Crítica: Estreia de Pantanal traz superproduções de volta à TV

A tão aguardada estreia de Pantanal reascendeu o gosto do Brasileiro por assistir novelas novamente. Saiba como foi.

Pantanal Critica

Pantanal estreou nesta última segunda-feira, 29. E a cara do Brasil, quando se trata de audiovisual, é a novela. Mesmo com produções estonteantes nas séries, como Sob Pressão e Cidade Invisível, e sendo o país de Tropa de Elite e Cidade de Deus no cinema. Há quem ache que isso é demérito.

No entanto, essas pessoas esquecem o poder que um texto forte tem de atingir todo um país de uma vez, quando se faz o gênero mais popular de um país inteiro na mídia mais popular do mundo, a televisão. Assim, Gilberto Braga tocou na ferida dos brasileiros em Vale Tudo. Dias Gomes fez história ao rir do Brasil careta em O Bem Amado e Roque Santeiro.

Por isso, o Brasil gosta e sente falta das suas novelas! Passando por uma crise, o gênero tentou se afastar de si mesmo e perdeu parte do seu público no caminho. Com a pandemia, o que parecia difícil foi promovido para impossível em certos momentos.

PUBLICIDADE

Dessa situação de inquietação pura, nasce Pantanal. Ou melhor, renasce Pantanal. Originalmente oferecida para a Rede Globo e negada, a trama de Benedito Ruy Barbosa fez história e foi o maior sucesso da extinta Manchete em 1990. Desde então, e com o retorno de seu autor para a Globo, muito se falou sobre um possível remake e esse só veio acontecer em pleno 2022, na retomada mais plena do pós-pandemia. As expectativas foram altas e as apostas também. Seria a receita para o fracasso ou o sucesso?

De volta para o coração do público

Sem retirar os méritos das tramas mais experimentais, o público parece querer de volta uma novela com cara de novela. Ambientada no coração do Pantanal do Mato Grosso, Pantanal apresenta uma trama rural, um gênero extremamente querido do noveleiro.

Por parecer algo distante e desconhecido para boa parte dos brasileiros, a vida dos peões e vaqueiros sempre chamou bastante atenção. Pudera! Os vaqueiros sempre foram os cowboys do imaginário nacional. Ou melhor, os cowboys que são os vaqueiros do imaginário dos Estados Unidos.

Leia também: Pantanal, do coração do Brasil para os estúdios da Globo

Sendo autor de sucessos como Renascer e Cabocla, Ruy Barbosa é o maior nome do gênero, e escolher o que talvez seja o maior título do seu currículo para ser adaptado para os dias de hoje foi uma escolha natural. Escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito, a nova novela das 21h carrega consigo a missão de emocionar e, mais do que tudo, engajar o público através da linguagem universal de forma que só um folhetim pode fazer.

Munido do melhor que a tecnologia pode oferecer ao audiovisual, seu texto se torna uma experiência que só pode ser chamada de superprodução.

Pantanal estreia
Imagem: Divulgação.

Estreia muito antecipada

Depois da maior campanha publicitária em torno de uma estreia nos últimos anos, finalmente estreou Pantanal na tela da Globo. No capítulo de mais de uma hora, a dinamicidade apresentada pode representar o tom mais rápido que a trama pretende propor.

A passagem de tempo logo de cara foi ágil e não deixou muito espaço para descanso do público – fato que aqui funciona bem, em se tratando de uma estreia de trama com mais de uma fase. Ao longo da novela, mais passagens serão feitas e, se seguirem o que foi visto aqui, será bem feito.

Leia também: Novela Pantanal estreia na Globo com desafio da reinvenção

Ao mesmo tempo, o texto de Luperi não parece afobado em jogar todos os elementos esperados pelo público logo de cara. Afinal, novela se faz nas antecipações, não é? Nesse primeiro momento, o autor toma seu tempo, mesmo usando de vários recursos que aceleram a história. Tudo isso, para contar da ligação de José Leôncio com seu pai, Joventino.

