Crítica: The Crown retoma qualidade e tem final digno
Antes de acabar, The Crown retorna à boa forma de sempre, entregando alguns momentos belíssimos e um final digno.
Sempre que se limitou a desenhar a personalidade de Elizabeth, “The Crown” atingiu resultados impressionantes. Nas três fases da monarca, suas intérpretes sempre brilharam em momentos lindamente escritos e dirigidos. Quando tentava focar em outros personagens por muito tempo, entretanto, a série perdia força. É por isso que o momento mais fraco do programa é justamente quando Diana entra em cena.
Primeiro porque Peter Morgan talvez não descoberto como tratar uma personalidade tão complexa. Na verdade, nenhum filme ou série até hoje conseguiu fazer um retrato realmente bom da princesa. A maioria deles, assim como “The Crown”, sucumbiu frente à força e contradições da mulher. O show da Netflix, por exemplo, jamais encontrou um equilíbrio entre canonizar Diana e inocentar a família real.
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Com isso, o texto frequentemente trouxe Diana dividida entre a total inocência e sensatez e a falta de noção e bom senso. No meio dessa inquietude, o roteiro ainda tentou pintar um retrato simpático a Charles. E, pela primeira vez, a versão da série pareceu destoar demais da persona real. O Charles de Dominic West em pouco ou nada lembra o da vida real. West é muito carismático e talentoso para viver um sujeito tão apático e repreensível.
É óbvio que, na vida real, ninguém é inteiramente mocinho nem inteiramente vilão. O problema é que “The Crown” falha em achar qualquer lógica narrativa no trágico duelo entre Diana e a realeza. Essa incerteza acabou rendendo escolhas vergonhosas, como a insistência explícita de fazer Mohamed Al-Fayed como o grande vilão da história. Isso tiraria a culpa de Elizabeth e seus familiares, assim como tornaria Diana ainda mais trágica.
É sintomático, portanto, que a última temporada melhore consideravelmente na parte 2, que começa depois da morte de Diana. Sem a sombra dela, “The Crown” consegue focar naquilo que sempre soube. E até Imelda Staunton consegue brilhar com propriedade depois da saída da ex-nora.
Retorno à qualidade de sempre
Assim, a segunda parte tem alguns momentos dignos da melhor época de “The Crown”. O episódio voltado a Margaret, por exemplo, tem sequências belas, que fecham o arco de uma personagem marcante. O início do relacionamento de William e Kate, por sua vez, também funcionam bem. E isso ocorre justamente porque a série não torna o casal como algo mais importante que a rainha ou os demais dramas da família.
É no último episódio, contudo, que “The Crown” realmente retorna à forma. O desfecho da série parece ser o único final possível, e entrega, assim, algumas das melhores sequências da temporada. Muito disso se deve porque o texto e a direção se entregam à sua maior qualidade: Elizabeth.
E é evidente que diversos momentos foram escritos e filmados depois da morte da rainha. Assim, “The Crown” se despede de Elizabeth com reverência e um toque de melancolia. A ideia de encerrar a série nos ensaios do funeral da monarca, aliás, é uma abordagem genial. Afinal, cria várias elipses e finais de forma adequada e definitiva, sem deixar pontas. Morgan é inteligente, portanto, ao nos fazer sentir que não há mais histórias relevantes para se acompanhar depois dali. Muito embora duas décadas tenham se desenrolado depois do fim visto na série.
Não é coincidência, portanto, que o último capítulo tenha sido dirigido por Stephen Daldry, responsável por comandar os primeiros episódios do programa. O final, então, representa um bem-vindo retorno às origens. Raízes que não deveria ter abandonado, mas felizmente tornou a abraçar antes do fim.
Nota: 3,5/5