Crítica: Locke & Key, da Netflix, é fantasia recheada de boas ideias

Locke & Key acerta no roteiro e no visual, entregando uma ótima mistura de aventura e fantasia que promete conquistar o público.

Critica Locke & Key Netflix

Locke & Key, da Netflix, é mistura certa de aventura e fantasia

Locke & Key é uma fantasia. Irá se decepcionar quem procurar por horror na adaptação da HQ de Joe Hill. A nova série da Netflix está mais para Nárnia, Jumanji e Harry Potter do que A Maldição da Residência Hill ou O Iluminado. Trata-se de uma aventura repleta de ideias criativas e bem executadas que casam com um elenco talentoso e carismático. Na esteira das fórmulas propagadas pela plataforma, Locke & Key é outro projeto redondinho que funciona a contento.

Inspirada na HQ homônima de Joe Hill (filho de Stephen King) e Gabriel Rodriguez, Locke & Key acompanha a família Locke que, depois de uma tragédia e ainda em luto, retorna para uma antiga e conhecida mansão. Não demora para que os três irmãos encontrem chaves mágicas que possuem estranhos e incríveis poderes. O perigo, é claro, pode estar na próxima porta, e logo surge uma moça que fará de tudo para reunir as peças.

Baseada na HQ de Joe Hill, série é fiel, mas não deixa de fazer importantes mudanças

Fica fácil de perceber o forte teor fantástico do programa, e a série não tarda em mergulhar nos conceitos e imagens mais fantasiosas possíveis. A série, contudo, faz mudanças interessantes com relação à HQ, mas sem nunca perder o charme ou a inspiração. No show, portanto, roteiristas e diretores encontram soluções criativas para a insanas ideias propostas nos quadrinhos. No material de origem, a “head-key” abre cabeças literalmente. Ao colocar a chave na nuca, o topo do crânio é aberto, como a tampa de uma caixa. É ali que as memórias, medos e alegrias se encontram. Na série, contudo, a chave cria uma “cópia” da pessoa (o que acontecia na fonte) que consegue acessar sua própria mente em um lugar separado (um baú, um shopping, uma casa).

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Detalhes como estes provam que nem toda adaptação tem de ser fiel, e que algumas mudanças precisam ser feitas, seja para ajudar no ritmo, criar novas situações ou descomplicar algo que seria estranho e difícil de ser feito e assistido. Deste modo, vale apontar, o visual da série merece elogios. Dos efeitos visuais competentes à direção de arte caprichada, Locke & Key aposta alto e raramente fica devendo. O clima de nostalgia é forte, e é impossível não recordar as séries e filmes que marcaram a infância de muitos. Se Stranger Things está para os anos 1980, Locke promete aquecer os corações daqueles que viveram os anos 1990 e 2000.

Série da Netflix é segunda tentativa de adaptação

É curioso, portanto, lembrar que o projeto já tentara ver a luz do sol há alguns anos. Sem a existência da Netflix, Locke & Key tentou a sorte na TV aberta. O piloto não foi aprovado e a série não recebeu sinal verde. É possível encontrar alguns vídeos da empreitada na internet. Os poucos minutos revelam um visual engessado e envergonhado, provavelmente pelo orçamento baixíssimo e pelo medo de abraçar a fantasia. É um exercício positivo pensar no que aquela série poderia ter sido, e quais as diferenças entre a nova tentativa e a antiga. É possível que o público de hoje aceite com mais facilidade a história, ou apenas devemos agradecer a fundação da Netflix.

O que Locke & Key acerta e merece reconhecimento é o ritmo imposto pelo roteiro. Enquanto O Mundo Sombrio de Sabrina e outros programas sofrem pelo excesso, a nova série da plataforma jamais cansa o espectador em seus capítulos de quase uma hora. Cada episódio tem uma aventura específica e uma estrutura clara a ser seguida. E a criatividade jamais decepciona. Basta apenas que o público adote o projeto de coração e mente aberta (sem precisar de uma chave para isso).

Universo e ideias criativas podem render várias temporadas

Locke & Key tem tudo para conquistar os fãs da HQ e aqueles não familiarizados com o universo. Enquanto permanece fiel às páginas, a série ainda encontra espaço para aumentar a participação de alguns personagens e mudar algumas coisas de lugar. Alguns poderão torcer o nariz para as alterações mais brutas, mas é preciso reconhecer a qualidade do roteiro ao estabelecer diversos conceitos, nomes e lugares de forma orgânica, sem jamais confundir ou cansar.

Sem tentar abraçar o mundo e conhecendo suas forças e limitações, Locke & Key faz um ótimo trabalho ao divertir e contar uma boa história. O universo é gigantesco e as ideias inúmeras; resta ao público responder e a plataforma renovar.

Portanto, em 2021, estaremos de volta para conferir as novas e fantásticas aventuras!

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.