Crítica: The Gilded Age usa de bons clichês para conquistar público
Série do HBO do criador de Downton Abbey agrada o público, no entanto, utilizando de bons clichês. Mesmo assim, vale a pena.
A Idade Dourada (The Gilded Age), série nova da HBO, veio ao mundo com um estigma pesado. Criada por Julian Fellowes, de Downton Abbey, a série sempre teria sob si a comparação – por vezes justas – com a série britânica. Não seria diferente: se propondo à contar sobre a elite do século 19 na efervescência de Nova Iorque, a série esbarra em diversas similaridades com a “antecessora”.
Mesmo assim, a agora conhecida como “Downton Abbey dos Estados Unidos” tenta encontrar sua voz justamente nesse novo lugar. A cultura norte-americana e a forma como a cultura daquela que seria a cidade mais agitada do mundo se manifestam em seus moradores e na sociedade da época. Isso tudo transborda na tela e transportam seu público para aquele 1800 e alguma coisa.
Automaticamente, se compra o que está sendo apresentado e fica difícil não curtir a ambientação. Mas, funcionou como série?
Bons hábitos não morrem
Não vale mentir: The Gilded Age usa e abusa dos clichês do gênero e que já foram antes usados em Downton. Empregados misteriosos com seus segredos, homossexualidade escondida, alpinismo social e ricos esnobes. Porém, vale muito a pena lembrar a velha máxima. Existe um motivo para os clichês perdurarem e esse é sua gigante capacidade de agradar ao público.
Assim, não há necessariamente um problema em usar certas tramas. Contudo, a falta de personagens carismáticos e o fio condutor definitivo para a série deixam tudo mais capengas com a audiência.
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Assim como funciona nas novelas, bons personagens e queridinhos do público conseguem emplacar qualquer história – até as mais repetitivas. Aqui, portanto, cabe à Louisa Gummer (nada menos do que filha de Meryl Strepp) a difícil tarefa de ser a protagonista dessa trama.
Marian, uma jovem do interior que vai morar com as tias na velha Nova Iorque, é uma chata. Com todo o respeito, não há outro adjetivo possível para a personagem. Moderna até quando lhe convém, a personagem que deveria conduzir a trama se limita a ser uma mala-sem-alça. E que, infelizmente, não faz jus ao talento da atriz que tenta a defender.
Precisamos falar dos personagens de The Gilded Age
Que falta não faz uma protagonista que conquiste o público ao ponto de torcer por ela! Ao escolher uma liderança apática, The Gilded Age acaba empurrando o público para almejar por mais tempo de tela para personagens que não exercem esse tipo de função. Ainda pior, por dar tanto destaque para Marian e suas tramas batidas e pouco interessantes, muita coisa ficou de fora e/ou trabalhado de forma muito superficial.
Por exemplo, a jornada da escritora Peggy Scott, que luta contra o machismo e o racismo da época. Infelizmente, essa jornada só é lembrada até certo ponto da temporada. Depois, apenas Marian.
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Ainda presos no estilo britânico de ser elite, os membros do “velho dinheiro” (como é chamado na série) podem parecer mais do mesmo. Na contramão disso, os novos ricos são o ar de frescor que a série precisa e, com frequência, usa. Dessa forma, naquele momento ali representado, ser um novo tipo de rico, sem vir de nenhuma família tradicional, representa viver um estilo totalmente norte-americano de riqueza, algo inédito até então.
Assim, o Sr. e Sra. Russel roubam o protagonismo e, além disso, são os únicos personagens que o público consegue minimamente torcer. O problema? O texto não os enxerga dessa forma em momento algum e não os coloca em situações propícias a tal.
Cadê o fio de The Gilded Age?
Justiça seja feita: esse não é um problema que atinge só esse casal. A primeira temporada da série parece viver uma crise de identidade forte e nunca escolhe exatamente por onde quer seguir. Qual é a trama abordada no primeiro ano de A Idade Dourada? Seria o romance suspeito entre Marian e seu antigo advogado?
É a rivalidade entre os novos e velhos ricos, algo quase esquecido no núcleo central de um momento em diante? Ou ainda, é a abundância da riqueza industrial daquele momento histórico dos Estados Unidos? Não sei e, muito provavelmente, você também não sabe.
A falta do famoso gancho ou qualquer expectativa de desenvolvimento maior de alguma narrativa só se vê uma ou duas vezes na temporada, o que deixa a trama mais fraca do que o ideal. Mesmo assim, o fator novidade – que obviamente só conta a favor do seriado em seu primeiro ano – ainda funciona de forma muito forte a levar o público para mais episódios e ainda ficar com gostinho de quero mais. Dessa forma, uma ótima sensação quando se sabe que o segundo ano já está garantido.
Pode ser melhor, mas é bom!
Mesmo ainda tateando em alguns pontos centrais da trama, The Gilded Age abusa do luxo da época e ganha todos os pontos na (re)produção impecável do século 19. A sensação de transporte para a época é, de fato, impagável. Com nomes fortes no elenco como Christine Baranski, Cynthia Nixon, Audra McDonald e Carrie Coon, as atuações corroboram fortemente para o apego do público com aquelas figuras diferentes e ainda assim tão similares ao que conhecemos hoje em dia.
Tendo todo o direito de ser chamada de superprodução, a série cria um ambiente confortável para se assistir, mesmo sem ser inovador e revolucionário em seu texto. Bem encaminhada em alguns pequenos plots deixados para um próximo ano, só nos resta esperar e torcer para uma volta por cima digna da elegância e grandiosidade das Senhoras e Senhores que viviam naqueles anos dourados.
Nota: 3.8/5