Apesar de não surpreender, 23×19 de Law & Order: SVU é importante
O episódio de Law & Order: SVU desta semana não é revolucionário, novo ou diferente, mas propõe um debate importante.
Aproximando-se do seu Season Finale, Law & Order: SVU dá uma pausa na busca frenética por culpados de crimes graves para discutir uma questão importante e fundamental. O direito a privacidade e proteção dos materiais genéticos de vítimas. Como comento no título, não há nada de novo num tema como esse.
Na verdade, tais princípios deveriam ser primordiais para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito. Contudo, nesse mundo de populistas, demagogos e radicais de extrema direita, sabemos que slogans e clamores populares falam mais alto. Razão pela qual o episódio da semana é importante.
Em “Tangled Strands of Justice“, Christian Garland (Demore Barnes) pede para que Benson (Mariska Hargitay) reabra um antigo caso de desaparecimentos. De acordo com o ex-chefe de polícia, esse foi um dos casos na qual ele trabalhou no início da carreira de policial.
Por outro lado, uma vítima de um dos casos recentes de Carisi (Peter Scanavino) é presa. No meio de todo esse imbróglio, Benson descobre que o departamento de polícia do Queens está não só subvertendo as leis, como também a dignidade da pessoa humana. Será que é assim tão grave? Law & Order: SVU discute.
Quem precisa de justiça?
A discussão é que o roteiro promove é providencial. Eu e você sabemos, ou pelo menos deveríamos, do momento que vivemos. Não só no Brasil ou nos Estados Unidos, mas nas Filipinas, na Turquia, na Coreia do Sul, na Itália e tantos outros países. Políticos pouco preocupados com o juramento que fazem ao assumir suas funções públicas, logo se voltam a ânsia popular.
Quanto mais primitiva, parece, melhor. A imprensa americana, inclusive, chamava de “carne vermelha” quando o ex-presidente Trump atacava adversários, imprensa e minorias. Sendo assim, é importante colocar a bola no chão e refletir sobre aquilo que estamos nos tornando. Law & Order: SVU acerta, portanto.
Leia também: Nos episódios 23×17 e 23×18, Law & Order: SVU vai do mediano ao ótimo
É revoltante usar material genético de vítimas de violência sexual e abuso, sem autorização legal, para prendê-las em casos conexos que são suspeitas. Contudo, a detetive responsável por todas as investigações no Queens foi até o fim defendendo suas atitudes em nome da justiça.
A subversão completa das leis ameaça não só um caso em questão, mas todos aqueles tocados por aquele departamento de polícia. E isso representa não só a falha da justiça uma vez, mas diversas vezes. Promovendo desconfiança, descrença e descrédito, como Law & Order: SVU mostra.
Sem surpresa, mas com determinação
Todo esse caldo de cultura representa um dos legados que Law & Order: SVU deixará quando chegar ao fim. Respeito às vítimas e aos seus direitos, mesmo que não sejam cidadãos exemplares. É impossível ter um sistema perfeito, acredito que nunca teremos. Afinal, ele é feito por seres humanos, que falham e têm sentimentos.
E reparem que isso vem de um bacharel em Direito. Mesmo assim, é possível desejar e almejar por algo próximo do ideal. Respeitando a Constituição, seus princípios e valores. E, nesse sentindo, o roteiro acerta em todos os sentidos. É importante falar sobre o assunto sempre.
Em suma, o caso da semana de Law & Order: SVU não é revolucionário, tampouco novo. Contudo, a necessidade de falar daquilo que importa e nos separa do caos da civilização é fundamental. “Tangled Strands of Justice” é um episódio obrigatório para qualquer estudante de Direito, mas acredito que também apresenta uma lição fundamental para qualquer telespectador.
Nota: 3.5/5