Crítica: Em clima de terra arrasada, 3×04 de 9-1-1 aposta em novas ideias
Depois de um tenso e complexo arco envolvendo uma tsunami, 9-1-1 aposta na ideia de terra arrasada para seguir em frente.
De acordo com o dicionário Cambridge, a expressão ‘tough act to follow’ é quando ‘certa coisa é tão boa que é improvável que algo ou alguém que venha a seguir seja tão boa quanto’. Nesta definição poderíamos incluir também o episódio quatro de 9-1-1, cuja missão era praticamente impossível: manter a qualidade e o interesse do telespectador (lê-se audiência), após a conclusão do arco do tsunami.
De fato, a audiência caiu. Mas isso não significa que Triggers foi ruim. Longe disso. Há um entendimento bastante claro por parte do roteiro que eles não conseguirão superar o suspense do início da temporada, fazendo com que adotem uma ideia “camicase”, isto é promover uma espécie de terra arrasada e começar este terceiro ano do zero. Razão pela qual temos uma série de novas problemáticas inseridas na trama (de quase todos) os personagens. A questão é: será que vai funcionar em 9-1-1?
Com Buck ainda afastado do seu trabalho de bombeiro, ele decide sair do sofá e aceitar trabalhar na parte burocrática do serviço de salvamento. Termos, minutas, controles e relatórios. Ele logo percebe que não retornará tão cedo para o antigo cargo, fazendo com que considere tomar uma medida um tanto drástica.
Já Maddie, que ainda carrega questões mal resolvidas dos tempos que sofria de violência doméstica, busca resolver um certo problema por conta própria. Hen, por sua vez, volta a enfrentar antigos problemas no seu relacionamento. Enquanto Diaz tenta entender o comportamento de Christopher após a morte da mãe e da experiência traumática de ser arrastado pelo tsunami. Sendo assim, é possível entender que, de fato, o foco daqui para frente será descobrir como que cada personagem vai resolver seus problemas.
Terra arrasada
Embora entenda a proposta revelada neste episódio, não acredito que seja possível fazer juízo de valor sobre sua necessidade. Pelo menos não ainda. Não há como afirmar se o fato de Buck processar a cidade, o quartel e Bobby será interessante para o desenvolvimento de 9-1-1. Acredito, no entanto, que o roteiro precisa tomar uma decisão sobre quanto está disposto a dedicar para tratar dessa problemática. Vão trazer cenas de depoimentos, apurações e investigações em detrimento dos salvamentos carregados de adrenalina? Duvido, até porque a audiência não está aqui para isso. Por isso é de suma importância que as prioridades estejam bem claras para que esse processo de Buck não seja uma mera barriga narrativa.
Por mais que consiga entender o porquê Maddie tenha decidido ajudar uma cidadã potencialmente vítima de violência doméstica, não acredito que é a melhor mensagem. O telespectador sabe que a personagem está errada em seguir esse caminho, mas por algum motivo torce para que dê tudo certo e ela consiga salvar o dia. Escancarando assim uma tentativa forçada a arrastada em elevar uma personagem a um nível que ela ainda não tem. Acreditem quando digo que defenderei até o fim a necessidade de introduzir uma história com violência doméstica. Porém, tal ideia precisa ser desenvolvida com um pouco mais de responsabilidade e sem arroubos heroicos.
E a emoção, sumiu? 9-1-1
Quanto às emergências que assistimos neste episódio, confesso a vocês que gostei muito do que vi. O carro à beira do abismo me reportou ao drama lá da primeira temporada com o castelo inflável. O mesmo não posso dizer da vergonhosa situação que abriu Triggers. Se a intenção era provocar empatia para o efeito cascata humano, peço desculpas porque minha única reação foi rir (e muito).
Contudo, acredito que o brilho e a emoção que já sentimos outrora faltou ao vermos o roteiro priorizando quantidade ao invés de qualidade. Não há problema algum em apresentar apenas uma emergência desde que bem pensada, bem elaborada e construída.
Em suma, acredito que estou muito disposto em dar uma chance para essa fase ‘terra arrasada‘ que 9-1-1 nos propôs em Triggers. Contudo é importante não esquecer do que tornou essa série tão especial: o tripé formado por boas histórias; emergências deliciosas e mensagens otimistas. Vamos aguardar e torcer para que sejam feitas as escolhas certas.