Boa parte da essência do personagem central (aqui interpretado por Renato Góes e futuramente por Marcos Palmeiras) é construída com base na relação desses dois homens e do vazio que sobra com o sumiço dessa figura paterna, muito bem interpretado por Irandhir Santos.

Pai e filho que marcam o público

Na troca entre Góes e Santos, quem ganha é o público. Principalmente manifestada no talento mais experiente de Santos, a habilidade de se esvaziar de si e ser preenchido por um personagem tão longe da sua própria realidade chama muita atenção.

Nesse ambiente rural e de vida tão distante do nosso conceito padrão, o misticismo folclórico de algumas figuras se confundem com sua própria humanidade e criam homens que são por si só lendas. Assim é Joventino. Através não só das palavras, mas também dos pequenos gestos e da forma como olha para os animais, o personagem se manifesta. Dessa forma, preenche a tela sem atrapalhar a visto de cair o queixo que o cerca.

Assim, tudo que vem depois faz sentido. O que Leôncio sente por seu pai é, de certa forma, sentido pelo público também. Observando com certa distância, até o filho concordaria que o pai é uma figura quase inventada (assim sendo) e que representa bem o que se imagina sobre os homens da região e do trabalho que faz.

Pantanal Critica
Imagem: Divulgação.

Produção não deixa a desejar

Não se pode fazer jus a um texto eficiente sem uma equipe de igual competência. Divididos entre as gravações externas no MT e nos enormes sets dos Estúdios Globo, no RJ, a produção de Pantanal arregaçou as mangas para o trabalho. A riqueza nas vestimentas e as caracterizações (como o envelhecido Irandhir) não deixam dúvida sobre o tema. Mesmo assim, além da natureza, dos atores e da equipe, um elemento chama atenção para si desde o primeiro segundo: a direção mais do que eficiente de Rogério Gomes.

O conhecido Papinha, diretor de diversos títulos da emissora, é um dos nomes que se chama quando se fala sério numa produção. Usando os ótimos recursos que tem à disposição, consegue filmar bem seus personagens sem nunca esquecer que o Pantanal propriamente dito é o grande protagonista dessa saga. O contato com a natureza e os animais é um dos pontos positivos dessa estreia.

Inclusive, os próprios personagens gastam um bom tempo nos dizendo que aquele ambiente é deles, só estamos lá de “enxeridos”, como o bom pernambucano diria – e Santos disse.

Imagem: Divulgação.

Boas expectativas para o futuro

Caro leitor, não confunda: analisando-o individualmente, o primeiro capítulo da nova novela reuniu sim todas essas características. Porém, sabemos bem que uma novela não se faz de primeiro capítulo – nem de primeira semana, aliás. Já era de se esperar algo grandioso logo em sua largada. Aqui, seguimos com um olhar atento e por muitas vezes preocupado.

Vale notar que tem sido uma tendência recente os bons e fortes começos seguidos de tramas que se perdem sem saber nem o que pretendia fazer exatamente. Assim como foi o caso de Um Lugar ao Sol, por exemplo, novela que antecedeu Pantanal.

Por se tratar de uma trama mais dividida em fases e que deve ter menos capítulos do que a versão original, que oferece várias opções de conteúdos à serem resgatados, há um clima de esperança sobre Pantanal. É um peso difícil de carregar. Mas, se der certo, será um sucesso de encher o olho e se sentir alegre de ter acompanhado na época. Se der certo!

Nota: 4.5/5

Sobre o autor

Guilherme Bezerra

Pernambucano estudante de jornalismo. Apaixonado por séries desde sempre, aprendeu inglês maratonando How I Met Your Mother. Viajou por mundos e pelo tempo com o Doutor e nunca consegue dispensar uma maratona de Friends. Não vale esquecer a primeira maratona de séries com A Grande Família!