Crítica: Sharp Objects apresentou grandes reviravoltas em seu excelente final
Crítica do oitava, e último, episódio de Sharp Objects, intitulado "Milk".
Episódio final marcou fidelidade ao livro
Quando a temporada de Sharp Objects começou, meu maior medo era de mudarem algo significativo na história. Mas agora, escrevendo a crítica final da série, posso respirar aliviado. A série se manteve fiel ao livro, do início ao fim, e entrou para o hall das grandes adaptações da HBO.
Não posso dizer que ela fora unânime, pois certamente muitas pessoas não gostaram dela. Isso porque o seu ritmo não era o dos melhores e, como já havia explicado, muita coisa ficava implícita. Para quem lera o livro, o panorama estava sempre claro, mas Sharp Objects foi feita mesmo para confundir.
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O episódio final levou, até os últimos segundos, este conceito de confundir. E ao jogar as pistas, durante os episódios anteriores, o público levara a crer que era a Adora a grande assassina. Mas não, ela não era.
“E se quando você morre, parte sua vai para o céu e parte sua fica aqui, só para ver o que acontece?”
O começo deste capítulo final fora agonizante. Camille sabia o que Adora fazia, e ela precisou se permitir ficar doente para poder incriminá-la. A jornalista estava convencida de que a mãe era a grande assassina de Wind Gap e tudo fazia sentido.
Quando Camille deixou Adora lhe dar o remédio, era esta a função: ser a prova viva de que sua mãe era uma assassina. E foi desesperador ver tudo aquilo. A satisfação na cara de Adora, de finalmente “estar cuidando” de Camille, era doentio. Amma, por outro lado, também sabia. Ou fingia não saber. Mas ela criara uma certa resistência ao remédio que era preparado por Adora. Só não sabia até quando iria resistir.
Quando Camille disse para Amma ir atrás de Richard, foi como um sopro de esperança, rapidamente cortado. Entretanto, Curry – o editor de Camille, foi fundamental para tudo aquilo ali acabar. Ele fora até a delegacia e avisou a todos o que poderia estar acontecendo. Foi a deixa para o detetive invadir a casa de Adora e a pegá-la no flagra.
Colocando os pingos nos “is”
A série brincou, durante os seus oito episódios, sobre quem poderia ser o assassino. Ela contara, de forma devagar, todo o mistério por trás do sumiço das meninas, e como aquilo afetara Wind Gap. Mas o interessante mesmo era ver a personalidade e as histórias por trás de cada personagem.
A mãe que tinha ares de louca, o xerife que fingia não saber o que estava acontecendo, o detetive forasteiro com sede de solucionar o caso e a jornalista resgatando feridas do passado. Quando ela parecia não ser sobre nada, ela era na verdade sobre tudo.
Nos últimos episódios, vimos John Keene – irmão da primeira garota morta -, ser incriminado e preso. Mas não era ele. Seu olhar nunca apresentou marcas de violência. Era sempre marcas de dor, e dor essa que Camille sabia qual era.
No final da série, tudo fica claro: Adora tinha Síndrome de Münchhausen e matara sua filha do meio. Ela tentara, anteriormente, matar Camille. Entretanto, ela não conseguira devido o fato de Camille ser resistente ao “amor” que a mãe tinha para dar. Ao longo do tempo, Adora também tentara matar Amma, mas esta acabou criando uma resistência ao remédio feito pela mãe – com veneno de rato – e vinha adoecendo aos poucos.
Camille descobre tudo isso e liga os fatos ao assassinato das meninas – que eram muito próximas de Adora. Entretanto, tudo isso deixou ela cega para o fato de que sua irmã era, na verdade, a assassina de Ann e Natalie. E esse fato fora revelado, nos últimos instantes, como um grande plot-twist. Adora acabou sendo presa, julgada e condenada. Acabou sendo considerada a assassina das garotas, mas na verdade ela só matara a filha. E, no fundo, ela sabia que Amma era a assassina. Acabou, assim, tendo de acobertá-la.
Pistas foram jogadas desde o início…
Se ligarmos todas as pistas, desde o início, poderíamos ver que era Amma a assassina. O conto da “mulher de branco”, que era contado por Adora – e que ficara no imaginário da garota -, a ligação dela com as meninas, sua raiva interior, seu comportamento agressivo e provocativo…Todos indícios de que ela era uma grande assassina! A questão dos dentes, de fato, nunca fora explicado. Mas deixamos o imaginário de lado, levando em conta que a adrenalina lhe dava força para arrancá-los.
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O final da série é extremamente fiel ao livro e fiquei muito satisfeito que a série o manteve. Toda essa condução serviu para sustentar uma incrível narração de uma história sobre dor e perdas. E isso foi atribuído a todos os personagens.
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Sharp Objects nunca fora, de fato, uma série sobre o assassinato da garota. Mas, sim, sobre como Camille tinha problemas internos para resolver e como isso colidiu com a morte das meninas em sua cidade natal. E o final mostra que, às vezes, o problema nem sempre está onde o enxergamos.
Parabéns aos produtores, Gillian Flynn, e principalmente Amy Adams que deu vida à Camille de forma sensacional. Uma série para ficar guardada no coração, sem dúvidas!
A você que leu todas as minhas críticas, durante a temporada, um muito obrigado (confira elas aqui) e até a próxima!