Crítica: Ratched, da Netflix, é um desastre completo
Ratched é um dos desastres mais vergonhosos da história da Netflix e de Ryan Murphy. A coisa é tão ruim que erra até onde pode acertar.
Ratched é tão ruim que erra até onde poderia acertar
Ratched é um desastre. Não sou muito fã de Ryan Murphy. As melhores séries de Murphy são aquelas que não são realmente dele. American Crime Story é produzida pelo sujeito e Pose foi originalmente criada por outra pessoa. A irregularidade do produtor é tanta que já virou até meme. Uma produção de Ryan Murphy é sinônimo de algo que começa bem e termina muito, muito mal.
O problema é que Ratched já começa terrível, o que me impede de imaginar como seria o final, já que seria humanamente impossível ficar pior do que isso. Inspirado em personagens do clássico Um Estranho no Ninho, o projeto acompanha a enfermeira Ratched em seus primeiros dias em uma clínica. Lá, e em sua vida privada, descobrimos suas assustadoras facetas.
Ratched tem um dos piores usos de trilha sonora que se tem notícia
Utilizando as caras de sempre (os elencos de Murphy não mudam), a nova série da Netflix erra até nos elementos que são minimamente decentes. A direção de arte e os figurinos, por exemplo, são demolidos por um péssimo uso de cor, que ressalta alguns tons e apaga outros. Entende-se aqui a intenção do criador: mimetizar os clássicos de Hollywood, do Technicolor. O problema é que a intenção fica pelo caminho graças a uma execução trôpega. Assim, evidencia-se os exageros: as cores chamativas, as perucas horrendas, o som estranhíssimo.
Até o trabalho de mixagem de som, algo que geralmente não notamos ou comentamos, é uma bagunça, com linhas de áudio muito mais altas que outras. E se estamos falando de som, o que dizer do péssimo uso de trilha sonora? Ratched tem um dos piores trabalhos com música que consigo recordar. A trilha é incessante, altíssima, enervante. Uma enorme orquestra toca em momentos absurdos: um carro está estacionando e uma música de suspense ecoa como se fosse o sequência mais tensa da história. Novamente compreende-se a intenção: homenagear as trilha pomposas de antigamente. Ainda assim, temos várias lendas do passado se revirando no túmulo.
Ryan Murphy segue achando que tem estilo, mas só tem manias
Tudo fica ainda pior com a direção vergonhosa de Ryan Murphy. O sujeito acha que tem estilo, mas a única coisa que possui são manias, excessos. Note que ele usa os mesmos enquadramentos e movimentos de câmera que já cansaram em American Horror Story, Feud, Pose todas as suas produções. Perceba, ainda, que ele adota o mesmo estilo e abordagem visual sem se importar com o gênero: dramas, comédias e horror possuem o mesmo apelo estético, o de pesadelo megalomaníaco.
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Numa bagunça sem tamanho, nem mesmo Sarah Paulson tem um bom desempenho (estaria sendo prejudicada pelo excesso de trabalho com Murphy? É possível. A metástase é violenta). Fica o gosto amargo de uma obra que não conseguiu sequer despertar a vontade de assistir o material original, que venceu o Oscar de Melhor Filme. Agora, toda a vez que assistir o clássico de Milos Forman com Jack Nicholson, lembrarei deste fiasco de Ryan Murphy.