Crítica: Sweet Tooth é a linda e imperdível fantasia da Netflix

Sweet Tooth é a nova e imperdível fantasia da Netflix. Com ótimo visual, série ainda tem altas doses de aventura e esperança.

Sweet Tooth

Jeff Lemire é um dos melhores escritores de histórias em quadrinhos da atualidade. Exímio criador de universos, o autor se divide entre grandes épicos inventivos e dramas intimistas e microscópicos. Entre os dramas “Condado de Essex” e “Royal City”, ou sucessos de gênero como “Gideon Falls” e “Black Hammer”, Lemire é um dos sujeitos mais bacanas e admiráveis da cultura pop moderna. Sweet Tooth, que agora ganha uma caprichada adaptação na Netflix, é uma de suas obras-primas.

Na trama, um vírus dizimou grande parte da população. Ao mesmo tempo, crianças híbridas começam a nascer. Nelas, há feições e diferenciais humanos mesclados com animais. Assim, Gus, o protagonista da história, é um híbrido de homem com cervo e vive isolado na floresta com um homem que parece ser seu pai. Os híbridos são caçados e mortos, seus corpos valem milhões no mercado. É por isso que Gus se esconde. Até que tudo vira de pernas para o ar e o destino do garoto cruza com o de Tommy, um enorme e misterioso errante.

Série traz uma linda dose de esperança e aventura

Criada por Jim Mickle, que tem bons créditos no cinema, Sweet Tooth é a síntese perfeita da obra de Lemire. Assim, o projeto mistura com exatidão o escopo de uma mitologia vasta com uma abordagem indie, que foca no íntimo para desenvolver suas narrativas. Desta forma, embora invista tempo em grandes mistérios, a história é, enfim, de Bico Doce e seu estranho parceiro de viagem. No percurso, cresce o espírito humano e Sweet Tooth é uma fantasia linda, tanto para os olhos quanto para o coração.

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Logo, não se surpreenda ao se ver torcendo por Gus ou Tommy logo nos primeiros minutos do brilhante piloto. Dirigido com habilidade por Mickle, o primeiro capítulo estabelece o visual e o ritmo de Sweet Tooth. E o roteiro acerta em cheio ao investir tempo e atenção ao que é preciso entender num primeiro momento. Neste sentido, é um grande acerto que o texto não queira falar sobre tudo e todos que surgirão mais adiante na narrativa. É um pecado de diversos pilotos tentar abordar o máximo de histórias e personagens logo de início, mas isso felizmente não acontece aqui.

Imagem: Divulgação

Dupla central é uma das mais carismáticas do ano

Com isso, Sweet Tooth tem uma excelente característica: cada episódio parece contar uma história bem amarrada em si. Logo, o primeiro capítulo foca em um ponto, enquanto o segundo se debruça em outro. É uma das melhores características dos road movies, que veem seus personagens sempre em movimento, avançando no território físico, enquanto empurram a trama para frente. Assim, cada capítulo guarda uma aventura diferente e acontecimentos exclusivos que enriquecem a trama.

No centro de tudo, Gus e Toomy formam a dupla perfeita. Assim, é realmente notável que a série traga uma história sumariamente positiva e amorosa. Apesar dos meses difíceis que temos passado e da inclinação da cultura em seguir uma linha pessimista, Sweet Tooth abraça a esperança. E Nonso Anozie e Christian Convery merecem todos os elogios possíveis. Apesar da estatura, Anozie é o típico personagem durão de coração sensível. Convery, por sua vez, é um achado, e revela-se a melhor descoberta mirim desde que Stranger Things arrebatou o mundo anos atrás.

Visual da série enche os olhos com bela fantasia distópica

Tecnicamente, Sweet Tooth é uma das produções mais caprichadas da Netflix. Com uma fotografia que investe na atmosfera fantasiosa, o visual também não deixa de explorar os cenários pós-apocalípticos das cidades. Assim, tanto na floresta quanto no meio urbano, a série garante sequências de tirar o fôlego. Parte deste sucesso vem da direção de arte, impecável ao recriar um mundo que definhou de repente. Assim, o show encontra beleza na feiura do apocalipse, como comprovam as sequências do teleférico ou dos elefantes perdidos nas ruas. Para dar vida a tudo isso, é claro, os efeitos visuais são excelentes, elevando o valor de produção às alturas.

Lançada quatro dias depois do término do prazo para o Emmy, Sweet Tooth não aparecerá na premiação deste ano. Ainda assim, torcemos para que os votantes lembrem do programa no ano que vem, quando merecerá marcar presença em diversas categorias. Sweet Tooth é um espetáculo indispensável, daqueles que precisávamos há muito tempo. Logo, é o tipo de produção com apelo popular que surge de tempos em tempos sem que sequer notemos. Repleta de boas mensagens e aventuras excitantes, o show tem tudo para conquistar o coração de milhares de fãs.

E então, assistiu e gostou de Sweet Tooth? Deixe nos comentários e, igualmente, continue acompanhando as novidades do Mix de Séries.

Nota: 5/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.