um homem tolo, fútil. É difícil acreditar ou vibrar com o duelo sendo que ambos são desinteressantes e não parecem estar em pé de igualdade. É uma lástima, então, que os atores caiam em armadilhas e não se esforcem o mínimo para tornar os personagens mais complexos.

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Até suspenses fracos como Águas Profundas, com Ben Affleck e Ana de Armas, funciona melhor. Ou mesmo The Voyeurs, da Prime Video. Em ambos, há uma forte carga de incerteza, ameaça e erotismo, o que garante, pelo menos, dois ou três pingos de atenção. Em Um Marido Fiel, entretanto, não há nada que desperte interesse ou que nos convide a ficar. Nem sequer o final, que também segue as normas de velhas cartilhas do gênero. 

Caso passasse no Supercine, muita gente teria dormido na metade.

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.