Crítica: The Bear é ousada, original e brilhante
The Bear é uma das melhores estreias do ano e se destaca pela ousadia, originalidade, atuações e direção precisa.
Quem acompanha o mundos das séries de perto já sabe como e quando certos programas estream. E mais: já antecipam se o projeto pode ser bom ou não. É possível prever, por exemplo, quais títulos serão sucessos de público e quais farão bonito nas premiações. Poucas coisas, entretanto, são tão satisfatórias quanto ser surpreendido por uma série que ninguém esperava.
Ninguém sabe de onde The Bear saiu, e certamente não aguardavam tamanha qualidade. Mas o fato é que a série do FX se revelou com um dos produtos mais ousados da televisão em 2022.
Na trama, acompanhamos um jovem chef de cozinha que se depara com a decisão de sua vida. Tendo estudo, talento e futuro, o rapaz precisa assumir o comando de uma lanchonete decadente, deixado pelo irmão que acaba de morrer. O lugar tem todos os problemas de cozinha e forma a antítese do chef: falta conhecimento para os funcionários e não há futuro no horizonte.
Elenco e personagens brilham com roteiro preciso
Criada por Christopher Storer, The Bear tem o frescor dos filmes independentes e o cacife dos grandes diretores. É como um Whiplash, cheio dos grandes temas, atuações e qualidade técnica. Com episódios de 30 minutos, o programa se divide entre a comédia e o drama, sendo dificilmente classificado.
Com uma galeria diversificada de personagens, The Bear discute ambição, masculinidade frágil e até mesmo a personalidade desencontrada dos Estados Unidos atuais.
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Vivido com precisão absoluta por Jeremy Allen White, Carmy é um protagonista de luxo. Complexo e carismático, o sujeito é uma bagunça, mas também é um talento nato. Como os grandes personagens modernos, Carmy é uma espécie de anti-herói da própria história. Neste sentido, o chef e a lanchonete são muito mais parecidos – e destinados – do que podemos antecipar.
The Bear cresce ainda mais, então, quando pensamos nos coadjuvantes. O roteiro acerta em cheio ao dar um universo particular para cada personagem. Sydney Adamu, por exemplo, é a promissora sous chef que pode salvar o estabelecimento, enquanto Marcus é um dedicado funcionário fechado em seu próprio mundo.
Richie, por outro lado, é um homem amargurado, mas com fortes posicionamentos. É a relação entre ele e Carmy que garante alguns bons momentos na primeira temporada.
Direção certeira eleva a primeira temporada de The Bear
Um dos grandes feitos técnicos de The Bear é trazer, na câmera e na edição, o dinamismo do mundo culinário. Assim, através de zooms rápidos, cortes secos e ligeiros, somos transportados para o ritmo da cozinha e daqueles que a habitam. Neste sentido, a montagem é cirúrgica ao trazer planos-detalhe que enriquecem aquele universo e objetividade que aceleram o desenvolvimento.
Nada disso funcionaria, entretanto, sem a precisão da direção. E fazemos questão de estabelecer The Bear como uma das séries mais bem dirigidas do ano.
E a prova desta afirmação é o episódio 7, Review, gravado em um impressionante plano-sequência. Aqui, Storer, que dirige o capítulo, prova que consegue imprimir dinamismo mesmo quando não conta com a edição a seu favor. Sua direção é digna de Emmy e eleva toda a primeira temporada.
Série é moderna e tem plena ciência de seu contexto
The Bear ainda encontra espaço para discutir as fragilidades masculinas e de liderança. Assim, acaba criando um bom paralelo entre a disputa velada de Carmy e Sydney com as relações sociais e de trabalho na América moderna. No processo, ainda discute a desolação dos jovens adultos que, mesmo com estudo e talento, não encontram espaço ou reconhecimento em um país e economia mergulhados em crises.
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Ousada, original e brilhantemente executada, The Bear está no topo, entre as melhores séries do ano. A série pode ser assistida na íntegra na Star+.
Nota: 5/5