Crítica: Segunda Chamada, da Globo, é um retrato fiel das dificuldades dos brasileiros
Segunda Chamada é um retrato fiel das dificuldades dos brasileiros! Crítica da nova série do streaming da Globo, Segunda Chamada.
Segunda Chamada na Globo
Em um ano de muitas apostas em produtos para seu serviço de streaming, o Globoplay agora volta um pouco as atenções para sua programação normal com mais uma promessa: Segunda Chamada.
Seguindo o estilo consagrado de Sob Pressão, a nova série nada mais é do que uma versão do drama hospitalar sendo que em um ambiente diferente – a escola. O estilo narrativo que mistura episódios procedurais e dramas pessoais dos personagens centrais chega às salas de aula voltadas ao público adulto, que tenta uma segunda chance para obter educação formal.
Estrelada por Debora Bloch, que recentemente vem tomando um protagonismo interessante nas séries da Globo, Segunda Chamada mostra uma realidade por muitas vezes ignorada do debate geral no Brasil. Milhares de adultos, alfabetizados ou não, não terminaram o ensino médio e/ou o ensino fundamental. Ao chegaram a maior idade, assumem outros compromissos como trabalho e cada vez o sonho da formação fica mais distante.
Nas salas de aulas, não vemos somente alunos. Lá, estão presentes preocupações, sonhos, frustrações. Acima de tudo, esperança. Tais assuntos não poderiam ser tratados de qualquer forma. Assim, o primeiro ponto positivo vem da delicadeza. Na série, todos são humanos com seus próprios problemas. Todos têm algo que o levam até ali, inclusive os professores. Em momento nenhum o ambiente é opressor ou de julgamento, pelo contrário, o público de cara simpatiza com todos.
Os rostos da educação
Os temas e situações abordados em Segunda Chamada não são fáceis; luto, abuso, transfobia. Ao tratar com seriedade e intimidade os assuntos citados, a dupla de criadoras da série definem o tom que leva o telespectador a total imersão naquele ambiente. Júlia Spadaccini e Carla Faour, roteiristas que estrelam o primeiro trabalho com maior destaque na televisão, se preocupam pouco em enfeitar a realidade vivida por diversos brasileiros. Ao contrário, joga luz sobre as minorias gritantes, aquelas que dependem de serviços desacreditados do Estado e da boa vontade de um time de professores que luta uma guerra por dia para exercer sua profissão.
Contudo, nada valeria uma brilhante texto se não acompanhado de um igualmente brilhante elenco. Aqui isso se mostra extremamente verdadeiro. Liderados pela dedicada atuação de Bloch, outros nomes tomam grande destaque. Deles, Thalita Carauta talvez seja a maior felizarda. Ela poderá mostrar ao grande público que a acompanha há anos a ótima atriz dramática que é. Cada um dos professores carrega sua própria trama, além da visível dedicação ao oficio e frustração em momentos de grande expectativa com seus alunos. Talvez seja o caso de todas as escolas de adultos, muito bem representadas aqui, repletas de profissionais que trabalham com amor e que acreditam na causa – necessário a um trabalho tão árduo.
O time não se resume a rostos conhecidos da TV. A cantora Linn da Quebrada, mais conhecida pelo público LGBT+, faz sua estréia como atriz. Na trama, vive uma aluna cobradora de ônibus que frequenta as aulas noturnas. Lá, diversas questões de aceitação e respeito são levantadas. Talvez ajudada pelo fato de ser próxima ao tema, a atriz está muito a vontade no papel, nem parecendo ser sua primeira vez nas telinhas. Nos primeiros episódios da série, ainda não pudemos ver mais da história prévia da aluna trans, além do seu nome de batismo, mas já pudemos ver muito destaque – merecido – para ela.
Série mais politizada
No momento atual do Brasil, Segunda Chamada além de contar grandes histórias, parece levantar uma bandeira. Trazendo a atenção para um parte delicada do sistema educacional, a série luta, de forma geral, pela educação e o direito de todos de tê-lá. Em um dos adereços de cena no primeiro episódio, se lê:
“Educação não é gasto, é investimento”.
Essa frase talvez seja o melhor resumo para o que a série se trata. Enfim, a série fala de uma luta diária e de todos!
Além disso, palavras brancas. Entretanto, são necessárias. Mas, ainda assim. Todavia, mais palavras. Além disso, ser colocadas. Mas, para ficar verde. Entretanto, e ficar legível. Além disso, funciona.