Crítica: 2ª temporada de Altered Carbon desapontou e não valeu a espera de dois anos
Crítica da segunda temporada da série Altered Carbon, da Netflix. Produção demorou dois anos para ser lançada mas não agradou; confira.
Netflix demorou dois anos para entregar sequência de Altered Carbon
Quando foi lançada em fevereiro de 2018, na Netflix, Altered Carbon chamou atenção por sua trama futurista e estética cyberpunk. Ambientada em um universo onde a humanidade reinventou os conceitos de vida e morte através da “digitalização da consciência”, a série de ficção baseada na obra Richard K Morgan parecia promissora.
No entanto, não foi bem isso o que os fãs encontraram após dois anos de espera. A segunda temporada, lançada no dia 27 de fevereiro, de modo geral, desaponta aqueles que apostaram no enriquecimento e na evolução da série. Os novos oito episódios não são totalmente ruins, mas desperdiçam a chance de elevar a série a um patamar único entre as produções do gênero.
Novo protagonista tenta emplacar série para o grande público
A escalação do astro Anthony Mackie para o principal papel da série já mostrara a estratégia dos produtores em mirar no grande público. Na nova pele – ou melhor, na nova capa – de Takeshi Kovacs, Mackie trouxe seu carisma e alta performance para as novas e intensas cenas de ação da temporada.
Mas essa mudança pode não ser tão positiva assim. Para todos os efeitos, Kovacs ainda é o mesmo do interpretado por Joel Kinnaman na primeira temporada. A versão de Mackie parece ter sofrido alterações na personalidade, o personagem está menos sisudo, levemente mais bem humorado. Essa incoerência pode incomodar alguns e causar uma constante e desnecessária comparação.
Os novos episódios dão continuidade aos acontecimentos da primeira temporada. Desta vez, Kovacs é reencapado para servir como guarda-costas de um importante executivo em troca de pistas do paradeiro da sua amada Quellcrist Falconer (Renée Elise Goldsberry).
Mas os planos começam a der errado quando o cliente de Kovacs é assassinado antes mesmo que ele pudesse entrar em ação. Isso desencadeia uma nova e complicada conspiração política envolvendo a “resistência” e o Protetorado, o que leva nosso personagem retornar ao Harlan, seu planeta de origem. Lá ele acaba reencontrando seu parceiro/inteligência artificial, Poe, e uma nova, mas não tão amistosa nova amizade, a caçadora de recompensas Trepp (Simone Missick).
Altered Carbon peca ao apostar em clichês e não ousar
Apesar de trazer novidades e detalhes sobre o fantástico universo das capas e stacks, a nova temporada se apega à plots clichês para atrair o grande público. Kovacs, um super soldado de elite, é transformado em um homem apaixonado capaz de qualquer coisa para encontrar o seu grande amor. Além disso, Poe – o leal assistente virtual de Kovacs – trilha uma jornada de sacrifício e autoconhecimento.
Há ainda uma dúbia e às vezes entediante batalha de “bem vs mal” travada entre os políticos de Harlan – representados pela ambiciosa Danica Harlan (Lela Loren) e a força militar liderada pelo Colonel Ivan Carrera (Torben Liebrecht).
A emoção demora, mas chega em Altered Carbon
Tudo isso faz com que a primeira metade da segunda temporada seja maçante e pouco interessante. Só apenas a partir do quinto episódio, a trama começa a fluir e as incríveis cenas de ação tomam conta da tela, empolgando o espectador. Quando Kovacs e Quell finalmente se unem em torno do mesmo objetivo, a história ganha fôlego e é possível ver o mesmo brilho da temporada de estreia. Talvez esse seja o novo caminho a ser trilhado pelos roteiristas para tornar a série um título popular: mais ação e menos diálogos.
O visual dos cenários futuristas e apocalípticos da série continuam tão incríveis como na primeira. As incríveis habilidades e detalhes atribuídos aos corpos sintéticos da nova humanidade são sempre convincentes e bem explorados.
Vale ressaltar ainda a trajetória de Poe, que apesar de um tanto repetitiva, também ganhou um desenvolvimento interessante e consagra o personagem como um dos mais interessantes – e ironicamente o mais “humano” – da série.
A série mais uma vez encerra seu arco final de maneira satisfatória, mas com aquele gostinho de poderia ter sido muito mais. Em uma narrativa onde vida e morte possuem novas interpretações, existem também inúmeras formas de inovar e surpreender um público sedento por novidades. Ora comparada com o clássico Blade Runner, Altered Carbon parece ter escolhido o caminho dos blockbuster, visando popularidade ao invés da relevância.
O desfecho também deixa aberta a porta para que um novo protagonista assuma o comando da série, caso a mesma seja renovada. Resta saber se as mudanças executadas refletirão na audiência. De toda maneira, fica aqui registrado que um possível cancelamento não será uma total surpresa.