Com um retorno excelente, nova temporada mostra porque X Files moldou a ficção

Review da premiere da décima primeira temporada de X Files (Arquivo X), da emissora FOX.

Imagem: FOX/IMDb (Divulgação/Reprodução)
Imagem: IMDb/FOX/Divulgação

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“The Truth still lies in the X Files”

25 anos. Foram precisos 25 anos para chegarmos até aqui. Enfrentamos todo esse tempo, toda a inconstância, toda a espera, todo o mistério… tudo isso na promessa que nos conduziu até aqui: A verdade está lá fora. Fomos surpreendidos muitas vezes com o inusitado de Mulder, com o incólume “ceticismo” não-tão-cético de Scully, com os planos ardilosos do Canceroso. Foram anos de mistérios, de uma ficção científica que redefiniu os moldes para a feitura da própria ficção científica… tudo isso alinhado sob um único título: X Files.

E agora, mais uma vez, somos reunidos pelo chamado, pela promessa, pela dúvida. Agora, ambientados na paranoia e na rapidez da pós-modernidade, voltamos mais uma vez a nos encontrar para, quem sabe uma última vez, trilhar os passos dos nossos agentes favoritos.

Novamente, tudo o que nos foi prometido, tudo o que Chris Carter nos fez pensar, esperar e imaginar, além de todos os nuances pré-existentes – isso para não mencionar os novos, como a maneira de relativizar a história da franquia frente a plasticidade da narrativa dos dias atuais – tudo isso nos foi entregue desde os primeiros segundos. E isso não é glorioso?

Chris Carter conseguiu manter-se fiel as premissas criadas por ele enquanto as quebra uma a uma. O terreno do não dito sempre foi parte – não principal, mas significativa – do je ne sais quoi da série. A maneira como o arco maior, as dúvidas, o mistério nas sobras, sempre pairavam no fundo, como aquela sensação de que algo não está certo, mesmo quando nos deparávamos com os que eu, particularmente, considero os melhores episódios da série, os procedurais. Aqui, não há mais essa diferença. E mesmo assim, qualidade do todo foi mantida. Afinal, chegamos ao arco. Chegamos ao grande momento. Tudo sobre o que eram somente tecido de suposições tornaram-se algo muito mais concreto, muito mais imediato, tudo isso envolto numa crítica justamente a esse imediatismo – a às consequências práticas dele na nossa atualidade.

Imagem: IMDb/FOX/Divulgação

O discurso do Canceroso é, sem sombra de dúvidas, melhor introdução do que qualquer uma que possa ser escrita aqui. A maneira de nos conduzir por toda uma reflexão para, só então, atacar com a acidez do humor numa das teorias de conspiração mais 101 da história descrevem muito melhor do que qualquer coisa que possa ser dita o verdadeiro efeito X Files.

Mas a sagacidade da escrita de Carter estava apenas começando. Nos fazer duvidar de tudo sempre foi rotineiro para ele, mas nos fazer duvidar não só de Scully, mas de toda a temporada passada? Brilhante! Perceber que a batalha que lutamos até aqui era a combinação daquilo que existe no espaço do “e se…?” convertido em roteiro.

Não mais meramente uma busca pela verdade que sempre esteve lá fora, mas sim, uma aceitação de que essa uma verdade talvez nunca seja nossa para descobrir. De que talvez, os planos de um único homem tenham movido 25 anos de estória. Não negando a verdade, mas a tornando algo “relativizável”, algo plástico, fluido, alterável. Mas quando tudo isso parece confortável o suficiente, quando essa quase colossal derrota toma conta de nós… é o ceticismo desfeito de Scully que nos salva. Ao dizer exatamente aquilo que, no passado, não esperaríamos ouvir dela nunca: “a verdade ainda está nos Arquivos X”.

E é exatamente aqui que, com um plot twist considerável, e como um velho amigo, X Files nos estende a mão. Vamos embarcar nessa jornada mais uma vez? Eu acho que sim.

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Arquivos X, entrada 01: Por muito tempo, quase que como uma constante, sempre algumas questões figuram presentes no nosso cotidiano. E como era de se esperar, a passagem do tempo pesou também para X Files, que não deixou de entregar uma boa verdade vinda do melhor personagem possível: o Canceroso. Na afirmação que deixo abaixo, ele faz muito mais do que uma crítica, ele marca a descrição de uma geração. A pergunta é, quem irá contar a punch line?

“My plans are airtight. And even if they were to get out, they would be dismissed as so much fake news. That’s the world we live in, Monica. Every day a new disaster, when the one thing no one is prepared for will wipe the slate clean. We refuse to imagine our impending extinction, the acceleration of the cataclysms. We’ve thrown science out the window in favor of scandal and opinion and cant and all manner of ridiculous untruths. Civilization a joke, and my plan merely the punch line.”

Sobre o autor
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Italo Marciel

Redação

Jornalista por formação e publicitário por aproximação. Desde a graduação, circulo entre as duas áreas e isso me preparou para atuar com mais segurança e amplitude na Assessoria de Comunicação Política, área na qual trabalho desde 2013. Ao todo, já são são oito anos gerenciando a comunicação de parlamentares do legislativo municipal. Entre as minhas principais atribuições estão: criação e gerenciamento de conteúdo textual e visual (artes, fotos e vídeos) para redes sociais; planejamento de pronunciamentos; preparação de pauta para reuniões e entrevistas; relacionamento com a imprensa. Além disso, tanto tempo no meio me trouxe conhecimentos intermediários de assessoria parlamentar, onde auxilio na construção e revisão de projetos e no relacionamento com pastas do poder público de direto interesse dos mandatos. No Mix de Séries atua como jornalista e redator de notícias gerais, desde 2017. Também produz críticas e conteúdos especiais voltado para a área de streaming.

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