Crítica: O Preço da Perfeição disfarça ser ruim com estética pretensiosa

Crítica da Primeira Temporada da série "O Preço da Perfeição", criada por Michael MacLennan, produção original disponível na Netflix.

Crítica O Preço da Perfeição Netflix
Imagem: Divulgação/Netlifx

Personagens inconsistentes, elenco frágil e enredo cercado de problemas dominam narrativa

Some balé, tentativa de homicídio, jovens em busca de prestígio e segredos, que temos O Preço da Perfeição. A nova série, que chegou ao catálogo da Netflix para complementar o hall crescente de produções focadas no universo adolescente até tenta ser boa… Mas não consegue!

Embora esse seja um terreno fértil para criação de bons produtos audiovisuais, tal subgênero ainda carece de obras comprometidas. E obras que ofereçam singularidade. Aqui, tudo parece uma colcha de retalhos, sem um bom sentido. 

Criada por Michael MacLennan – conhecido por Queer As Folk -, O Preço da Perfeição já inicia com uma proposta batida. Cassie, um prodígio do Balé da Archer School of Ballet, uma escola referência para bailarinos de Chicago, sofre uma tentativa de homicídio, o que a coloca em coma. Permanece o mistério: quem teria empurrado Cassie do 4° andar da escola? Quais seriam as motivações por trás de tal crime? Quem são as pessoas dessa instituição? 

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Dada a largada, a série nos apresenta à Neveah Stroyer. Esta, após a morte de Cassie, ocupa o seu lugar como uma aluna bolsista que vai movimentar uma série de hipocrisias, bem como interesses políticos escondidos naquele espaço. 

“É a sua vez de voar!” 

Imagem: Divulgação/Netflix

O seriado lida com muitos personagens ao mesmo tempo. Com isso, não demora muito para que possamos perceber os problemas. Outro ponto que a série erra é não explicar muito bem as motivações destes personagens. Assim, tudo acaba superficial demais, ao abordar suas batalhas individuais. 

June Park é a companheira de quarto de Nevah, advinda de um contexto problemático com a mãe. Já Bette Whitlaw, é cercada de expectativas dos familiares. Aliás, ela também serve como cota “Regina George” do seriado. Além disso, temos Oren Lennox em um retrato raso de adolescente com distúrbio alimentar. Para completar, ele também tem problemas com relacionamento – e sexualidade.

Dentre os outros personagens, temos Shane, o rosto mais receptivo desse grupo. Ele, inclusive, fomenta, entre outras coisas, uma discussão importante sobre rejeição. Igualmente, temos Nabil como o namorado de Cassie e um dos suspeitos de sua tentativa de assassinato. Para finalizar, Caleb está ali apenas para excessos narrativos. 

Do outro lado, a parte adulta do seriado é representada por Monique Dubois, a diretora da escola. Também temos Delia Whitlaw, a irmã de Bette e dançarina mais promissora da instituição; Ramon, um instrutor de balé recheado de segredos; e Isabel, uma policial empenhada em descobrir o que aconteceu à Cassie. 

Pretensão e superficialidade

Imagem: Divulgação/Netflix

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O que mais incomoda em “O Preço da Perfeição”, em um primeiro momento, é a sua pretensão. Narrado de forma quase póstuma por Cassie, a série faz intervenções em off para fornecer explicações metafóricas. A tentativa, assim, é ligar o balé e a realidade daqueles personagens. No entanto, isso mostra que o seriado quer ser muito mais do que o seu roteiro é capaz de explorar. 

A visão teatral e dramática que a série apresenta sobre aquela realidade é rasa. Da mesma forma, tenta fazer com que enxergamos uma complexidade que não existe. Assim, as sequências de pesadelos de Neveah, por exemplo, deixam a desejar justamente porque nos levam quase que a outro seriado. Um que, inclusive, tem ideais mais lúdicos e profundos.

Além disso, o tom estético, tenta fazer com que o O Preço da Perfeição crie uma imagem complexa de si mesma. Mas essa que cai por terra à medida que pouco exploram a construção de nuances e sutilezas.

O ballet, afinal, como uma arte histórica e relevante, poderia render um excelente estudo de personagens e exercício metalinguístico, mas tudo o que o seriado faz é instigar o seu público a criar aversão pelas pessoas que o constroem. 

O Preço da Perfeição sabe para onde quer ir sobre o que quer falar?

Seu título é autoexplicativo. Falamos de um seriado que quer explorar as tentativas de ser perfeito em um mundo absurdamente competitivo. E sobre quais os preços a serem pagos por cada atitude para chegar lá. 

Mesmo com essa justificativa até provocativa, aqui as peças são muito mal posicionadas. Bem como desenvolvidas. Assim, todo esse ônus pode ser colocado, em grande parte, nos personagens, que não condizem quase nada com suas respectivas personalidades. 

A sua protagonista, Neveah, por exemplo, apesar de ter boas motivações, ora se apresenta como uma figura forte e consciente, ora se perde dentro de suas próprias camadas. A personagem é construída envolta por estereótipos: sua imponência é calcada em tons combativos, agressivos, e as suas cenas são compostas por muitas frases de efeito que soam constrangedoras pela maneira incessante como aparecem na tela. 

E não apenas nela reside tal problema. Não há como não ficar incomodado com personagens mudando o rumo de suas ações sem qualquer desenvolvimento que comprove essa evolução. Absolutamente todos sofrem dessa mesma inconsistência. 

No final, é uma série esquecível

Há poucas qualidades aqui, as quais os defeitos ofuscam. As cenas de dança, muito bem coreografadas, e as problematizações sutis acerca de raça e classe ficam à margem de uma estrutura bagunçada e de uma montagem e uma direção desordenadas. 

O Preço da Perfeição guarda muitas semelhanças com Pretty Little Liars: segredos, adolescentes problemáticos, mensagens de texto subliminares, vilão encapuzado, tentativa de homicídio de uma garota que guarda segredos. A diferença, no entanto, é que no seriado do FreeForm seus roteiristas sabiam que precisavam balancear a leveza e a seriedade de seus passos pois estavam diante de uma trama cercada de improbabilidades. O Preço da Perfeição, ainda assim, quer ser um “Cisne Negro” sem nem mesmo ter passado pelo crivo do amadurecimento e da consciência de sua proposta. 

Todos os episódios estão disponíveis na Netflix. E você, o que achou? Deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades aqui no Mix de Séries.

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Sobre o autor

Bernardo Vieira

Redação

Bernardo Vieira é um jornalista que reside em São José, Santa Catarina. Bacharel em direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina, jornalista e empreendedor digital, é redator no Mix de Séries desde janeiro de 2016. Responsável por cobrir matérias de audiência e spoilers, ele também cuida da editoria de premiações e participa da pauta de notícias diariamente, onde atualiza os leitores do portal com as mais recentes informações sobre o mundo das séries. Ao longo dos anos, se especializou em cobertura de televisão, cinema, celebridades e influenciadores digitais. Destaques para o trabalho na cobertura da temporada de prêmios, apresentação de Upfronts, notícias do momento, assim como na produção de análises sobre bilheteria e audiência, seja dos Estados Unidos ou no Brasil. No Mix de Séries, além disso, é crítico dos mais recentes lançamentos de diversos streamings. Além de redator no Mix de Séries, é fundador de agência de comunicação digital, a Vieira Comunicação, cuido da carreira de diversos criadores de conteúdo e influenciadores digitais. Trabalha com assessoria de imprensa, geração de lead, gerenciamento de crise, gestão de carreira e gestão de redes sociais.