Crítica: The First Lady é desastrosa e constrangedora biografia

The First Lady é uma vergonhosa produção que não percebe os erros, mesmo que eles estejam claros e sejam totalmente absurdos.

The First Lady

The First Lady é o tipo de biografia que acredita que uma tonelada de maquiagem, perucas e imitações podem render um bom drama. É o projeto que surge anualmente no Oscar, por exemplo, caçando prêmios. É um formato que já enganou muita gente e boa parte do público parece aprovar.

Neste sentido, a performance de Viola Davis como Michelle Obama, por exemplo, é tão desastrosa quanto a de Rami Malek no terrível Bohemian Rhapsody. Dentes postiços e caretas não rendem boas atuações.

É triste constatar isso, principalmente se levarmos em conta o talento inquestionável de Davis, uma das melhores atrizes de sua geração. O mesmo se estende a Gillian Anderson, visivelmente desconfortável com a dentadura de Eleanor Roosevelt. Aqui, portanto, temos equívocos não só das atrizes, mas da própria direção do programa.

Será que ninguém na produção percebeu que as caras e bocas de Viola não estavam funcionando? Desta forma, o comando da série beira o ridículo ao aparentemente não ter filtros. Pior: em vários momentos o show parece não ter noção alguma dos rumos que deve seguir.

Atuações pecam pela artificialidade e decepcionam

Neste sentido, tanto o roteiro quanto o visual da série parecem perdidos no caminho. Assim, a direção de Susanne Bier (uma ótima cineasta) investe em planos confusos e que nada agregam à história ou aos personagens. Aqui, o básico é truncado e até a transição entre as cenas parece equivocada. Mas a falta de tato visual nem se compara às caricaturas vistas em The First Lady.

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Com isso, temos a impressão de que os atores não estão atuando, vivendo o personagem, mas imitando-os. Em casos como os de Eleanor Roosevelt ou Betty Ford, que são figuras menos conhecidas, a tarefa é menos ingrata. Os Obamas, por outro lado, são rostos e vozes muito conhecidos. Nós sabemos como Barack se move e como inflexiona a voz. Já Michele é reconhecível pelos trejeitos, assim como Bush e outros nomes recentes.

Vivê-los portanto, é difícil. A abordagem, então, deveria ser a de releitura. Davis e seus colegas deveriam fazer uma interpretação dos elementos reais e não uma cópia fiel. Às vezes a performance que se sai melhor é aquela que mais se distancia das pessoas reais.

The First Lady apanha até da vida real

Desta forma, chegamos a um dos grandes problemas de The First Lady: não há margem entre os fatos e a versão ficcional. Peter Morgan, criador de The Crown, já afirmou que a série sobre a família Real não tocará em temas recentes. Segundo ele, 20 anos, no mínimo, são necessários para que possamos entender os desdobramentos históricos para, enfim, levá-los às páginas e telas. Logo, não espere ver eventos do último ano encenados na série, pois o roteiro deve ir até o início dos anos 2000, apenas.

E Morgan está coberto de razão. É preciso certo distanciamento para que as coisas possam ser vistas por determinada obra prima. É por isso que o núcleo dos Obamas é o mais complicado de The First Lady, pois é o mais recente e fresco na memória coletiva.

Não é à toa, por outro lado, que a parte de Betty Ford seja a mais interessante: é a trama histórica menos explorada pelo Cinema e TV, e Ford é a menos caricatural das três protagonistas. Os Roosevelt, por sua vez, já foram bem explorados, o que faz deles mais conhecidos.

Para completar, os saltos entre períodos e narrativas nunca soam naturais. Quando estamos nos envolvendo por um drama específico, a série corta e parte para outro momento. Além disso, os dramas de cada um parecem muito distintos entre si. Assim, fica difícil se envolver pelos Obamas, enquanto as dificuldades dos Roosevelt parecem muito maiores, por exemplo.

Ainda assim, The First Lady não é um desastre completo e pode agradar os sedentos por dramas reais e de tabloides. Em um período lotado de bons projetos, entretanto, perder tempo com a série não parece uma sábia escolha.

Nota: 2/5

Sobre o autor
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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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