Crítica: O Senhor dos Anéis Os Anéis de Poder chega ao fim com saldo positivo
Primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder chega ao fim com surpresas, escala épica e saldo positivo.
É uma ironia do destino que O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder e House of the Dragon tenham estreado na mesma época. A franquia Game of Thrones sempre foi comparada à criação de J.R.R. Tolkien e agora temos a oportunidade de comparar os dois produtos lado a lado. A conclusão, enfim, é esperada e lógica: os dois universos são totalmente diferentes e suas abordagens completamente distintas.
As diferenças vão desde o macro até o micro, passando por aspectos técnicos como fotografia e figurino e chegando a questões narrativas. Enquanto House of the Dragon busca a catarse e o retorno imediato, Os Anéis de Poder vai cimentando suas paredes aos poucos, até que apresente uma casa completa no final.
Não é à toa, portanto, que a série da HBO tenha entregado dois ou três clímax em nove capítulos, ao passo que a série da Amazon pavimentou sua saga para uma convergência de impacto no final.
Primeira temporada sofre com algumas barrigas
Desta forma, a ironia é ainda maior quando percebemos que elas dividem o mesmo problema, mas em lados opostos da questão. House of the Dragon peca pela pressa, pelos saltos temporais que sacrificam momentos e personagens. Já Os Anéis de Poder, por outro lado, falha ao se debruçar por muito tempo em linhas que não desenrolam. Enquanto uma corre e tropeça, a outra caminha e descansa.
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Ainda assim, apesar de algumas barrigas, a primeira temporada de Os Anéis de Poder é um excelente exemplar televisivo. Apesar da inexperiência de seus roteiristas, a série de O Senhor dos Anéis chega a um final coerente, onde cada desdobramento é alicerçado por um sólido desenvolvimento.
Com isso, a impressão é a de que o primeiro ano não foi pensado de forma episódica, mas única, como um longo filme.
Os Anéis de Poder é um grande filme que só faz sentido quando chega ao fim
Uma das provas é a ausência completa de alguns personagens por episódios inteiros. Há alguns rostos importantes, por exemplo, que jamais aparecem no capítulo final. Não se trata, portanto, de um descuido, mas de um planejamento que vai na contramão de muito do que se tem feito na televisão atual.
Assim, Os Anéis de Poder até funciona enquanto maratona, mas é na digestão lenta de seus episódios que o resultado torna-se recompensador. É possível abandonar a série na metade e ter uma boa experiência, mas só assistindo a tudo, até o fim, que o projeto realmente decola e se justifica.
Enquanto o texto tenta achar o equilíbrio rítmico, os aspectos técnicos são irretocáveis. Não há série na televisão atualmente que entregue visual tão bem cuidado e exuberante quanto O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. Os efeitos especiais não só enchem os olhos como são decisivos no enriquecimento da história.
É nos efeitos, por exemplo, que temos detalhes acerca da influência élfica em Númenor. É no figurino, por sua vez, que temos sugestões acerca da identidade do Estranho.
Visualmente, a série é uma das coisas mais impressionantes da TV
Assim, a plasticidade de quadros e sequências fica ainda mais evidente e válida graças ao peso e relevância que cada um carrega. Além disso, várias decisões técnicas nos ajudam a relacionar momentos e personagens da série com os dos filmes de Peter Jackson.
Neste sentido, Os Anéis de Poder é notavelmente reverente aos longas vencedores do Oscar. A série sabe que se aproximar dos filmes pode ser benéfico e investe nisso com sensatez e inteligência.
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Essa proximidade, entretanto, escancara um pequeno problema da série. Afinal, os personagens que mais funcionam são aqueles que já conhecemos. Se Sauron, Galadriel e o Estranho funcionam tão bem, é porque suas contrapartes cinematográficas já nos encheram olhos, peitos e mentes.
Já investimos nestes personagens, então acompanhá-los nesta jornada é mais fácil. Neste sentido, gostarmos destes nomes é mais um mérito dos filmes do que da série em si.
Elenco capricha e Terra-Média aquece o coração
É sintomático, então, que personagens novos falhem em se conectar ao público. Grande parte dos membros de Númenor, por exemplo, não funcionam. Isildur, vale apontar, carrega o duro fardo de traidor, de líder incompetente, algo que trazemos vívido na memória graças à trilogia original. Este afastamento e/ou frieza, entretanto, nada tem a ver com elenco, que é competente em sua maioria.
Competentes, também, são os diretores, que sabem evocar o espírito da Terra-Média sem jamais soar derivativa. Não há nada de Westeros aqui. Do início ao fim, este é o universo de Tolkien amparado pelos visuais de Peter Jackson. O resultado, enfim, aquece o coração de qualquer fã de O Senhor dos Anéis.
Nota: 4/5