Crítica: Love, Death and Robots tem 2ª temporada curta, mas excelente
Love, Death and Robots chega ao seu segundo volume com menos episódios, mas muito mais coragem. São oito capítulos de altíssimo nível.
Love, Death and Robots retorna para uma excelente segunda temporada
Depois de uma gloriosa temporada de estreia, com 18 episódios que exploravam os limites da animação, Love, Death and Robots retorna para mais um conjunto de histórias. Desta vez, entretanto, temos menos da metade dos capítulos que recebemos há dois anos. Agora, oito curtas animados preenchem o segundo volume da saga produzida por David Fincher (House of Cards, Mindhunter) e Tim Miller (Deadpool). O resultado, embora decepcione pelo baixo número de novidades, é positivo, já que segue testando técnicas visuais e narrativas para romper barreiras do gênero. Neste sentido, é como se o segundo volume de Love, Death and Robots fosse mais ousado em suas narrativas e mais enxuto em seus vícios.
Pois apesar de excelente, aqui e ali a primeira temporada da série pecava pelo excesso. Seja por muita nudez, muito sangue ou muito conceito, o volume inicial trazia alguns episódios deslocados da excelência apresentada pela maioria. Desta vez, com um grupo bem menor de histórias, é nítida a intenção de fazer todos os episódios valerem a pena. Com isso, não há espaço para gastar; não há o capítulo perdido apenas para cumprir tabela ou testar estilos. Cada segundo conta e o novo volume não perde tempo para apresentar personagens e explorar visuais ainda mais impactantes que os anteriores.
Netflix propõe diferentes ordens para usuários
Como a Netflix já havia feito com a primeira temporada, o segundo volume é apresentado em ordens diferentes para os usuários da plataforma. À época do lançamento da série, a empresa afirmou que as ordens distintas eram um teste, uma decisão puramente experimental que levava em conta a duração dos episódios e a localização dos espectadores. Desta vez, a ordem também varia e, por isso, comentaremos os capítulos seguindo o que consta no IMDb.
Para muitos, o primeiro episódio será Automated Customer Service, e esta será uma maneira agridoce de retornar à tão aguardada segunda temporada. Isso porque o capítulo, baseado em um conto de John Scalzi, apela para a comédia e para o visual caricatural. Logo, quem espera um grande fotorrealismo ou uma trama inventiva, se decepcionará ao encontrar uma velhinha lutando contra um aspirador do mal. O roteiro é bem intencionado e tem alguns momentos engraçados, mas fica abaixo do esperado, principalmente quando comparado aos demais episódios da temporada.
Série segue visualmente impecável
Em seguida, somos apresentados a Ice, produzido pela mesma equipe de Zima Blue, um dos mais ousados e interessantes capítulos do primeiro volume. Altamente conceitual, o episódio já acerta ao conseguir apresentar diversos elementos em tão pouco tempo. Na trama, dois irmãos possuem desavenças porque um é geneticamente modificado e o outro não. Em um planeta onde todos os jovens possuem alguma habilidade sobre-humana, o protagonista sofre por ser um adolescente normal.
Mas ele tem a chance de se destacar durante uma arriscada aventura do irmão e seus amigos. O visual é o mesmo de Zima Blue e, por isso, se destaca entre os demais. Brincando com luzes e sombras, o episódio enche os olhos enquanto desenvolve uma densa e interessantíssima mitologia. Ao chegar ao fim, queremos revisitar aquele universo e saber mais sobre o mundo e seus personagens. Este é, afinal, o maior acerto de uma história curta inserida em uma antologia.
Na sequência, Pop Squad abraça sem medo o estilo que deixou o público de queixo caído no primeiro volume. Com um fotorrealismo assustador, Pop Squada aproveita para explorar cada detalhe de seus personagens e deslumbrantes cenários. Numa competente mistura de Blade Runner 2049 e Altered Carbon, o curta é uma ficção científica poderosa, carregada de crítica social e elementos noir. Na trama, um homem é responsável pelo controle populacional, mas está cansado de tantas mortes e dor. Assim como Ice, Pop Squad apresenta uma mitologia promissora e gigantesca em pouquíssimo tempo e de forma econômica e eficiente. Renderia um filme ou série com facilidade.
