Crítica: Última temporada de Veep é uma catarse da Era Trump e da política em 2019
Na última temporada de Veep, temos a comédia mostrando que é a melhor do seu gênero e que sabe como ninguém como retratar a política de 2019.
Quando comecei a assistir Veep, a comédia nem sempre foi a minha preferida. Na verdade era um divertimento secundário na minha longa lista de séries para assistir em 2012 (The New Normal era minha favorita). Contudo, a série foi amadurecendo e entendendo exatamente o seu poder e a sua força. Julia Louis Dreyfuss foi perdendo a timidez de falar palavrões num canal a cabo e lá pela quarta temporada, a produção se tornaria uma das melhores no ar. Pode parecer conversa de fã, mas no momento que vivemos, os leitores que acompanharam Veep sabem que é a mais pura verdade.
Ao final da sexta temporada, o telespectador viu Selina Meyer de volta à campanha. O episódio em questão terminara com a personagem comparecendo ao seu primeiro evento político em Iowa. Confesso que torci o nariz para tal ideia – qual a razão de colocar a protagonista de volta na campanha para última temporada? Realmente parecia o aquecimento de uma velha história, uma vez que já vimos Veep fazer seu comentário sobre campanhas e candidatos enfadonhos. Contudo, com o ano sabático que a série teve que tirar em virtude do câncer de Julia, essa proposta ganhou um novo significado.
Batizado de Iowa, o primeiro episódio traz uma espécie de restabelecimento. Ou melhor um convite para retornarmos ao mundo paralelo (ou seria real?) da série. A partir de então a série vai crescendo e mostrando seu potencial cômico. Diria que temos a demonstração de toda essa qualidade em Pledge no delicioso debate das primárias onde Selina aparece com o slogan Man Up contra….outra concorrente. Mas o grande momento do início da temporada vem em South Carolina.
A vida como ela é
Tal episódio faz com que o telespectador tenha que acompanhar, ou pelo menos saiba o mínimo, do que está acontecendo nos Estados Unidos. É impraticável assistir Veep, House of Cards; The Good Fight ou Madam Secretary sem ter lido o The New York Times ou assistido cinco minutos de CNN. Sendo assim, chegamos ao brilhantismo do roteiro ao retratar Selina fazendo um acordo deliciosamente cômico com os chineses para vencer a crucial primária da Carolina do Sul, estado cuja concentração de eleitores negros é a maior do início da disputa.
Essa ideia pode parecer uma versão mais boba do que Trump fez em 2016. Mas a forma na qual o roteiro consegue desenvolver tal proposta e o elenco entende a mensagem, fica evidente o quão absurdo é os tempos na qual estamos vivendo. Além disso, é assustador o quanto cinismo da personagem se parece com o cinismo da vida real. O episódio seguinte, batizado de Super Tuesday, traz o roteiro dando uma resolução bastante satisfatória para o ex-marido de Selina, Andrew, que nunca teve tanta relevância assim para série.
Confesso que senti falta de um pouco de político no episódio. Um bom nerd político sabe que a Super Terça compreende estados importantes como Texas, Massachusetts e entre outros. Mas nós não sabemos quais são os principais vencedores, o que faz toda diferença para entender a Season Finale. Outra pontuação seria a total falta de atenção de outros candidatos. Temos uma Senadora à la Barack Obama; um sociopata e outro cristão homofóbico, mas que na verdade é gay enrustido. Não há tipos melhores para explorarmos do que esses.
Chegamos ao fim
Os últimos dois episódios são aqueles conteúdos que qualquer produtor colocaria para o Emmy. Bem escritos, bem desenvolvimentos e com performances impecáveis. A Series Finale em particular é um assombro e sintetiza em todos os sentidos o quão longe estamos do normal, assim como o que a busca pelo poder pode fazer com o ser humano. Durante toda a série, e principalmente nesta sétima temporada, vemos Selina se tornar cada vez mais ambiciosa e cega pelo poder. Nos bastidores da convenção, particularmente, ela mostra-se à beira de um colapso quando flerta com mais uma derrota.
Confesso que estou até o presente momento me questionando sobre aquele flashforward que o finalzinho da Finale trouxe. Será que foi a melhor escolha? Porque não terminar com Selina consumida pela solidão no Salão Oval sendo obrigada a negociar com senadores asquerosos? Contudo, acredito que propor um avanço temporal de 25 anos e mostrar que ninguém lembra Selina pela sua presidência, pelo seu legado ou por ser a primeira mulher eleita é uma estratégia interessante. Ao final do dia, apenas seus fiéis escudeiros, principalmente Gary, estavam lá para ficar ao lado do seu caixão.
Acredito que estaremos analisando e discutindo esse final de Veep por anos a fio. Temos aqui uma lição de história, de sociologia e de política nos dias de hoje. Mas se você não estiver nem aí pra isso tudo, ainda temos uma obra prima muito divertida.