Crítica: The Idol é uma das maiores vergonhas da história da HBO

The Idol mancha histórico quase impecável da HBO. Série é uma vergonha narrativa e visual que ainda peca em seus posicionamentos.

The Idol

Começar um filme ou série com um super close pode ser arriscado. À frente da câmera, é preciso ter algo ou alguém muito interessante. Caso seja um ator/atriz, este precisa segurar a responsabilidade através do seu talento. Não é o que acontece com The Idol, que aposta seus segundos iniciais em caras e bocas de Lily-Rose Depp, sua protagonista.

O problema é que faltam habilidades dramáticas e carisma à atriz. A verdade é que grande parte do problema de The Idol reside no fato de que Deep é fraquíssima, e The Weeknd, seu parceiro de cena, pior. Desta forma, ainda que tivesse os vários problemas já levantados antes de sua estreia, a minissérie poderia funcionar caso os protagonistas envolvessem o público.

O fato é que não só não nos interessamos por aquelas pessoas como também temos aversão a elas. Não queremos acompanhá-las em seus dramas e aventuras. Eles não são anti-heróis ou vilões, são apenas seres absolutamente desinteressantes.

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Falta talento e segurança à protagonista

A falta de talento de Depp, por exemplo, é quase palpável. E, se a sequência inicial não é vergonhosa o suficiente, outras cenas subsequentes escancaram a incapacidade da atriz de inserir qualquer tipo de emoção ou urgência ao textos e situações.

O problema é ainda mais gritante quando vemos a jovem contracenando com Rachel Sennott, por exemplo, que é uma artista mais completa e segura de seu ofício.

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Não que Depp caminhe entre atores em seus melhores momentos. Até pessoas comumente confiáveis estrelam alguns momentos constrangedores. E nada disso surpreende se levarmos em conta que Sam Levinson é ótimo diretor de câmera, mas péssimo diretor de atores.

E a prova das limitações do cineasta estão evidentes em Euphoria, a qual até mesmo boas atrizes como Zendaya surgem exageradas e perdidas nos roteiros duvidosos.

Série é fracasso narrativo e visual

E, por falar em Sam Levinson, é preciso deixar claro que nada do que o sujeito faz aqui funciona. Em Euphoria, por exemplo, o texto é fraco, mas os visuais compensavam. Tanta a fotografia em película quanto o apuro estético do diretor faziam daquela série uma das mais bonitas da TV.

The Idol, entretanto, não tem sequer isso para se defender. À exceção de dois ou três planos inspirados, o programa é notavelmente desinteressante do ponto de vista técnico e visual. Além de surgir preguiçoso e pouco inventivo, Levinson repete zooms e movimentos à exaustão.

Mas nada é tão problemático quanto o roteiro de Levinson e sua trupe. Em tumultuados momentos como o atual, é um desserviço o que a série faz através de comentários sobre a indústria e a produção artística. Em um dos momentos mais deprimentes do primeiro episódio, um “coordenador de intimidade” é descredibilizado e humilhado por vários personagens.

Este profissional é responsável por zelar e coordenar ensaios e gravações que envolvam nudez ou cenas íntimas. É uma função que cresceu muito nos últimos anos, justamente para proteger atores em situações delicadas.

The Weeknd ator The Idol
Imagem: Divulgação.

Como se não bastasse, série tem morais e opiniões totalmente corrompidas

Mas Levinson e seus asseclas acharam interessante debochar do assunto – e fazer de vilão o avatar do profissional na série. Note, aliás, como todos os personagens minimamente decentes ou conscientes da série são ridicularizados em algum momento. Até mesmo os mais tolos, quando falam algo lógico, são rechaçados por outros colegas de cena.

O empecilho, contudo, é que Levinson não mostra isso em tom de crítica, mas de endosso. Ele não está mostrando os pontos negativos destas relações tóxicas. Ele está sugerindo que elas são engraçadas e aceitáveis.

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Tudo isso poderia ser visto sob outra ótica caso a história fosse minimamente interessante. A questão é que, além dos desvios morais, a trama de Jocelyn e os demais não despertam interesse algum. Qual o drama? E o conflito? Qual o objetivo? De onde vêm e para onde vão estes personagens? Em resumo, é como se nada acontecesse no primeiro episódio.

Ou melhor: várias coisas acontecem. Nenhuma delas é boa.

Nota: 1/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.