Crítica: 4×01 de The Good Fight é um assombro de qualidade
No seu retorno, The Good Fight mostra o quão importante é para televisão e para sociedade americano. É épico, é magnífico, é maravilhoso.
Quando li que a quarta temporada de The Good Fight diminuiria o tom político e focaria na realidade, pensei que realmente a série faria isso. Até porque, o impacto da administração de Donald Trump no sistema jurídico se estenderá, esperançosamente, além desses quatro (desastrosos) anos.
‘Juízes’ com pouquíssima qualificação legal, mas com altíssima no campo de ‘caça fantasmas’. Uma suprema corte politizada e hostil no que se refere ao direito de sindicatos, direitos civis, direitos das mulheres….(posso continuar se você quiser). Além de outros tantos problemas. Para minha surpresa, contudo, Robert e Michelle King inovaram e nos brindaram com um Season Premiere de tirar o fôlego.
Em The Gang Deals with Alternate Reality, Diane acorda numa América diferente. Hillary Clinton é presidente. Donald Trump criou a Trump TV (plano em consideração, caso ele perdesse a eleição). Harvey Weinstein ainda está a solta. O #MeToo ainda não é realidade. A personagem, assim como o telespectador, não sabe o que está acontecendo. Contudo, certas situações continuam idênticas à realidade que outrora existiu: favores entre poderosos continuam imperando. Dinheiro ainda fala mais alto que moral e valores. Diante de toda essa confusão, a protagonista logo percebe que não trocou de roupas para um evento de gala em homenagem às mulheres. O que está acontecendo, afinal?
A realidade alternativa escolhida pelo roteiro para começar a atual temporada mostra que, embora Donald Trump seja um perigo constante para o mundo, nosso maior pecado como sociedade é a acomodação. Hillary Clinton é presidente. Uma mulher competente, inteligente e sensacional finalmente vai liderar a nação mais poderosa do mundo em questões militares e econômicas. Mas isso significa então que devemos sentar, relaxar e esperar para que o progresso seja feito sem esforço? Sem conflito ou a ‘boa luta’ do título? É uma das inúmeras reflexões que o roteiro propõe nesse retorno.
Quem precisa pensar?
O Season Premiere, vejam só, também busca uma mudança. Seja ela de tom, de postura e de missão. Não acredito que as críticas políticas desaparecerão. Na verdade, realmente espero que isso não aconteça. A partir de agora é possível identificar que a série vai deixar o Trump de lado e focar naquilo que importa na vida de milhões de americanos comuns. Poder e influência do dinheiro no judiciário, ataques à instituição do judiciário e os efeitos que certas decisões políticas têm no dia a dia. Acredito que será muito importante para que os telespectadores vejam esse efeito na prática e entendam que, por mais apocalíptico que certas previsões sejam, tais problemas sociais já produzem efeitos devastadores no mundo real.
Se o roteiro mostra-se magnífico, os aspectos técnicos são igualmente impressionantes. Não consigo parar de pensar no quão maravilhoso é aquele blazer que a Luca (Cush Jumbo) usou na audiência no caso do Harvey Weinstein. É mais uma criação do célebre Daniel Lawson, cuja parceria com o casal King vem desde o piloto de The Good Wife em 2009. É fascinante perceber o que acontece quando se tem um orçamento mais robusto e que traga mais liberdade para equipe criativa. Sei que uma grande mudança vem aí no que se refere ao cenário, então na próxima semana espero elogiar o sempre impecável trabalho de Shannon Finnerty à frente da direção de arte.
O IndieWire escreveu que The Good Fight fica cada vez melhor na sua quarta temporada. Tenho que concordar. Contudo, adicionaria ainda que a série atingiu um nível inatingível na televisão de hoje. Neste momento, imagine que estou em pé aplaudindo esse episódio que acabamos de assistir. Bravo, senhores, bravo!
Rapidinhas de The Good Fight
– Gerrymandering: estratégia política utilizada por ambos os países nos Estados Unidos, mas mais pelos republicanos. Mas afinal, o que é isso? Sabendo que os deputados nos Estados Unidos são eleitos em distritos e que tais linhas são desenhadas por políticos de cada estado, é possível que naquelas unidades federativas onde certo partido é mais forte, existam aberrações para prejudicar o outro lado.
Suponhamos que, proporcionalmente, determinado estado deveria eleger cinco deputados republicanos e quatro democratas. Contudo, os garranchos são tamanhos que, na realidade, serão eleitos dois sete republicanos e apenas dois democratas. É assim em Wisconsin, Texas, Carolina do Norte e tantos outros.
– Harriet Tubman na nota de vinte dólares: uma das propostas que Barack Obama não teve tempo de cumprir antes de deixar a presidência era uma mexida na nota de vinte dólares. Seu plano era de substituir o escravocrata Andrew Jackson (que Donald Trump tanto adora) pela abolicionista Harriet Tubman. Contudo, o secretário do tesouro atual, Steven Mnuchin, anunciou em maio de 2019 que tal troca não deve acontecer antes de 2026.