Diferentes estilos de animação compõem a bela galeria de episódios
Seguindo o estilo fotorrealístico, a equipe de Beyond Aquila Rift retorna para Snow in the Desert. E o resultado narrativo e visual não poderia ser melhor. Na trama tipicamente sci-fi, vemos um sujeito que foge pelo deserto, fugindo de caçadores de recompensa. O motivo é simples: ele é imortal e muita gente quer saber o segredo da vida eterna. Sendo o mais tradicional dentro do conceito de Love, Death and Robots, o curta cumpre o papel ao divertir e deixa o público querendo mais. O design de Hirald, a jovem que Snow encontra no caminho, é assustadoramente real. Em alguns momentos é impossível afirmar que o que vemos são, de fato, efeitos computadorizados.
Na sequência, a série flerta com o horror e uma interessante mistura de animação 2D e CGI. Em The Tall Grass, um homem à bordo de um trem fica intrigado com luzes que surgem na grama alta. Quando o trem faz uma pausa no meio do caminho, o sujeito resolve investigar a origem das luzes. Em uma história tipicamente Stephen Kingiana, The Tall Grass é menos conceitual que os demais e não carrega tanta mitologia. É apenas a história de um homem passando maus bocados na grama alta. Ainda assim, o cenário é intrigante e assustador e as sugestões de portais e mundos paralelos despertam a curiosidade. Assim como os outros, é um capítulo que deixa a vontade de seguir acompanhando seus personagens e narrativa.
Ficção-científica, horror, comédia e… Natal. Tem de tudo em Love, Death and Robots
All Through the House é episódios mais simples do ponto de vista conceitual, mas um dos mais bacanas. Na trama, dois irmãozinhos decidem acordar no meio da noite de Natal e surpreender o Papai Noel. Isso é tudo o que você precisa saber para desfrutar desta bela mistura de stop-motion e CGI caprichado. Bem humorado, o curta encapsula o espírito natalino com eficiência e economia (este é o menor dos capítulos). Trazendo uma vibe deliciosa, All Through the House é uma bela homenagem aos clássicos oitentistas que mesclavam horror, aventura e Natal sem jamais perder o embalo. É leve, engraçado, bem feito e com ótima mensagem. Além de deixar aquela pitada de desconforto em quem quer que assista.
O penúltimo episódio, Life Hutch, é um dos mais caprichados do ponto de vista visual, mas peca em uma premissa vazia. Com Michael B. Jordan no elenco, é quase impossível acreditar que o ator não era de verdade, mas uma versão computadorizada de si mesmo. Interpretando um piloto que cai em um planeta deserto, Jordan é o grande atrativo de uma ficção científica que se resume a uma cena e uma ideia. Não há o conceito ou as suposições que as outras histórias reservam. Enquanto Pop Squad e Snow in the Desert possuem ramificações e infinitas possibilidades, Life Hutch é apenas uma sequência de ação e suspense que é resolvida rapidamente e não instiga o espectador a saber mais. Do volume 2, talvez seja o elo mais frágil.
Temporada mais curta garante alto nível em todos os episódios
E para completar, The Drowned Giant insere a dose filosófica da temporada ao trazer um gigante morto na orla de uma praia. Dirigido por Tim Miller, o episódio explora as reações das pessoas ao encontrarem o corpo de um homem gigante. Ninguém sabe de onde ele veio, quem é ou se há mais como ele em algum lugar. Ao invés de mergulhar na ação ou no mistério, o roteiro se dedica a acompanhar um cientista local que visita o cadáver de tempos em tempos. Ao contemplar a existência daquele ser extraordinário, o homem repensa a própria vida e as ações de seus iguais, que violam o corpo como se este não abrigasse vida e histórias dentro de si tempos antes. Tecnicamente, trata-se de outro ponto alto dentro de uma temporada cheia deles.
Assim, Love, Death and Robots chega ao fim com saldo positivo e nenhum grande tropeço. Como é normal em antologias, alguns episódios são melhores que os outros. Ainda assim, não há nenhum capítulo ruim neste segundo volume. Ainda que Life Hutch e Automated Customer Service fiquem abaixo dos demais, ainda são ótimas histórias, belissimamente executadas. Desta forma, só podemos agradecer por um projeto tão ousado e bem realizado ter espaço em uma das maiores plataforma de streaming da indústria. Além disso, esperamos ansiosos pelo terceiro volume, já garantido pela Netflix.
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