Crítica: 2×11 de The Good Fight discute (com inteligência) as áreas cinzentas do #MeToo

Review do décimo primeiro episódio da segunda temporada de The Good Fight, da CBS All Access, intitulado "Day 478".

The Good Fight, Day 478, The Good Fight 2x11
Imagem: CBS All Access/Divulgação
The Good Fight, Day 478, The Good Fight 2x11
Imagem: CBS All Access/Divulgação

Nós precisamos falar sobre Diane.

Desde a clássica cena da abertura do Series Premiere em que Diane observa com inconformismo Donald Trump tomar posse como presidente, sabia que a personagem seria bem diferente daquela que acompanhamos durante sete anos em The Good Wife. Essa transformação não deve ser encarada como um defeito, muito pelo contrário. Além de mostrar o quão dinâmica é a sala dos roteiristas comandada pelo casal King, temos a oportunidade de ver no papel uma personificação de grande parte da população americana.

Durante os oito anos de Barack Obama esteva sóbria, realizada e feliz com a perspectiva de futuro com Hillary Clinton na presidência, mas após 2016 viu o mundo virar do avesso. Em Day 478 posso dizer que a versão Trumpiana de Diane está completa.

The Good Fight, Day 478, The Good Fight 2x11
Imagem: CBS All Access/Divulgação

Enquanto Adrian (Delroy Lindo) se recupera no hospital, Diane e Liz precisam comandar o escritório até que Boseman esteja pronto para retornar. Enquanto isso, elas assumem um caso controverso. Nada de defender pedófilo ou traficante de drogas. O caso aqui é de uma mulher que acusa um homem de assédio sexual. De acordo com a mulher, que compartilhou sua “experiência” num site bem acessado, ele teria pressionado-a a fazer coisas que ela não queria. Já na versão do homem, ele afirma que apenas correspondeu aos sinais da moça. Eles estavam bêbados, cansados, com o julgamento um tanto obscuro e uma dificuldade enorme de definir “consentimento”. Algo perfeitamente comum se você decidir aproveitar a noite qualquer dia desses.

Aziz Ansari, o tribalismo e nosso principal desafio.

Tenho que ser honesto quando vocês. Quando foi anunciado que The Good Fight tinha se inspirado na lambança envolvendo o ator Aziz Ansari para a problemática de um episódio, pensei que ele já tinha ido ao ar uma vez que já falamos sobre assédio sexual no passado. Curiosamente, Day 478 foi responsável por tocar o dedo na ferida e forçar uma conversa indigesta, porém necessária. Isso porque, há uma diferença entre assédio e estupro para uma noite não tão boa com um sexo ruim. Mas com o sistema inquisitório que o #MeToo trouxe, tudo parece ser a mesma coisa. Há uma clara diferença entre Harvey Weinstein, Charlie Rose e Matt Lauer para Louis C.K. e Ryan Seacrest.

Mas quando todos são colocados na mesma caixinha, o que acontece a partir de agora? Nós jogamos o devido processo legal pela janela? Mas se o homem continuar empregado, isso não significa que desacreditamos na palavra da moça? É complicado.

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Por isso o roteiro colocou duas mulheres defendendo um suposto assediador. Percebe o desafio? Pois bem, embora não me sinta confortável em fazer juízo de valor acerca da problemática proposta, vejo que o texto acertou mais uma vez no tom ao não fugir das polêmicas, das discussões difíceis e da melhor parte: o embate entre duas gerações de mulheres. Daquelas que vêem em Hillary Clinton uma desafiadora de barreiras, das outras que enxergam a ex-candidata como a protetora de um predador sexual, Bill Clinton.

O desafio do roteiro é tão delicioso que após ouvir os dois lados, o telespectador pode escolher qual posição confere com seu ponto de vista. Expõe-se o tribalismo, a dificuldade em saber exatamente o que aconteceu naquele apartamento e qual geração de mulheres pode ser vista como “a mais feminista”. Uma conversa como essa é boa não só para curar as feridas, mas também para criar um caminho mais seguro e próspero para todos.

É pela classe média, disseram eles.

Se você teve a paciência de acompanhar a discussão em torno da reforma fiscal que os republicanos aprovaram de forma relâmpago em 2017, vai saber que a ideia do partido (e do Presidente) era de ajudar a classe média. Aqueles eleitores de Donald Trump que foram esquecido pelo governo Obama. Agora, eles teriam aumento de salário e mais prosperidade. Correto? Errado. Usando humor negro, The Good Fight mostrou o porquê com um diálogo delicioso entre o Diane e seu contador. É impressionante como o tom é suave, mas a crítica não poderia ser mais agressiva e direto no ponto. Como que uma advogada rica de Chicago poderia se beneficiar de um corte de impostos para os mais pobres? O Vox explica de uma forma bastante didática.

Com dois episódios até a Season Finale, é impressionante imaginar a temporada que essa série nos apresentou. Mais madura, agressiva e deliciosamente ousada. Vamos de assédio, para racismo, passando por brutalidade policial até chegar num júri ser influenciado por fake news.

Pela promo (abaixo) é possível inferir que algo grande está por vir. Ou melhor, algo muito grande e bombástico. Preparados? Até semana que vem.

Obs: Citado em alguns diálogos, Roy Moore, é um ex-candidato ao Senado do estado do Alabama que perdeu em 2017 após ser acusado de assediar crianças de 14 anos quando era juiz. Visto como pedófilo, o ex-juiz fez com que um democrata vencesse uma corrida estadual pela primeira vez desde 1992.

https://www.youtube.com/watch?v=ncsAKHdjzSY

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Bernardo Vieira

Meu nome é Bernardo Vieira, sou catarinense e tenho 25 anos. Sou bacharel em direito, jornalista e empreendedor digital. Escrevo no Mix de Séries desde janeiro de 2016.Sou responsável pelas colunas de audiência e Spoiler Alert, além de cuidar da editoria de premiações e participar da pauta de notícias. Quer saber mais? Me pague um café e vamos conversar.

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