Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder é tudo aquilo que esperamos – e mais!

Liga da Justiça de Zack Snyder é tudo o que esperávamos: mais desenvolvimento, mais história, melhores cenas de ação e um bom filme.

Liga da Justiça

Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme totalmente novo e excelente!

Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme novo. Totalmente diferente da versão anterior, o Snyder Cut é tudo aquilo que os fãs esperavam – e vai além. Trata-se de um épico de quatro horas que extrapola o escapismo e nos revela a complexidade da máquina cinematográfica. Além de ser um indústria selvagem, injusta, Hollywood ainda tem outra de suas faces escancaradas: a eterna briga entre estúdios e diretores. Nesta versão, que consideraremos como a oficial, vemos o peso de um planejamento, de se seguir as visões originais e de se respeitar os objetivos do diretor e sua equipe.

Isso porque fica claro que os problemas vistos pela Warner no projeto original não são, de verdade, um problema. Para começar, o estúdio foi veementemente contra uma duração longa. Para os executivos, a Liga deveria ter duas horas, no máximo. Snyder planejava ter quatro. O problema é que a longa duração é facilmente justificada, principalmente quando colocamos as duas versões lado a lado. Em Snyder Cut há mais peso, mais desenvolvimento, mais personagens e mais sentido. 

A versão de Joss Whedon não era um embaraço apenas pela remoção do bigode de Henry Cavill, ou pelo humor bagaceiro que injetou à força. O filme de Whedon é uma vergonha porque deixava rombos gigantescos, tanto na narrativa quanto na lógica visual do projeto. Assistindo ao que Snyder executou, é impossível não pensar “ah, então é isso que deveria acontecer para aquilo fazer sentido”.

Snyder Cut resgata tudo o que foi deixado de lado e melhora seus vilões

Os inúmeros cortes, que buscavam uma duração mais enxuta, resultaram em uma trama confusa, cheia de buracos e remendos tolos. E são os remendos de Whedon que mais chocam. Em Snyder Cut, por exemplo, a investigação acerca dos parademônios é muito maior e mais crível.

Na versão anterior, os monstros do Lobo da Estepe eram resumidos na malfadada cena do telhado, quando o Batman investiga crimes misteriosos e descobre todo o esquema das Caixas Maternas e dos monstros através de piadinhas e meia dúzia de diálogos. Havia, portanto, o resumo de uma subtrama quase que completa, o que tira todo o brilho da história e seus personagens.

E já que falamos de Lobo da Estepe, é importante frisar que o vilão desta nova versão em nada lembra o antigo. Começando pelo visual, o inimigo veste uma armadura que permanece em constante movimento, como se fosse orgânica. Feita de um aço resistente, as “fibras” da armadura quebram objetos, flechas e impedem a penetração de qualquer ameaça externa. Além disso, o Lobo da Estepe de Snyder é gigantesco, o que muda toda a perspectiva da ameaça e da lógica do filme. Quando está ao lado de humanos, o Lobo é ameaçador. Com isso, passamos a temer pela segurança dos heróis, pois fica claro que eles talvez não consigam vencer um inimigo tão imponente.

Para completar, o Lobo da Estepe deixa de ser um vilão unidimensional e torna-se minimamente interessante, ainda que lhe falte nuances. Desta vez, por exemplo, fica explícita a sua vontade: reconquistar a confiança de Darkseid e retornar à galeria dos grandes vilões. Há, portanto, uma intenção, um objetivo que move o personagem dentro de seu rastro de destruição. No processo, há espaço até para a atuação de Ciarán Hinds crescer, muito embora o CGI siga pesado.

Filme ganha um importante e belo acabamento

E por falar em efeitos visuais, os de Snyder Cut funcionam muito bem. Percebe-se, entretanto, que algumas sequências não tiveram o acabamento necessário. Isso tudo, porém, se explica graças ao caráter do projeto, carregado de efeitos digitais. É fato que muita coisa foi finalizada nos últimos meses, desde que a nova versão recebeu sinal verde da Warner. Com a verba disponível, a mão de obra livre e o contexto da pandemia, os efeitos são ótimos (principalmente ao lembrarmos que é uma produção feita para streaming). Nesta perspectiva, entretanto, a impressão é a de que a versão de Snyder já estava praticamente pronta quando foi cancelada pelo estúdio.

