Crítica: Sharp Objects tem começo fiel ao livro e promessa de ser uma série incrível
Review do episódio piloto de Sharp Objects, nova minissérie da HBO, intitulado "Vanish".
Bem vindos à Wind Gap. Este não é um lugar seguro…
Dando sequência a um ano que prometia ser vazio sem Game of Thrones, a HBO traz mais uma promessa de sucesso logo após se despedir de uma incrível temporada de Westworld. A nova série do prime time de domingo do canal, Sharp Objects, baseada no best-seller “Objetos Cortantes“, de Gillian Flynn, não poderia ser melhor título para tal função.
Dirigida pelo mesmo cara que foi um dos responsáveis pelo sucesso de Big Little Lies no ano passado, Jean-Marc Vallée, a série tem aspectos de direção que são conhecidos pelo público do canal. Mas aos passos próprios, se propõem a contar uma história envolvente e intrigante.
Para quem leu o livro, assistir ao piloto traz um panorama interessante de como a história é contada. Já para quem não leu, a história é apresentada de forma clara e precisa, com todos os elementos necessários para prender o espectador até o final.
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Amy Adams dá vida à Camille Preaker, uma jornalista de cidade grande que é jogada no olho do furacão quando seu editor chefe pede para que ela volte à sua cidade natal, Wind Gap, para investigar o assassinato de uma garotinha, e o desaparecimento de outra. A história, possivelmente de um serial killer, seria tudo que o seu jornal precisava para se destacar em meio ao caos das grandes metrópoles. Uma história escrita por uma jornalista, que tivesse um apelo emocional envolvida com a trama central de sua narrativa. E isso era tudo o que Camille não queria.
“Você tem riqueza herdada. Ou é lixo. Eu sou pobre, de riqueza herdada…”
A direção de Vallée foi fundamental para mostrar o contraste entre St. Louis, cidade onde Camille reside atualmente, e Wind Gap, o “lar” em que ela é forçada a retornar. Aos poucos vamos entendendo, pela percepção da protagonista, o quão ela enxerga a cidade como tóxica, e possivelmente a responsável por todos os problemas de sua vida.
Apesar da série não deixar claro, logo de início, para quem leu o livro sabe que a vida de Camille nunca fora fácil na infância. Entre promiscuidade precoce, e a perda de sua irmã mais nova, a personagem se vê envolta de uma compulsão forte de se cortar. Mas não para se matar, e sim para escrever palavras em seu corpo. Os Objetos Cortantes, que dá nome a história, se tornam assim cada aspecto de Wind Gap, que a fez ser o que é.
E mesmo a série não sendo clara neste aspecto, até os últimos segundos do piloto, em compensação, ela trata de inserir em flashs, logo nos primeiros instantes, algo que é diluído ao longo do livro: a relação que ela tinha com sua irmã mais nova, e como foi doloroso vê-la partir.
De certa forma, tudo isso impulsiona a vontade de Camille fazer uma boa história. Ela tem a necessidade de investigar o caso, a fim de descobrir – ou solucionar – o assassinato de uma garotinha, e também de dar o fora dali.
Personagens chaves, que completam a trama…
O piloto exerceu a excelente função de apresentar e inserir bem os elementos narrativos, e todos os personagens que são fundamentais para o desenrolar da história.
A mãe de Camille, estranha e fria, que não sabia receber bem a filha após um longo tempo – quase uma estranha. A relação das duas é trabalhada ao longo da história de Objetos Cortantes, e a atenção para esta personagem deve ser constante. Adora coloca uma barreira de gelo ao lidar com a filha, mas a todo instante lembra o quão é incômodo vê-la trabalhar na reportagem do assassinato e desaparecimento de garotas que eram próximas à matriarca.
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Além dela, o Detetive Richard Willis, interpretado pelo ator que estava sumido da TV, Chris Messina, é um personagem interessante. Assim como Camille, ele é de fora, e está ali para investigar o caso. Mas ao contrário da repórter, ele não tem qualquer envolvimento emocional com a cidade, seus habitantes, e principalmente com as garotinhas. O que, talvez, o coloque à frente de Camille na investigação. Há uma tensão entre eles, que deverá ser trabalhada nos próximos episódios. Ou eles jogarão um contra o outro, ou trabalharão juntos para desvendar esse mistério. Quem sabe um pouco dos dois?
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Para completar, a irmã de Camille, Amma, é uma personagem quase tão importante quanto a mãe. Ela foi criada pela mesma mulher que a repórter, e pode ser o elo entre o passado e o presente na vida de Camille – em se tratando de como lidar com seus familiares. Os aspectos de Amma, dentro e fora de casa, são interessantes de serem observados. Entre a pacata garota, e a pervertida de patins, há diversos aspectos da irmã em que Camille se vê, como um espelho. E essa relação é um dos vetores mais interessantes que Sharp Objects precisa trabalhar.
Mais uma garota morta!
O piloto termina em um ponto chave do início do livro: o momento em que Camille – e toda Wind Gap – descobre que a segunda garota desaparecida, Natalie Keen, também foi morta, de forma bem parecida que a primeira. E a linha narrativa para sua matéria está traçada.
Tudo indica que há mesmo um serial killer na cidade. Mas qual o padrão? Por que estas garotas indefesas, aos olhos de todos? Cada detalhe leva Camille a relembrar a morte de sua irmã, de causa ainda não revelada na trama. Teria isso alguma relação? São perguntas que leva o público, ao final do episódio, querer mais dessa história.
Fidelidade.
Para os leitores que se deliciaram nas páginas de Gillian Flynn é muito gratificante ver certos aspectos ganharem vida na série da HBO. Da manga comprida cobrindo os braços de Camille, das adolescentes de patins andando pelas ruas de Wind Gap. Dos bares sujos e frequentados por homens, da obsessão por bebida ao requinte da casa de Adora.
Cada detalhe ganha vida sob a visão de Jean-Marc Vallée, dando uma fidelização incrível para a fonte. Algo que foi muito elogiado em Big Little Lies. Exista, talvez, um único problema: algumas cenas são tão escuras, ou descocadas, que às vezes não é possível ver os rostos dos personagens. Mas creio que tudo faça parte da concepção que o diretor quer passar. De qualquer forma, se a série continuar assim nos próximos episódios, tem tudo para ser uma das grandes produções do ano e, possivelmente, o nome forte para o Emmy de 2019.
Para o segundo episódio, fica a instigante curiosidade de saber mais sobre o novo assassinato, e como que isso tudo levará Camille para um envolvimento emocional que ela mesmo não imagina ter com tais casos.
Eu estou curioso, e vocês?