Crítica: Mesmo bagunçada, Dietland é o que precisamos em tempos sombrios
Review da primeira temporada de Dietland, da AMC.
Um convite à rebelião
Antes de mais nada, preciso confessar algo importante a você, caro leitor: este que vos escreve não leu o livro na qual esta série é baseada. Minha avaliação, portanto, versa sob os dez episódio que a AMC apresentou nessa última Summer Season e nada mais.
Dito isso, acredito que por mais defeitos que essa comédia dramática tenha apresentado em seu ano inaugural, ela foi a que melhor absorveu parte do sentimento compartilhado por muitas mulheres americanas (e espalhadas pelo mundo, claro). Seja ele raiva, angústia, decepção e vontade de rebelar-se.
Sejamos honestos mais uma vez: não é de hoje que as mulheres passam por isso. Muito pelo contrário. A ebulição, entretanto, acontece com ajuda do #MeToo e da vitória de Donald Trump à presidência dos Estado Unidos. Não é a toa que as próximas eleições americanas terão o maior número de mulheres concorrendo na história do país, assim como elas não têm mais medo em se impor, seja na vida particular ou profissional.
Sabemos, entretanto, que não é fácil falar do assunto de forma honesta. Ele possui muitas áreas cinzentas, principalmente em sociedades tão polarizadas como a brasileira e/ou a americana. Felizmente, os roteiristas de Dietland encontraram uma forma simples e divertida, porém sem perder a acidez, para falar das mais diversas dificuldades que mulheres enfrentam todos os dias.
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É verdade que além de um bom material base, a produção conseguiu algo raro na televisão hoje em dia: um elenco coerente, de altíssimo nível e comprometido na proposta que tinham em mãos. Joy Nash, que interpretou Plum, é a principal revelação que esta temporada nos trouxe. Isso porque a atriz conseguiu ir além do drama pessoal da personagem.
Data Venia, por favor
Embora olhássemos para Plum e a primeira ideia era de uma mulher frustrada com sua forma corporal, descobrimos ao longo dos dez episódios que ela poderia estar falando tranquilamente em nome da minha mãe, da sua irmã ou da sua esposa. Ora era oprimida por ser gorda. Ora virava motivo de piada pelas roupas pouco estilosas que usava e até mesmo reprimida por não usar maquiagem adequadamente. Algo que toda mulher se identifica.
Julianna Margulies nos apresenta um show à parte. Sua personagem pode ser vista como uma versão menos ácida de Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada. No entanto, a atriz propõe, a cada cena e a cada diálogo, um novo pensamento ou nos provoca a olhar por um lado que não tínhamos visto. Na visão deste que vos escreve, o ponto alto da personagem neste primeiro ano é quando mostra, para um grupo de homens (quem mais?) quem realmente entende de revista para mulheres.
É importante ressaltar que mesmo nos convidando para uma aventura deliciosa, o drama apresenta algumas dificuldades quanto ao ritmo das suas narrativas; atenção ao personagens coadjuvantes e ao uso repetido de clichês para chegar num final jamais visto. É confuso e bagunçado, o que infelizmente não ajuda a série a pleitear por uma nova temporada.
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Apesar de alguns problemas, as qualidades aparecem. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que grande parte do processo criativo de Dietland foi desenvolvido por mulheres. Mostrando o porquê é importante ter uma ambiente inclusivo e acolhedor para ideias de roteiristas e/ou diretoras. Elas estão tomando conta não só da televisão como também de Hollywood, sorte a nossa!