Snyder Cut é tão diferente da versão anterior que é impossível que eles tenham filmado tudo nos últimos meses. É tanto material novo que a conclusão torna-se óbvia: já estava tudo gravado, a Warner apenas não quis usar. Caso faltasse tanta coisa a ser feita, o resultado final não seria tão completo e bem arrematado como é.

Vale apontar, ainda, o uso do formato 4:3, quadrado, que deixa bordas laterais no quadro. A ideia pode não agradar a todos, mas o objetivo é colocar mais informações na cena e não retirar. Snyder explica que há mais coisas nas partes de cima e de baixo na tela, e que esse acréscimo acaba rendendo um formato quadrado, pouco visto hoje em dia.

Neste sentido, o cancelamento do projeto original de Snyder revela uma triste e perigosa realidade das grandes produções e seus estúdios. O impacto do cancelamento foi enorme: Snyder foi afastado do projeto, metade do elenco perdeu seus papeis e muita gente da equipe ficou sem rumo. Para piorar, todos foram expostos ao comportamento tóxico de Joss Whedon.

Nada parece fora do lugar em filme que renderia um sólido multiverso

Com exceção de uma sequência nos minutos finais, que trazem um importante personagem, e parece deslocada, todo o resto parece estar onde sempre deveria estar. E mesmo essa sequência (você saberá qual é) revela um cuidado e um planejamento notáveis por parte de Snyder e do Universo Cinematográfico da DC. Durante todo o filme, Snyder planta pequenas sementes do que viria em filmes e sequências posteriores.

No final, o diretor escancara os objetivos e mostra o que surgiria nos capítulos seguintes, deixando o público salivando. Faltou tempo ao cineasta para que o desfecho não fosse tão abrupto; ainda assim, a cena funciona e comprova: o universo compartilhado tinha futuro, bastava confiar em quem estava construindo.

Nesta perspectiva, Snyder Cut constrói uma antecipação mais eficiente e completa do que aquela vista em Vingadores. Apesar de saber quem seria o grande vilão no confronto final, jamais temos um vislumbre dos resultados de uma ação trágica de Thanos. Em Liga da Justiça, porém, vemos com clareza o que acontece com o mundo e seus personagens depois que Darkseid vence a batalha. Com isso, tememos muito mais o vilão e seus atos, pois sentimos o custo de tudo isso. Ao mostrar o final, o público fica ávido por ver o que acontece antes do desfecho. É a prova de um projeto vasto, mas abortado antes do tempo.

Dos menores detalhes às grandes mudanças, Snyder Cut vale a pena

De pontos menores a outros gigantes, o Snyder Cut propõe uma nova experiência. Quem viu o longa anterior, definitivamente não viu este recente. O diretor altera pequenos, mas importantes detalhes. Desde certos diálogos até subtramas inteiras.

Não há, desta vez, planos vergonhosos que focam Gal Gadot em situações e posições que a objetificam. Dentre as maiores alterações, fica evidente a inserção de inúmeras cenas do Ciborgue e outros momentos que tornam Aquaman e Flash mais complexos e interessantes. O Barry Allen de Ezra Miller, porém, ainda falha na maioria dos alívios cômicos, principalmente dentro desta versão, muito mais violenta (há bastante sangue), séria e desbocada.

É interessante, ainda, perceber que cenas de diálogos ficaram maiores e sequências de ação mais curtas. Tanto o resgate de reféns na metade quanto o clímax parecem mais curtos, mas bem mais eficientes. Neste processo, alguns personagens crescem e brilham, principalmente o Batman de Ben Affleck, líder inconteste da Liga da Justiça. Snyder Cut, portanto, amarra pontas, expande o universo, enche os olhos e aquece o coração dos fãs. Comprova, ainda, que quando artistas têm liberdade para fazer o que bem entendem, muita coisa boa pode surgir. Liga da Justiça de Zack Snyder é muito melhor do que esperávamos. E todos sabemos o quanto esperamos.

E você, o que achou do longa? Deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades do Mix de Séries.

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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