Crítica: Precisando de uma reflexão, 2×19 de Designated Survivor prefere mirar em Trump
Review do décimo nono episódio da segunda temporada de Designated Survivor, da ABC, intitulado "Capacity".
É fadiga que fala, não é mesmo?
Em minha defesa ao trabalho da imprensa no episódio anterior não hesitei em ressaltar o quão importante é falar “verdade ao poder”. Sem ter medo de retaliação, apenas no intuito de “fazer o certo”. Vale lembrar que esse não é um papel exclusivo da mídia, mas sim de todos nós. Apoiando ou se opondo àquele que detém o poder, o importante é se manter atento. Até porque um sábio um dia disse que “se você não está irritado, é porque não está prestando atenção”. Entretanto, é importante lembrar que toda crítica precisa de fundamento. Um posicionamento argumentativo requer um propósito. Criticar pelo criticar é bobo e não agrega em nada. Infelizmente foi o que Designated Survivor nos trouxe em Capacity.
Com o gabinete invocando o artigo 4º, da 25ª emenda da Constituição americana, o presidente quer ter direito ao devido processo legal e defender-se das ilações. O problema é que tal deliberação fez com que alguns malfeitos fossem trazidos à público. A acusação (?!) contra Kirkman, encabeçada por Ethan West (Michael J. Fox), vai um pouco mais fundo. Arrola assessores próximos do presidente, inclusive uma “amiga próxima”, Dra. Andrea Frost (Kim Raver), no intuito de atacar a credibilidade (e sanidade) do chefe do executivo. A resolução da situação é quase tão previsível quanto as piadas de algumas comédias da CBS.
Quando Donald Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey, uma das principais lições do caso, além da possibilidade do presidente ter obstruído justiça, é que ele tinha uma obsessão por lealdade. Tamanha era sua paranoia que Comey, na divulgação do seu livro, comparou Trump com um líder da máfia. Essa situação “curiosa” serviu como inspiração para um episódio cheio de potencial, mas sem condições de desenvolver suas boas ideias. Adoraria ver uma série discutindo os limites entre fidelidade e a lei. Até quando as duas deixam de andar lado a lado? O que deveria acontecer quando um assessor põe partido/pessoa à frente do país e da lei? Entretanto, o roteiro foge dessas questões latentes para perseguir a ideia de que o presidente está instável.
Será que fica pior?
Mesmo frustrado com esses trôpegos fiquei aliviado em lembrar que, pelo menos, viríamos algo explosivo saindo do questionário envolvendo a Dra. Andrea. Até porque o promo do episódio anterior prometia uma “grande revelação”. Curiosamente, nada disso aconteceu. É verdade que fomos confrontados com suspeitas acerca das reais motivações da personagem. E sim, tal narrativa me deixou curioso. Todavia o roteiro não foi inteligente o suficiente em manter o telespectador excitado para os próximos acontecimentos. A impressão é que essa eles esqueceram que tal ideia sequer existiu após o confronto entre Andrea e Hannah. O porquê digo isso? Avaliando pelo trailer do próximo episódio, não há qualquer menção da proposta.
Gosto do Michael J. Fox. Na verdade, adoro. Ele foi o responável pela minha decisão em assistir a esquecível The Michael J. Fox Show anos trás e me divertiu e fez pensar no seu tempo em The Good Wife. Entretanto, como o grande trunfo da produção para ressucitar a audiência medonha dessa série ele ainda não funcionou. A culpa não é dele. Na verdade sua performance está sólida como sempre, mas o personagem é que ainda não mostrou a que veio. Que tipo de advogado ele é? Da onde ele e porque ele apareceu? Qual seu objetivo além de pular de cena em cena para aborrecer o presidente?
Por enquanto e por tudo que assistimos dessa segunda temporada, não acredito que Designated Survivor merece ser renovada. É claro que a ABC deve garantir mais um ano em razão do DVR e do mercado internacional. Criativamente falando, o drama nunca esteve tão perdido e sem foco desde quando o Congresso explodiu. É doloroso, mas é a verdade. Mais três episódios não salvarão esse segundo ano de ser uma completa perda de tempo.