Crítica: 2ª temporada de The Rain tem acertos, mas peca ao não responder perguntas
Crítica da segunda temporada da série The Rain, da Netflix.
Netflix lança segunda temporada da série dinamarquesa The Rain
ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR PODE CONTER SPOILERS SOBRE THE RAIN
Lançada em maio de 2018, a primeira temporada de The Rain rendeu bons índices de audiência para a Netflix, de acordo com os criadores da série. A renovação da produção dinamarquesa para a 2ª temporada comprovou o bom desempenho.
A temporada de estreia da série mergulhou a trama em um bem construído – porém não muito original – clima de mistério. Já a segunda temporada, que estreou na última sexta-feira, 17, apostou alto no sci-fi e chega ao público com um pouco mais de identidade.
Trama continua de onde parou ao final da 1ª temporada
Dando continuidade aos eventos da primeira temporada, o primeiro episódio mostra o grupo de jovens sobreviventes fugindo dos agentes da Apollon. Dessa forma, Martin, Patrick, Lea, Jean e Simone lutam para manter Rasmus a salvo, mantendo um bom ritmo inicial. Tal personagem é a chave para a cura do mortal efeito da chuva que dizimou grande parte da população.
Agora que Rasmus é oficialmente declarado o paciente zero do ainda nebuloso experimento que resultou na criação do poderoso vírus, seu sangue pode resultar na criação de uma cura. Portanto, eles recorrem a um grupo de cientistas indicados pelo pai de Simone e Rasmus, em seu último ato de redenção para com os filhos.
Simbiose: Rasmus e o super-vírus
É no novo laboratório que nos surpreendemos com os efeitos do vírus em Rasmus. Em uma tentativa de coletar o DNA do garoto para análise, todos são surpreendidos pelos “poderes” incontroláveis que passam a dominar seu corpo. Por ser imune aos efeitos nocivos do vírus, Rasmus passa a ser um hospedeiro/transmissor do vírus mortal. Sendo assim, o personagem acaba tornando-se um perigo para todos a seu redor.
A cena onde as “habilidades” sombrias de Rasmus se manifestam pela primeira vez se destaca. Tal momento empurra a série para outro nível. Portanto, tudo torna-se mais interessante neste ponto. Em certos momentos, é impossível não associar as sombras que saltam das veias do garoto à simbiose sofrida pelo personagem da Marvel, Venom.
Novos personagens renovam a trama, mas são pouco desenvolvidos
O novo núcleo também insere novos rostos à série. Sarah (Clara Rosager) e Fie (Natalie Madueño) se unem ao grupo de sobreviventes em busca de respostas e refúgio. Infelizmente, a produção continua falhando no desenvolvimento dos personagens. Dessa forma, ela limita-se a nos mostrar pequenos flashbacks de seus momentos pré-catástrofe como pano de fundo. Isso pode acabar dificultando o processo de identificação entre o espectador e partes da trama.
Outro ponto que prejudica o desenvolvimento da série é a perda de tempo em certos plots. Muito desses plots pouco ou nada influenciam na trama. Isso acontece principalmente nas cenas mais românticas entre casais e/ou potenciais relacionamentos entre personagens. Mesmo mirando seu público alvo (os mais jovens) algumas partes são dispensáveis, como a história da horta/estufa compartilhada pelo casal Lea e Jean, por exemplo.
No entanto, isso não impede do choque da perda de mais um personagem durante o decorrer da temporada. Assim como na primeira temporada, onde demos adeus à Beatrice (Angela Bundalovic), os roteiristas não tiveram medo de eliminar outro membro do elenco original da série, em uma cena comovente.
Série mantém ritmo ideal e aposta forte na ficção-científica
No entanto, os roteiristas sabem usar muito bem o ritmo ágil e a atmosfera de suspense para prender a atenção do público. Isso se assemelha um pouco ao recurso utilizado na primeira temporada. A chuva – que é a protagonista da série durante a primeira leva de episódios – agora se tornou figurante. Assim, ela cedeu lugar aos efeitos causados por ela nas pessoas e no meio ambiente.
Outro ponto positivo: os personagens agora não caem em tantas situações perigosas evitáveis. Isso se diferencia da primeira parte da série, mostrando que eles estão sempre em movimento em busca de respostas. Bem como, em outras séries, algumas das missões vistas em The Rain levariam o dobro de episódios para acontecer.
Em síntese, a vibe sci-fi sombria e os poderes sobrenaturais combinam muito mais com a série do que o melodrama adolescente. Dessa forma, a nova temporada, de fato, alcança uma identidade própria. E isso acontece mesmo deixando muitas perguntas antigas ainda sem respostas. Algumas delas: O vírus atingiu o mundo todo? Se não, porquê as pessoas na zona de quarentena não são resgatadas? Qual o real objetivo da Apollon?
Assim, o caminho está aberto para tramas intrigantes nas prováveis futuras temporadas.