Vai Na Fé é a novela das 7 que o Brasil precisava

Se existe algo que move o brasileiro é a fé. E, quando digo Fé, não estou falando exclusivamente de um sentimento religioso. A palavra Fé, no dicionário, significa “confiança absoluta”, sendo este sentimento que permeia a vida de milhões de cidadãos que buscam dias melhores.

O Brasil veio de uma onda intensa, que nos últimos anos pode ter abalado a fé de muitos. Mas se existe algo que pode definir o brasileiro é a persistência. E eis que surge Vai Na Fé, uma novela que se propõe a discutir em horário nobre na TV aberta, algo que o brasileiro tanto necessita neste momento.

Como o próprio nome aponta, Vai Na Fé tem como tema justamente esse tópico. A busca de dias melhores, da esperança em que as coisas vão dar certo, mesmo com todas as adversidades.

E mesmo sem querer, Vai Na Fé pode contribuir para isso, uma vez que o brasileiro também carecia de entretenimento de qualidade neste horário. Ao conferir a novela, o sentimento que fica é que Vai Na Fé é um excelente incentivo para acreditar de que as coisas vão dar certo.

Novela resgata essência de uma boa história

O que faz uma novela dar certo? São muitos os elementos. Cada produção, em sua faixa, tende a ir por um caminho que por vezes gera acertos, e vezes também gera erros. Mas se existe algo que quase nunca falha é trazer elementos que faça o público se identificar.

É justamente esse o caminho que Vai Na Fé aponta seguir. Um feito que muitas novelas da década de 1980 e 1990 souberam alcançar muito bem. Dessa forma, Vai Na Fé sabe resgatar a essência de uma boa história, e ela tem tudo para marcar o horário das 7.

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Mas também não tinha como ser por outro caminho. Para uma novela que quer discutir a fé do brasileiro, e a esperança de dias melhores, é necessário falar a linguagem que todos entendem, e mostrar o cotidiano que muitos de nós brasileiros enfrentamos diariamente.

A protagonista de Sheron Menezzes, por exemplo, é a prova disso. Mesmo que Sol pareça idealista demais, suas lutas diárias são reflexos da luta do brasileiro, que precisa levantar cedo para buscar o “pão nosso”, muitas vezes sem saber se vai voltar pra casa com o dinheiro da janta.

Vai Na Fé acompanha a história dessa protagonista, que vende quentinhas para colocar dinheiro dentro de casa. Sustentando uma família com suor do seu trabalho, enquanto seu marido – com características um tanto machistas – fica dentro de casa se lamentando por seus fracassos.

A história de Sol, na verdade, vai muito além quando vemos outros elementos na sua trama, incluindo o trabalho informal que atinge tantos brasileiros, que precisam “se virar nos 30” para conseguir um dinheiro no fim do dia.

A novela até suaviza algumas situações, que na vida real sabemos ser bem menos romântica do que a realidade de Sol. Mas tudo serve em prol do entretenimento de qualidade, que como disse, o brasileiro está necessitando.

Direção acerta ao casar a história do passado e do presente em Vai Na Fé

A história de Sol, sem o espectador imaginar, cruza com praticamente todos os protagonistas da trama. E isso vem sendo explicado pela excelente direção, que sabe mesclar cenas do passado e do presente de forma tão natural, que se torna essa uma característica importante e bonita de se apreciar em Vai Na Fé.

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Considerada “princesinha do funk” de outrora, Sol acaba se deparando com o caricato Lui Lorenzo (José Loreto) que precisava justamente de uma dançarina no dia em que ela foi entregar quentinhas no teatro em que ele ensaiava. A oportunidade foi de ouro, uma vez que a família de Sol precisava do dinheiro para pagar contas.

O único fator, entretanto, é que Sol é de uma família religiosa, e mesmo com pano de fundo, a religião parece ser um vetor interessante que Vai Na Fé irá seguir. Será através dela que o texto pretende vencer muitos preconceitos, sendo este é um feito incrível. Ou seja: poder juntar diversos nichos, em prol de uma sociedade melhor.

