Crítica: Mirando uma reviravolta, 3×05 de 9-1-1 entrega uma bagunça
No seu quinto episódio, 9-1-1 mostra que estava mirando numa reviravolta e querendo muito fazê-la, mas na verdade trouxe uma grande bagunça.
A ideia é boa, mas…
Para quem, assim como este que vos escreve, acreditou que a proposta de 9-1-1 em promover uma reviravolta no episódio anterior seria materializada em Rage frustrou-se. É verdade que tivemos grandes momentos, cuja cena ganhará grande atenção abaixo, mas analisando o conjunto da obra acredito que o resultado final foi um tanto bagunçado com o roteiro, apressando o desenvolvimento de tramas que mereciam mais tempo, mas dando atenção para narrativas que sequer mereciam sair da sala de roteiro.
O pior, contudo, ficou a admissão involuntária de que a tão promovida história encabeçada por Maddie no episódio anterior é tão desnecessária que apareceu por cinco segundos em Rage.
Com a decisão de Buck em processar a cidade de Los Angeles, assim como Bobby e o quartel de bombeiros, ele tem que lidar com as consequências desse processo. Encarar seus colegas em lados completamente opostos da situação, assim como ser tratado como um estranho.
Athena, por sua vez, tem que lidar com um problema antigo: ser uma mulher negra numa corporação historicamente assombrada por conflitos raciais. Apesar de sentir na própria pele, mesmo que indiretamente, ela fica dividida sobre ‘o que é o certo a fazer’. Eddie ainda lida com os problemas de Christopher após o trauma da perda da mãe e da tsunami, enquanto Hen volta à sua realidade sofredora.
Analisando friamente pela breve sinopse acima, é possível inferir que sim, Rage é um episódio fantástico. Tem todos os ingredientes que fazem essa série ser tão importante neste momento. O problema é que o roteiro não organiza de forma inteligível. As histórias ficam jogadas para todos os lados, exacerbando uma antiga dificuldade da edição em ressaltar o excelente trabalho dos atores. Rockmond Dunbar, por exemplo, entrega sua melhor performance desde o episódio piloto. Mas ninguém sente o impacto em virtude dessa dificuldade de organização.
Precisamos conversar sobre racismo
Quando identifiquei que essa seria a proposta do episódio, terminei de assisti-lo e imediatamente conversei com colegas para melhor escrever sobre o tema. Afinal seria cômico da minha parte escrever sobre tais questões sendo uma pessoa branca que nunca passou, e nunca passará, por uma experiência como essa. Felizmente, discutimos bastante e aprendi muito. Conversamos sobre a abordagem, sobre como tratarão da situação e a forma na qual a narrativa foi desenvolvida. Ao final, concordamos que 9-1-1 acertou no que se refere ao conteúdo e a forma. Embora se limite a tratar de uma maneira superficial, é suficiente para promover conversa e debate.
Produções com a marca de Ryan Murphy não fogem de polêmicas. Vimos com Glee, em American Crime Story, assim como American Horror Story e The Politician. Contudo, é sempre importante analisar a qualidade e a necessidade de abordar tais temas. Sabemos que polêmica por polêmica não produzem nada, apenas presidentes desqualificados. E nesse sentido, a série acertou por não poupar o telespectador dos olhares, do uso excessivo da força e da maneira hostil em tratar alguém que ele deveria esta protegendo. Se você ficou incomodado, perturbado e constrangido com a cena da abordagem policial, pode ter certeza que o objetivo do roteiro foi alcançado.
Muito baralho por nada
Como estudante de direito e adorador de reality shows, não é uma tarefa difícil inferir que eu adoro um conflito. Por isso, fiquei extremamente empolgado quando Buck toma a decisão de processar a cidade. ‘Vai ser sensacional, teremos muitas referências à decisões da Suprema Corte e vou aprender muito,’ foi o que eu acreditei. Mas o que vimos em Rage? Uma falta de coragem, disposição e inteligência em levar a narrativa para frente. Porque não levar o caso até o final e trazer os roteiristas de The People v. O.J. Simpson para escrever tal história? É uma utopia de um jovem (rs) estudante? Pode ser, mas ousadia nunca fez mal a ninguém. Muito menos para série que destruiu Los Angeles diversas vezes.
9-1-1, 9-1-1