Crítica: Os Encanadores da Casa Branca é decepção em que ninguém se salva
Os Encanadores da Casa Branca é decepcionante minissérie da HBO. Nem elenco ou roteiro se salvam de uma grande vergonha para o canal.
O mundo é feito de escândalos. Não só deles, claro, mas a história se desenrola e se atropela encarando polêmicas e reviravoltas. O Watergate, por exemplo, já foi amplamente investigado e adaptado às mídias. De lá para cá, mais uma infinidade de escândalos já existiu.
Ainda assim, a invasão do partido Democrata em 1972 já ganhou uma porção de filmes, séries e livros. Muitos bem-sucedidos, sendo alguns mais antigos (Todos os Homens do Presidente), outros mais novos, mas igualmente excelentes (Frost/Nixon, The Post).
O fato é que o Watergate, assim como o 11 de Setembro, parecia gerar histórias que se passavam antes ou depois do caso. O acontecimento em si parece nunca ter ganhado a atenção necessária da indústria. The Post, de Spielberg, por exemplo, acaba quando o Watergate começa.
Já Frost/Nixon acompanha Nixon cedendo uma entrevista depois do escândalo e de sua renúncia. Os Encanadores da Casa Branca, então, chega para preencher algumas lacunas deste evento já amplamente averiguado pela mídia.
Falta foco em minissérie que é uma bagunça em todos os aspectos
O grande problema da minissérie da HBO, entretanto, é que lhe falta foco. Tanto na narrativa quanto na escolha de gênero, Os Encanadores da Casa Branca parece não ter norte. Com isso, ainda acaba falhando miseravelmente em estabelecer uma abordagem visual.
Afinal, falta ao programa um diretor talentoso, já que David Mandel parece não ter controle algum sobre o que fazer com a câmera, o roteiro ou seus atores.
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Por vezes, a minissérie quer ser um drama, em outras flerta com o thriller político. Na maior parte do tempo busca ser uma comédia, mas falha terrivelmente ao não estabelecer que tipo de humor quer investir. Assim, temos piadas espertinhas misturadas com gags previsíveis e dignas dos mais estúpidos pastelões.
Mandel e seus roteiristas não são Adam McKay, por exemplo, que vem se especializando em comédias políticas com fortes âncoras dramáticas e emocionais. Vice e A Grande Aposta, por exemplo, alteram com elegância e inteligência entre o drama e a comédia.
Falta a Mandel, por exemplo, o apuro técnico de McKay. Assim, o diretor tenta brincar com um estilo semidocumental, ao passo que tenta relegar certa sobriedade setentista à estética do programa. O resultado é um episódio que mal consegue entregar uma simples sequência de diálogo, já que os responsáveis parecem incapazes de organizar um plano/contra plano.
Com isso, Os Encanadores da Casa Branca se torna uma experiência enfadonha, já que o tema é burocrático e a abordagem não se esforça para tornar o processo divertido.
Nem o talentoso elenco se escapa da vergonha que é Os Encanadores da Casa Branca
O equívoco é tão grande que nem o elenco se salva. Apesar de serem excelentes atores, Woody Harrelson e Justin Theroux estão no limite da canastrice. E mesmo que a proposta seja a de uma comédia, a dupla – e outros do elenco – exagera no tom.
Muitas vezes, entretanto, fica claro que seus tropeços vêm de uma falta de direção mais segura e consciente. O texto, por sua vez, não ajuda, e o resultado parece oriundo de uma sitcom amadora.
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É lamentável, portanto, que um tema com tamanho potencial seja tratado de forma tão inconsequente. Ainda assim, Os Encanadores da Casa Branca deve achar seu público, principalmente porque a HBO é especialista neste tipo de produção.
Ao longo de sua história, lançou uma porção de telefilmes e minisséries sobre acontecimentos importantes da história contemporânea dos EUA. É uma pena, contudo, que sua trajetória tenha sido manchada por uma produção tão decepcionante quanto Os Encanadores da Casa Branca.
Nota: 2/5