Crítica: O Problema dos 3 Corpos é a melhor estreia da Netflix em muito tempo

O Problema dos 3 Corpos é o melhor lançamento da Netflix em muito - muito - tempo. Série tem tudo para ser a sua próxima maratona.

O Problema dos 3 Corpos

Alguns livros são considerados inadaptáveis. No curso da história do audiovisual, alguns romances foram tachados como inatingíveis. “O Senhor dos Anéis”, “Duna” e “Game of Thrones” são apenas alguns exemplos. Entretanto, Kubrick uma vez disse que, “se pode ser escrito ou imaginado, pode ser filmado”. A máxima parece verdadeira. Afinal, das três obras recém citadas, todas já foram adaptadas com sucesso.

“Game of Thrones”, aliás, ganhou as telas pelas mãos de David Benioff e D. B. Weiss. Agora, a dupla chega à Netflix com uma missão que lhes parece costumeira: dar vida a um livro dificílimo. “O Problema dos 3 Corpos” é baseada na trilogia escrita por Cixin Liu que, até então, estava no hall dos romances impossíveis de adaptar. Os roteiristas, contudo, já acostumados a trabalhos impossíveis, abraçaram a ideia.

E o resultado é o melhor lançamento da Netflix em muito – muito -tempo. Benioff e Weiss têm a facilidade – ou dom – de transpor às telas as complexidades de personagens e mitologias. “Game of Thrones”, às vezes, parece ainda mais inadaptável do que “Senhor dos Anéis”, por exemplo. Afinal, a escrita de George R. R. Martin investe em uma narrativa em primeira pessoa, o que por si só estabelece uma limitação notável.

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“O Problema dos 3 Corpos”, por sua vez, apresenta uma história fragmentada, que vai e volta no tempo, no espaço e perpassa diversos personagens. A grande diferença de Benioff e Weiss para outros roteiristas, contudo, é que sabem inserir pequenos detalhes que ajudam o espectador a acompanhar o macro, sem jamais esquecer do micro. Em determinado momento, por exemplo, a câmera faz um pequeno movimento que nos revela uma foto. Esse retrato nos esclarece quem é a versão mais jovem de uma personagem que vemos envelhecida.

É um artifício simples, e talvez até expositivo, mas que desafoga a audiência, que pode prestar atenção em outros detalhes ao invés de quebrar a cabeça para decifrar quem é quem nas diferentes linhas temporais. Neste sentido, “O Problema dos 3 Corpos” é um programa complexo, denso, mas que coloca suas forças no que importa, tirando do caminho as dificuldades que apenas atravancariam a narrativa e os personagens.

Piloto desperta o desejo por uma intensa maratona

Assim, a série faz um excelente trabalho no episódio piloto, por exemplo. Ao contrário de vários lançamentos modernos, “O Problema dos 3 Corpos” busca estabelecer os principais rostos e tramas logo na estreia. É uma estratégia “clássica” que Benioff e Weiss respeitam, pois sabem seu valor. A série apresenta o mistério de forma complexa, porém clara e interessante para o espectador.

O novo show da Netflix, aliás, faz o que toda boa ficção-científica deve fazer: aliar ideias inventivas com visual arrojado e senso político-social aguçado. Não é à toa, por exemplo, que a série comece com a morte de um cientista, que é atacado justamente por defender e ensinar a ciência. É sintomático, ainda, que a história se encaminhe rumo à divisão da sociedade, que deve discutir sobre qual lado assumir quando a humanidade ficar por um triz.

Sem vergonha alguma de assumir elementos de ficção hardcore, “O Problema dos 3 Corpos” não abranda em seus tons. A história é séria e urgente, mas também colorida e inventiva. Neste aspecto, a direção encontra um ótimo equilíbrio entre os momentos mais obscuros e aqueles mais loucos. Assim, é fácil aceitar doideiras visuais como as visões numéricas ou o céu estralado que pisca como se fossem um conjunto de lâmpadas.

Facilita, ainda, que o elenco apareça completamente engajado nas invencionices de um programa que clama por uma maratona.

Nota: 4/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.