Então, enquanto Vai Na Fé mostra o passado de Sol, vemos que ela já cruzou o caminho de Ben, protagonista que o ator Samuel de Assis vive no presente. Aliás, Assis parece extremamente confortável no papel de protagonista, expressando um ar “gente boa” que todo o mocinho necessita.

Só que o diferencial é que Ben não é inocente quanto aparenta, e seu personagem pode ter ótimas oportunidades à medida que a novela avançar, quando um embate com o personagem de Emílio Dantas efetivamente surgir em tela.

Até o momento, porém, os protagonistas não se encontraram no tempo presente. Mas já é possível imaginar que Sol e Ben vão apresentar uma “química de milhões”. E isso só torna a expectativa de acompanhar a saga destes personagens ainda mais interessante.

Vai Na Fé sabe tocar em temas sociais importantes

É necessário falar que tudo isso vem com base em uma história extremamente social, com camadas de conflitos socioculturais, que vemos no dia a dia. A expectativa da autora Rosane Svartman, aliás, parece ser bem alcançada ao mostrar uma pluralidade de Brasil que por vezes carece em obras da casa.

Mas uma coisa que me chamou atenção é como que a autora usará a história da filha de Sol, Jenifer (Bella Campos), para mostrar algumas injustiças que muitos brasileiros sofrem. Jenifer está na faculdade de Direito, e lá ela se depara com muitos ricos que vivem uma realidade completamente diferente da sua.

Há uma nitidez na forma como os personagens de diferentes classes são escritos, constatando o que há de pior no preconceito e na falta de oportunidade para os pobres. O personagem Yuri (Jean Paulo Campos) também se destaca, já no segundo capítulo, quando é preso simplesmente por ser negro.

Debater esses pontos falhos da sociedade é algo necessário, importante e fundamental para que obras como essa, com um alcance como este, tentem inspirar uma sociedade melhor.

Como a fala de Sol para a filha, ainda no primeiro capítulo: “Você vai mudar a história nossa família, e vai ser com estudo”. Quer incentivo melhor do que mudar a vida com o estudo? Buscar uma sociedade melhor através da educação. Em um momento crítico em que o Brasil se encontrava, a educação parece ser a peça-chave para a busca de dias melhores. Vai Na Fé sabe disso e vai explorar tal fato muito bem.

Vai Na Fé é a novela que precisávamos – e nem sabíamos

Acredito que Vai Na Fé tem tudo para conquistar o público. Ela sabe se identificar com a história de diversas camadas da sociedade e, principalmente, dialoga bem com o público que se propõe a sentar diariamente na frente da TV para tentar escapar dos problemas do dia a dia.

Essa fuga diária, ao mesmo tem que irá entreter, também vai bater em pontos importantes. É assim que a sociedade evolui. Vai Na Fé sabe o papel importante que tem na sociedade, na medida em que os autores têm a consciência da imensidão de público que poderá dialogar diariamente.

A resposta, aliás, já veio nos primeiros capítulos. A estreia de Vai Na Fé, no horário das 7, registrou, em São Paulo, 22 pontos e 37% de participação, o que representa um aumento de +1 ponto (+5%) de audiência e +2 pontos de participação, em comparação com a média da faixa das 4 semanas anteriores.

No Rio de Janeiro, a estreia registrou 24 pontos e 42% de participação, e, no Twitter, #VaiNaFé ficou em 1º lugar nos TTs Brasil.

Cheiro de sucesso e de produto de qualidade, Vai Na Fé, portanto, é a novela que o brasileiro precisava em 2023 e nem sabia. Que esse sucesso perdure ao longo dessa trajetória! Estou depositando minha fé nisso!

Nota: 5/5

Anderson Narciso

Criador do Mix de Séries, atua hoje como redator e editor chefe do portal que está no ar desde 2014.Autor na internet desde 2011, passou pelos portais TeleSéries e Box de Séries.Fã de carteirinha de Friends, ER e One Tree Hill, é aficionado pelo mundo dos seriados. Também é fã de procedurais, sabendo tudo sobre o universo das séries Chicago, Grey's Anatomy, entre outras.

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