Crítica: 2ª temporada de Disque Amiga Para Matar não é um primor, mas cumpre seu papel
Embora não tenha o mesmo brilho da primeira temporada, o segundo ano de Disque Amiga Para Matar é divertido, eficiente e delicioso.
Sua melhor amiga para aproveitar aquele vinho
Disque Amiga Para Matar retornou para sua segunda temporada. E uma das grades dúvidas de todo telespectador antes de começar uma segunda temporada de qualquer série é: será que vai ser tão bom quanto o ano anterior? Pois bem, não julgo nenhum de vocês porque foi exatamente esse meu pensamento na última sexta-feira (08), antes de assistir o Season Premiere.
Para minha surpresa, o segundo ano de Disque Amiga Para Matar (ou Dead To Me no original) é bastante eficiente e divertido, embora não chegue a superar seu ano inaugural. Fica claro, contudo, que essa não é a tentativa do roteiro. O que se constata após assistir esses novos episódios é que o compromisso da comédia continua o mesmo: entreter, entreter e entreter. Outra boa notícia é que tanto Christina Applegate quanto Linda Cardellini estão ainda melhores.
A segunda temporada começa retomando os acontecimentos do ano anterior. Jen (Christina Applegate) matou Steve (James Marsden) após uma discussão, ao mesmo tempo que busca uma reaproximação com Judy (Linda Cardellini). Contudo, os problemas logo aparecem.
A polícia está no caso, a família Wood pressiona por uma solução rápida ao mesmo tempo que o FBI investiga as tramoias internacionais do falecido. Ao mesmo tempo, Jen precisa dos filhos, os ótimos Sam McCarthy (Charlie) e Luke Roessler (Henry), assim como lidar com as dificuldades financeiras. Judy, por sua vez, busca por equilíbrio emocional e é forçada a encontrar certa independência de Jen.
Está rindo do quê?
O que tornou essa comédia tão irresistível no seu ano inaugural foi a forma abusada de introduzir o humor negro em situações atípicas. A capacidade de rir da morte, de caçoar do luto e de tripudiar no sofrimento alheio fizeram de Disque Amiga Para Matar uma meta para qualquer roteirista que ousasse utilizar da mesma forma.
Fazia tempo, talvez desde a conclusão de Desperate Housewives em 2012, que não via algo tão gostoso. Tal ingrediente fez muita falta nessa nova leva de episódios. O grupo de luto fez falta. As piadinhas e as referências culturais também. É verdade, contudo, que tivemos um vasto material cômico, mas não com a mesma inteligência ou a mesma força.
A proposta foi de apresentar algo mais involuntário, chegando bastante próximo da comédia física ou do humor pastelão que poucos atualmente conseguem acertar. Não que seja algo ruim, mas torna Disque Amiga Para Matar parecida com outras produções e não faz com que se sobressaia das demais. E se quisesse rir sobre situações triviais, faria uma maratona de Friends ou Seinfeld. Não está ruim, mas poderia ser muito melhor.
Um exemplo disso seria a necessidade em fazer graça com a primeira vez de Charlie. Há formas de fazer isso sem que o telespectador fique com a sensação de “huum, é divertido, mas eu já vi isso em algum lugar”.
Me dá um tempo, por favor
Outra questão que senti falta no que se refere ao roteiro foi a falta de densidade quanto aos personagens principais. Na primeira temporada tivemos a oportunidade de sentir todos os problemas relacionados ao desejo frustrado de Judy de ser mãe. Sentimos, vivemos e choramos quando acreditava estar grávida, mas estava apenas com a menstruação atrasada. Nesta segunda temporada, fomos lembrados das suas inclinações maternais apenas no sexto episódio, mas nada muito específico que limitou-se a uma breve citação. Não seria extraordinário ver como que esses desejos se manifestariam numa relação homoafetiva como a personagem ensaio com Michelle?
Jen, por outro lado, teve mais espaço e oportunidade de cativar o telespectador com seus problemas e vulnerabilidades. O problema é que isso aconteceu apenas no nono episódio. Descobrimos que tinha apenas 19 anos quando perdeu sua mãe e que sofreu muito com isso. Talvez teríamos entendido a forma rigorosa de educar seus filhos lá no início, se soubéssemos dessa perda. Faltou estratégia e objetividade por parte dos roteiristas. O mesmo pode ser dito de Ben, irmão semi-idêntico de Steve, interpretado com muito rigor por James Marsden. O quão diferente ele é do irmão? Não sabemos porque não tivemos tempo, sequer oportunidade de descobrir algo maior sobre o personagem além do básico.
Na contramão, Charlie foi quem se destacou. Nos poucos momentos de tela, Sam McCarthy mostrou a que veio e fez o possível para agarrar seu grande momento. O personagem ganhou muito mais tempo, desenvolvimento e atenção. O ator conseguiu introduzir nuances e fazê-lo ir além, muito além, do tradicional adolescente problema. Entendemos que ele está crescendo, experimentando e dando início a sua vida sexualmente ativa. Tudo isso num momento que tenta entender o momento que está passando com saudade do pai e tentando acertar com sua mãe.
Nosso momento
Apesar dessas falhas que o roteiro apresentou, o elenco continua a parte mais forte dessa série. É algo impressionante. Christina Applegate e Linda Cardellini protagonizam certas cenas que deixam muitas atrizes dramáticas precisando voltar à escola. Uma, em particular, que certamente fará parte da fita que ambas enviarão para os eleitores do Emmy, é do episódio onde elas brigam de forma extraordinária. Acredito que é no sétimo ou no oitavo, se não estou enganado. É uma entrega visceral e impressionante que ambas apresentam nesse episódio. Fica difícil escolher qual é a melhor, fazendo com que a decisão mais acertada seja sentar, comer algo e admirar esse trabalho incrível que elas nos brindaram.
Apesar do seu personagem ser um tanto problemático do ponto de vista de densidade, James Marsden é sensacional. Divertido, carismático e que funciona com qualquer um dos personagens em cena. Sam McCarthy é outro que ganha, também, todos os meus elogios pelo seu crescimento e qualidade do primeiro ano para esse.
Outro ponto alto são as participações especiais. Lembro que The Good Wife tinha esses famosos como trunfo para manter o telespectador sempre esperando por mais e aqui não é diferente. Num determinado momento, temos Frances Conroy, noutro temos Katey Sagal. Seria ótimo ter mais. Podem tornar rotina, eu adorei.
O que eu digo para terceira temporada? Manda ver, Netflix.