Crítica: 2ª temporada de Jack Ryan prioriza ação em trama na Venezuela
Crítica da segunda temporada de Jack Ryan, série inspirada pelo personagens de Tom Clancy e produzida pelo Amazon Prime Video.
Jack Ryan está de volta!
Jack Ryan, ou simplesmente uma das melhores séries de 2018, retornou após mais de um ano sem episódios inéditos. Mas a espera valeu a pena?
A nova temporada, disponível no Amazon Prime Video em oito episódios, trouxe uma nova dimensão para os fãs que curtiram a primeira leva, mas ao mesmo tempo manteve aspectos que agradaram em cheio ao público. Assim, podemos dizer que Jack Ryan deu um foco maior para a ação em seu segundo ano. Porém, ela acabou escorregando em outras questões que podem comprometer o futuro da série.
Novas ameaças em solo internacional
Uma das questões que mais havia me chamado atenção no trailer da segunda temporada é que a série prometia colocar o centro da história novamente em solo internacional. Mais especificamente na Venezuela. As expectativas, neste sentido, foram atendidas uma vez que grande parte da trama se passa lá.
Na história de Carlton Cuse e Graham Roland, Jack Ryan (John Krasinski) tenta a todo custo combater uma ameaça, enquanto ele mesmo tenta entender que o Estados Unidos em muitos sentidos é o seu pior inimigo. A Venezuela chega na história sendo governada por um Presidente bastante autoritarista, colocando ele como um dos culpados do agravamento da crise socioeconômica que o país enfrenta há anos. De fato, o país latino-americano possui hoje um dos maiores índices de desemprego, fome e outras questões extremamente agravantes. Mas aqui, a história não se preocupa muito em aprofundar esses detalhes que casam com a realidade: o texto quer mesmo é mostrar que o país norte-americano está disposto a se meter em tudo quando a sua própria economia está ameaçada por essas questões internacionais.
É louvável ainda que a nova temporada de Jack Ryan opte por representar a ganância das potências americanas, que é sempre uma ameaça maior. Mas é uma pena que a série sucumba às armadilhas de ser uma trama de espiões de ação, por meio de uma audaciosa missão de resgate no final da temporada, fazendo com que o seu objetivo principal seja perdido ou confuso.
Trama interessante
A temporada, sem dúvidas, começa com uma história envolvente. O primeiro episódio começa com James Greer (Wendell Pierce), ex-chefe de Ryan e agora vice-chefe da unidade da CIA em Moscou, olhando para um lançamento de míssil que ele acredita ter algo a ver com a Venezuela. Greer está sofrendo de uma doença cardíaca e precisou negociar sua transferência para a capital Caracas. Enquanto isso, Ryan (Krasinski), que agora trabalha para um senador dos EUA, descobre que a Rússia pode estar vendendo armas para a Venezuela. Como parte de uma missão diplomática, ele se encontra com o presidente Nicolas Reyes (Jordi Mollà), que nega qualquer envolvimento, naturalmente. E as coisas mudam para complicado depois que um membro da delegação dos EUA é assassinado.
Greer oferece ajuda com uma equipe de operações para investigar, sem o aval da equipe local da CIA liderada por Mike November (Michael Kelly). Enquanto isso, uma misteriosa agente do BND – o equivalente alemão da CIA – chamada Harriet “Harry” Baumann (Noomi Rapace) complica as questões para Ryan, tanto no pessoal quanto profissionalmente. Mas a personagem feminina que mais tem presença não tem qualquer vínculo com Ryan: trata-se de Gloria Bonalde (Cristina Umaña), uma política populista que é a principal rival de Reyes, e concorre a Presidência.
Pronto, o território está armado. Mas o funcionamento dela, durante os episódios seguintes, é um tanto questionável. A história se inicia como uma visita pacífica, se transforma em uma perseguição pessoal e, na reta final, acaba tornando-se uma disputa de egos. Em certo ponto da temporada, é inevitável se perguntar “o que está acontecendo?”, uma vez que a cada episódio o problema inicial é distanciado dando lugar a operações de resgate, conflitos na embaixada americana, entre outros..
Desenvolvimento da segunda temporada de Jack Ryan
Jack Ryan é uma série bastante carismática, com personagens envolventes e tramas bem chamativas. Mas em determinados pontos ela acaba sendo vítima da própria temática, que dá destaque a um espião, branco, que se torna especialista em praticamente tudo que encontra. Poderia ser charmoso há 30 anos atrás, mas hoje em dia não funciona muito bem. No primeiro ano, aceitamos ele ser especialista nas questões internacionais envolvendo a Síria, mas desde quando ele sabe tudo sobre a Venezuela? Assim, o roteiro parece ser conveniente em muitos momentos, transformando algumas cenas em encontro de diálogos superficiais.
Outro problema é como os Estados Unidos posa e decola, ataca ou tenta se disfarçar em um local que não lhes convém. Isso, sem dúvidas, seria considerado ato de guerra na realidade. Fora que um cara como Krasinski que tem mais de 1m80cm se destaca em um local onde a média é 1m50cm. Assim, não tem como ele ficar passando despercebido, roubando chaves ou se infiltrando como a série mostra. Se a série quer ser realista, é necessário se atentar a estes aspectos que não passam tão batidos assim – até mesmo por um espectador mais leigo.
Boom, boom, boom: ação a todo momento
Se existe algo, porém, que os fãs não podem reclamar é da falta de ação. Praticamente em todo episódio temos ótimas cenas que recheiam a trama. No primeiro, por exemplo, Ryan participa de uma perseguição de carro bem intensa. Ou mais no meio da temporada, persegue o principal assassino da temporada pulando de telhado em telhado, no meio da Londres lotada durante o dia. Ponto para a equipe e produção que, neste aspecto, tornou a série ainda mais certeira. Além disso, as cenas não são tão aleatórias e cabem dentro da trama, sendo jogadas de forma necessária.
Gostaria de dizer o mesmo de algumas subtramas que, aparentemente, foram ignoradas. E aqui vem um questionamento: por que aprofundar em alguns personagens se eles não terão qualquer função relevante na trama? Isso faz com que Jack Ryan perca tempo de tela e torne os episódios arrastados em alguns pontos.
No final, a trama faz sentido e é o que suspeitávamos. Porém, ao mesmo tempo, ela consegue inserir uma reviravolta inesperada (que analisada de perto, nem era tão inesperada assim). As linhas finais colocam Ryan em um caminho incerto, que deverá embalar a já confirmada terceira temporada. Mas a série precisa se policiar em muitos quesitos. Embora ela tenha sido mais atraente que a primeira temporada, os novos episódios cometerem problemas que em futuro próximo poderá transformar a produção do Amazon em algo insignificante, em uma era de extensa produção das séries de TV.
Torcemos, assim, que Jack Ryan não caia nas armadilhas criadas por ela mesmo. Mas isso só o tempo dirá…