Crítica: Upload, do Amazon, é a comédia que você precisa assistir
Crítica da primeira temporada de Upload, série original do Amazon Prime Video. A primeira temporada contém 10 episódios e já está disponível.
Série do Amazon, Upload entretém do início ao fim
Upload é a nova série do Amazon, produzida pelas mentes por trás de The Office e Parks and Recreation. E em tempos como este, em que é necessário distrair a cabeça, a leveza e o descompromisso com a realidade levam este título ser exatamente o que você precisa assistir.
A comédia resolve explorar o “além”, num estilo The Good Place. No entanto, aqui estamos falando de uma versão digitalizada de todo este processo. Basicamente, Upload apresenta uma realidade futurística onde é possível você transformar a consciência de uma pessoa que morre em dados que, virtualmente, vão para um paraíso. E assim, eles ficarão lá até poderem retornar ao corpo, através de um “download”. Mas tal legal não é completamente livre e a graça está exatamente nisso: Upload mostra que, se fosse possível, o ser humano capitalizaria até o “além”, transformando tudo em uma espécie de comércio que enriqueça aqueles que ainda estão vivos.
Uma comédia leve
Aparentemente, você pode achar a trama boba ou sem qualquer propósito. E mesmo que ela seja isso, Upload tem críticas e sacadas interessantes que, no final dos episódios, valem o tempo investido.
Na história, Nathan (Robbie Amell) é um programador que vive em 2033. Tendo uma namorada modelo, uma família aconchegante, um emprego, e um carro que anda sozinho, ele basicamente vive a vida perfeita. Mas, logo no começo, ele acaba sofrendo um acidente e morre. É então que vai parar em Lakeview, onde os moradores desfrutam de luxuosos quartos de hotel e bufês requintado três vezes ao dia. Aqueles que não puderem pagar a taxa e os dados ilimitados necessários para manter este estilo de vida – na verdade, o estilo da morte – podem optar por um plano de 2 GB limitado (sou eu, na fila do pão, com minha internet 4G), e isso equivale a ficar na “prisão”. Tal fato prova que a ética capitalista cruel está disposta a ser um grande equalizador que favorece os ricos até mesmo no “além”.
Nessa dinâmica, a chegada de Nathan neste lugar acaba construindo uma trajetória romântica quando ele se apaixona por sua “Anjo”, Nora (Andy Allo), espécie de assistente que está ali para ajudá-lo. E o amor correspondido acaba criando dinâmicas interessantes quando Nathan se dá conta de que não vivia uma vida feliz ao lado da sua namorada (Allegra Edwards) e do seu emprego. Para completar, algumas memórias suas começam a ser deletadas, o que empenha ele e a sua anjo a desconfiarem que além de ter sido assassinado, alguém poderia estar tentando apagar os rastos.
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Com tal proposta, Upload aproveita de uma vibe bem “The Good Place” para abordar seu humor, com coisas que parecem extremamente ilógicas.
Trajetória evolutiva
O mais legal de se ver é a linha narrativa de Nathan, que evolui a cada episódio. Quando ele chega em Lakeview, ele era um imprudente que só pensava em sexo e besteiras. No entanto, sua reforma moral – assim como em The Good Place – torna-se o vetor em que as histórias passam a ser construídas. Mas aqui, tudo acaba soando mais cínico e interessante.
Além disso, vale destacar, Upload gasta tempo ao desenvolver seus personagens indo contra o esteriótipo de ficções científicas, onde as vezes gasta-se mais tempo tentando convencer o espectador de que aquela realidade é possível existir. A série, neste ponto, não está preocupada com isso. Afinal, o ano é 2033 e até lá você assume que a tecnologia evoluiu a este ponto (embora o ano não esteja tão distante).
A série encontra leveza quando Nathan começa a se adaptar ao ambiente pixelizado, enquanto se aproxima de Nora. E quando as armadilhas do capitalismo fazem a imortalidade parecer superficial e sem sentido, o crescente amor entre um “upload” e um “bio” demonstra o que pode fazer a vida valer a pena viver para sempre: a conexão humana.
Assim, o relacionamento de Nathan e Nora é essencial para a série, com Amell e Allo tendo uma química instantânea. Ela, com uma recente passagem por Chicago Fire, irradia carisma. Amell já tem um alcance para piadas que vá atingir os mais jovens, vindo de uma trajetória de séries de heróis da CW. Com isso, temos o ingrediente perfeito para fazer Upload funcionar. A junção deles é algo que faz você torcer por eles e, de alguma forma, surpreender com os rumos que a série toma. No último episódio, inclusive, descobrimos que nem todos são quem pensamos ser.
A série é inteligente, muitas vezes hilária, e ressalta que, como muitas coisas criadas por nossas espécies defeituosas, esse paraíso virtual não é tudo o que se espera. A “extensão da vida digital” é um sistema capitalista comercializado que é drasticamente diferente para os que têm e os que não têm. Ocasionalmente, ela pode deixar seus moradores mortos loucos.
Mesmo que não seja uma série memorável, como dito, é a série necessária para se passar um tempo em que tudo que queremos é desligar da realidade. E convenhamos: não é todo dia que temos a sorte de ver algo revigorante estreando na TV.
Todos os episódios de Upload estão disponíveis no catálogo do Amazon Prime Video.
https://www.youtube.com/watch?v=gVY7vKYs1xo