Crítica: Um de Nós Está Mentindo é um típico suspense adolescente
Drama do Hulu, a série Um de Nós Está Mentindo desembarcou na Netflix e lembra muito outra popular série adolescente.
Adaptar um livro para telona ou para telinha sempre movimenta os fãs da obra original, enquanto desperta a curiosidade de um público novo que não conhece o material base. Apesar de conhecer o livro, este redator nunca leu a obra original, então, minha análise está baseada no produto audiovisual, sem estabelecer paralelos e comparações. Um de Nós Está Mentindo (One of Us is Lying) acaba de chegar ao catálogo da Netflix figurando no Top 10.
A série é uma produção original do serviço de streaming americano Peacock, mas chega por aqui com o selo Netflix após fazer muito sucesso lá fora e já garantir uma segunda temporada.
A atração baseada no livro homônimo é um best-seller da escritora Karen M. McManus e tem um plot muito simples. Um grupo de cinco alunos muito diferentes entre si se reúne para um dia de detenção até que um deles acaba morrendo misteriosamente e todos se tornam suspeitos do crime. Coincidência ou não, a vítima administrava um aplicativo de fofocas que expõe os segredos de todos os alunos da escola. Simon é assassinado poucas horas depois de ameaçar expor quatro alunos. Suspeito? Também acho.
Partindo dessa premissa, o espectador precisa descobrir qual deles está mentindo sobre o incidente que aconteceu na sala de detenção e resultou na morte do colega. O roteiro de Um de Nós Está Mentindo começa a desenvolver seus personagens revelando segredos, conflitos e alianças à medida que entrega em momentos estratégicos revelações e fatos novos sobre o crime, mantendo a atmosfera de mistério até seu clímax.
Clube dos Cinco com assassinato
A série, dessa forma, chama atenção do público por ser facilmente associada a grandes sucessos da cultura pop como, Clube dos Cinco, Pretty Little Liars e Gossip Girl. Temos Addy Prentiss (Annalisa Cochrane) como a garota popular, Nate Macauley (Cooper van Grootel) como o badboy traficante, Bronwyn Rojas (Marianly Tejada) como a nerd da turma, Cooper Clay (Chibuikem Uche) como o atleta conflituoso e Simon (Mark McKenna) como o criador do “About That”, um famoso aplicativo de fofocas da escola.
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Com arquétipos de personagens inspirados no clássico de John Hughes, Um de Nós Está Mentindo aos poucos vai revelando características dos sobreviventes da detenção. No entanto, ainda incomoda ver pessoas mais velhas interpretando jovens alunos de ensino médio. É meio assustador, inclusive.
Aliás, o aplicativo “About That” funciona como o blog de Gossip Girl. Simon o desenvolveu com o propósito de expor os hipócritas e encorajar as pessoas a serem verdadeiras. Mas, na verdade, ele utiliza seu experimento como ferramenta de tortura e punição.
Sem dúvidas, o aplicativo movimenta a cidade e leva a experiência escolar a outro nível. Ninguém nunca sabe quem será o próximo alvo. Sendo o aluno mais odiado da escola, a lista de suspeitos de sua morte só aumenta no desenrolar da história. Há muito drama na vida dos alunos do colégio de Bayview (XOXO!).
A cada nova publicação, então, alguém se torna um novo alvo e, consequentemente, um possível suspeito com motivos de sobra para matar. O problema é que, apesar da morte de Simon, as publicações continuam e o “clube dos assassinos” (como fica conhecido o grupo da detenção) se torna o principal alvo.
Eles são arrastados para um jogo psicológico, enquanto se esforçam para preservar seus segredos e garantir um bom futuro. Mas o perseguidor não torna a vida deles fácil. (“I’m still here bitches, and i know everything!” -A)
No entanto, uma questão que incomoda é o roteiro em nenhum momento responsabilizar a vítima por seus atos. Um aluno invade a privacidade de toda uma escola, expõe segredos e assuntos privados, além de fazer chantagem. Pessoas são atacadas e ridicularizadas, e parece não haver uma preocupação com isso, apenas em descobrir a identidade do assassino. Não há sequer uma tentativa em derrubar o site/aplicativo.
Vale a pena assistir Um de Nós está Mentindo
Portanto, não espere por um grande aprofundamento nas personalidades dos personagens de Um de Nós Está Mentindo. As coisas às vezes tendem a ficar um pouco na superfície, mas recebem um desenvolvimento adequado.
Além disso, o elenco entrega um trabalho decente e desperta empatia do espectador. E, mesmo que seus dramas não sejam novos, eles são interessantes de acompanhar. E, ainda que seja possível prever alguns desdobramentos, a trama consegue surpreender.
Mas Um de Nós Está Mentindo é sobre aceitação, se reconhecer e ser quem realmente é e não um produto daquilo que os outros desejam. A trama constrói alguns relacionamentos surpreendentes e autênticos. O quarteto que nunca funcionaria como grupo em outra circunstância encontra uma conexão através da tragédia e do medo da exposição. Os segredos do quarteto são simples e não chegam a chocar o espectador, mas são interessantes o suficiente para entreter e impulsionar a trama.
A série é auto consciente, reconhece todos os estereótipos que apresenta e tudo que já surgiu antes dela. A estrutura das séries adolescentes está presente, os artifícios já conhecidos de outras obras também. Ainda que o espectador possa reconhecer alguns clichês, a produção consegue se manter interessante do inicio ao fim. Há um certo frescor aqui, tornando a série cativante e fácil de acompanhar.
No ponto de vista técnico, a série entrega algo prático e simples. E a trilha sonora em certos momentos evocam Pretty Little Liars.
Com produção executiva de Darío Madrona, cocriador de Elite, os oito episódios da primeira temporada garantem uma boa maratona e uma estreia equilibrada. A morte de Simon foi apenas o início do mistério no Colégio Bayview.
Nota: 4/5