Crítica: Episódio 7×09 de Scandal é apenas um Déjà vu

Review do nono episódio da sétima temporada de Scandal, da ABC, intitulado "Good People".

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ABC/Divulgação
Imagem: ABC/Divulgação

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“Eu me machuquei hoje/Para ver se eu ainda sinto/Eu me concentro na dor/A única coisa que é real”

( versos de “Hurt “/Ferido, canção de  Johnny Cash)

“Déjà vu” é uma expressão da língua francesa que significa, “Já visto”. Essa reação psicológica que nos transmite a ideia de que já estivemos naquele lugar antes, já vimos aquelas pessoas, reinou absoluta neste episódio a ponto de causar desconforto e incredulidade. Explico.

O episódio 16 da temporada 1 de This is Us abre com uma cena em flashback onde uma mulher grávida está recostada numa cama e tem sua barriga acariciada pelo companheiro. A cena diz respeito ao passado de Williann,  pai biológico de Rendall, um dos protagonistas, ao som de versos de uma bela canção de Johnny Cash. “You are my sunshine, my only Sunshine/You make me happy when skies are grey/You’ll never know, dear, how much I love you/Please, don’t take my sunshine away” . Pausa.

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Durante toda a semana que antecedeu ao episódio 7×09 de Scandal, as redes sociais foram inundadas com uma promo onde se via Quinn deitada numa cama de quarto em penumbra acariciando sua barriga e cantarolando os mesmos versos de Johnny Cash.  “Você é meu raio de sol, meu único raio de sol/Você me faz feliz quando o céu está nublado/Você nunca saberá, querida, o quanto eu te amo/Por favor, não leve meu raio de sol para longe”. Foi o prenúncio de que os roteiristas nos fariam mergulhar num mar de cenas passadas ocultas para entendermos como  se chegou ao impasse da gladiadora grávida, viva ou morta.

O que aconteceu realmente no episódio foi pior

A colcha de retalhos alinhavados em formato de episódio não foi o único desconforto mostrado. Fazer a releitura da cena de outra série e principalmente se esta a se encontra em exibição é no mínimo feio, pra não dizer falta de ética. Shonda Rhimes está de férias? O mais incrível foi como o fizeram de forma descarada sem citar referências. Talvez esse tenha sido um dos mais descuidados episódios.

Logo no início, vamos nos deparar com o mestre das sombras, Eli Pope, responsável pelos momentos mais memoráveis de Scandal. Ele empurra uma mala que transporta o robusto corpo de uma mulher grávida de nove meses e obesa, como se ela estivesse carregada de plumas. E o que é pior, fazendo de um simplório veterano de guerra sua presa para comprar num hipermercado a tal mala, berço, enxoval de bebê e armas poderosas com desconto promocional e transformar o homem em parteiro. Tudo pareceu comédia ruim e sem nexo, convenhamos.

E vamos seguindo as emendas inacreditáveis, repetindo a fórmula do episódio do sequestro de Huck onde sua salvação foi o sonho que tinha dos amigos o orientando para evitar o afogamento. Ali funcionou bem porque o gladiador se colocou no lugar dos amigos ao simular uma série de procedimentos e pistas. Bons tempos aqueles de Scandal, convenhamos.

Já a cena de Quinn amarrada como um animal bravo pelos pés, lúcida, viva, segue na mesma sintonia, porém é tudo mais confuso, entrecortado por vozes, questionamentos, pausas estranhas e dúvidas. Nada ali dá certo. A única certeza que nos passa é que realmente ela seria morta. Mas, num surto de compaixão, Eli Pope muda os rumos do destino traçado em um  momento de fraqueza incomum do personagem.

Scandal foi longe demais

Todos nós somos pessoas boas quando nos dão a chance de sê-lo.” A frase roubada do pobre vendedor soa estranha na voz dele, dono de uma oratória vigorosa e ímpar, assim como outra, “ Uma menina em casa, que benção, que alegria”.

Quinn afinal se revelou viva, menos mal. Seria muito ingrato ver a gladiadora grávida morta. Convertida em estrela de primeira grandeza, terá o final feliz merecido com seu bebê que já nasce encarcerado e presenciando a ocultação de um cadáver. Uma gladiadora mirim é sempre a chamada para a continuação do escândalo e certamente renderá muitos pontos na audiência.

Daqui em diante, qualquer tentativa para redimir o personagem protagonista de culpa e responsabilidade pela tragédia desenhada soará falso. Nada pode “salvar” Olívia  Pope da frase clara dita por ela mesma  ao sair da sala sem ver o corpo de Quinn: “Deixe passar alguns dias, temos que enterra-la.”

Encerro com outros versos de Johnny Cash e imagino uma Olivia contemplando as montanhas geladas de Vermont  e cantarolando. “O que eu me tornei/Meu amigo mais amável?/Todo mundo que conheço vai embora/No final”.

(MZR)

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