Crítica: Stranger Things 3 cresce em todos os aspectos e já é a melhor temporada

Stranger Things chega ao terceiro ano aumentando a escala e comprovando sua maturidade técnica e narrativa. O resultado é a melhor temporada da série.

Stranger Things chega ao terceiro ano aumentando a escala e comprovando sua maturidade técnica e narrativa

Quando Stranger Things surgiu em 2016, ela representava a nova geração, a TV que começava a mudar drasticamente. Sob o comando dos Irmãos Duffer, o programa surgia como forte representante da televisão de streaming, que pode ser vista quando e como o usuário achar melhor. Foi a série, ao lado de outras como House of Cards Orange is the New Black, que solidificou o formato e permitiu que a plataforma não fosse apenas uma promessa, mas uma realidade indiscutível.

Hoje, Stranger Things é veterana. Já foi indicada duas vezes ao Emmy de Melhor Série, arrebatou milhões de fãs e, como todo bom sucesso, se inscreveu na cultura pop de forma permanente. Assim como a plataforma que a hospeda, Stranger Things é uma realidade respeitável. Em seu terceiro ano, a franquia de maior sucesso da Netflix chega à maturidade com orgulho e segurança. Depois de uma estreia meteórica e uma segunda temporada que dividiu o público, a terceira parte do show entrega um espetáculo visual e uma história consistente. Fica nítido que, assim como os jovens personagens, Stranger Things está mais séria, inteligente e segura de si.

Crianças crescem e tornam-se personagens mais complexos e interessantes

Uma das provas é o fato da série conseguir aumentar a escala, manter-se séria e jamais perder o humor, as cores e a diversão. Os personagens lidam com problemas maiores e mais profundos, mas não se jogam na escuridão absoluta. O elenco mirim, antes tão fofo em sua infância atrapalhada, hoje entra na pré-adolescência com muito hormônio, dúvidas e atitude provocante. Nem por isso abandonam a inocência ou o papel que lhes é claro: jovens lidando com grandes problemas sem deixar de ser jovens. Não temos, aqui, crianças agindo como adultos, nem adentrando nas trevas, o que acaba sendo uma das grandes qualidades de Stranger Things. 

Neste sentido, Stranger Things aproxima-se cada vez mais da saga Harry Potter, amadurecendo a cada capítulo e mudando o tom a cada passo. Assim como no épico bruxo, a série adota uma nova abordagem e se renova, tudo sem fugir das raízes. Assim, os personagens que aprendemos a adorar seguem os mesmos, mas mais complexos, mais humanos. Com isso, criam-se dinâmicas que enriquecem os personagens e a mitologia central do programa. Eleven e Mike não se tornam apenas namorados; o relacionamento do casal desenvolve ambos os personagens sem transformá-los em clichês ou peças dependentes um do outro.

Desta forma, a relação entre Mike e Eleven, bem como a dela com Max, catalisam o crescimento da jovem. Ao passo que Eleven torna-se uma mulher crítica, Mike reavalia sua postura enquanto homem. Parecem discussões demasiado avançadas para personagens tão jovens, mas a verdade é que o roteiro lida muito bem com tais abordagens, além de enriquecer debates entre o público.

Temporada se divide em diversas tramas paralelas… e todas funcionam!

As diversas dinâmicas entre personagens, aliás, tornam a estrutura da série mais complexa e arejada. Não ficamos presos ao grupo jovem, tampouco a um problema isolado. Na terceira temporada, os Irmãos Duffer e seu time de roteiristas apostam todas as fichas e jogam alto. São várias tramas simultâneas e complementares, que formam um rico mosaico e provam a capacidade do roteiro em desenrolar uma boa história.

Enquanto Hopper e Joyce seguem em uma investigação própria – e rica por si só -, Eleven e Max partem numa jornada de auto-descoberta e perigo iminente. De outro lado, Mike, Lucas e Will perdem o contato entre si enquanto Dustin forma uma engraçada e nova parceria. Por fora, Nancy e Jonathan têm uma ideia da vida adulta ao encararem o primeiro emprego sério de suas vidas. O melhor de tudo é que todos os núcleos, sem exceção, funcionam. Tudo avança de forma harmônica: personagens, tramas isoladas e mitologia principal.

Força do elenco e qualidade técnica são forças incontestáveis do terceiro ano

Nada funcionaria, entretanto, sem um elenco preciso e uma técnica irretocável. Dentre os jovens, apenas Finn Wolfhard (Mike) parece desalinhado dos demais. Inseguro, o ator ainda precisa correr para atingir o alto nível dos demais. Ainda assim, sua atuação não prejudica o resultado final. Dentre os adultos, Hopper segue roubando a cena e a maioria dos risos, enquanto Joyce enfrenta os próprios demônios e até a Sra. Wheeler ganha espaço. Dentre as novidades, a melhor é Maya Hawke, na pele da esperta Robin. Carismática, a garota é uma adição mais do que bem-vinda à galeria de personagens.

Stranger Things também adota uma nova abordagem visual. Investindo em cores e efeitos visuais ainda mais complexos, a série cresce em cada aspecto. Da fotografia cinematográfica à estupenda trilha sonora (tanto a original quanto a adaptada), os episódios ainda são amarrados por uma edição precisa, que brinca com os sons e imagens para criar cortes e rimas orgânicas e criativas. Na direção, os Irmãos Duffer, ao lado de outros cineastas, criam um universo que parece maior e mais perigoso. Sua câmera é precisa ao explorar todas as possibilidades, reconhecendo forças e limitações técnicas e de orçamento, contornando problemas e entregando um produto que enche os olhos.

Terceira temporada é experiência fechada que prepara o terreno para o que pode ser o final da série

Consolidando-se como uma das maiores e melhores franquias da cultura pop (veja bem, da cultura em geral), Stranger Things fecha três ciclos em ótima forma. O futuro é incerto, mas parece que o fim não se encontra muito longe. A série caminha para um desfecho natural, sem correrias ou exageros. Trata-se de um projeto feito com carinho e precisão que ainda pode nos entregar grandes momentos e diversões.

A saudade já fica e o desejo é que estes personagens possam retornar em breve. O público e a nova TV, que eles ajudaram a construir, precisam de suas presenças.

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Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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