Crítica: Wandinha traz brilho de Jenna Ortega e Tim Burton à Netflix

Wandinha marca o retorno de Tim Burton à boa forma e a confirmação de Jenna Ortega como uma das grandes jovens estrelas da atualidade.

Wandinha

Há obras que combinam tanto com uma pessoa que parecem ter sido criadas por elas ou para elas. Tim Burton, por exemplo, é tão influente que algumas coisas parecem sair direto de sua mente criativa.

O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, para citar um exemplo, foi escrito por Ranrom Riggs, mas combina tanto com o universo do cineasta que ele mesmo adaptou o universo para o Cinema. Uma adaptação de A Família Addams – aqui na forma de Wandinha pelas mãos de Burton, portanto, parece algo destinado a acontecer.

Não é com esforço, então, que a nova série da Netflix funciona para os fãs tanto dos Addams quanto de Burton. Bastam alguns minutos naquele mundo para que sejamos fisgados pelo visual e personagens cativantes.

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Wandinha, por si só, é um poço de carisma, e Jenna Ortega é um talento absoluto. Caso Burton estivesse atrás de uma nova musa, talvez tenha ficado tranquilo ao encontrar uma das melhores de sua carreira.

Wandinha representa retorno à boa forma de Tim Burton

Na trama de Wandinha, a filha ilustre de Gomez e Mortícia Addams é enviada a uma escola para jovens especiais, com habilidades sobrenaturais ou puramente estranhas. A passagem de ida da garota se dá depois dela não se encaixar em nenhum colégio ou grupo.

Na escola Nunca Mais, entretanto, Wandinha parece encontrar aquilo que mais gosta: mistérios, perigos, monstros, sangue e muita estranheza. É lá que ela se depara com sentimentos desconhecidos e uma criatura assassina que ameaça o local.

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Com este universo, é nítido o conforto de Tim Burton. É importante ressaltar, contudo, que não temos o diretor relaxado ou desinteressado. Pelo contrário, vemos o cineasta vestindo a carapuça como se nunca tivesse tirado da cabeça. O dedo do artista está em cada detalhe, e a série cresce imensamente com isso.

Tanto a escola quanto a cidadezinha vizinha são tão interessantes e convidativas quanto aquelas vistas em Edward Mãos de Tesoura ou A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, clássicos do diretor.

Série é banquete para os olhos – e diversão garantida

Neste aspecto, Burton e a equipe de Wandinha trazem à bordo uma equipe de gigantes. Nos figurinos, a gigante Colleen Atwood traz toda a sua experiência ao unir a tradição da Família Addams com o ineditismo da série.

Já Danny Elfman, compositor recorrente de Burton, faz uma mescla interessante de clássicos dark com novos temas. E aqui vale apontar as belíssimas versões de alguns hits tocadas no violoncelo.

Já a direção de arte repete as deliciosas brincadeiras envolvendo luz, sombras e cores, típicas de Burton. Assim, passeamos por uma constante monocromática que, de repente, vira uma montanha-russa de cores vivas e distintas. A fotografia, por sua vez, ajuda a estabelecer o universo fantasioso e obscuro da série, ao passo que jamais cai na armadilha de deixar tudo muito escuro.

Jenna Ortega é a estrela absoluta da série

Com esse time ao seu lado, Burton entrega um de seus melhores trabalhos na última década. É bom, enfim, ter o diretor de volta, principalmente em um projeto que combine com seu estilo. Afinal, seus momentos mais fracos foram justamente quando se vendeu a um produto ou empresa que jamais se alinharam com sua visão.

Em Wandinha, Burton encontra espaço para brincar com a câmara e se divertir com o elenco. Seus quatro capítulos, portanto, estabelecem com maestria o tom de toda a série.

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O grande nome de Wandinha, entretanto, é ela mesma. Jenna Ortega tem crescido na indústria e se tornado um dos maiores nomes do horror atual. Ela esteve em Pânico, X e outros títulos que vêm ganhando tração nos últimos anos. A jovem atriz encarna Wandinha com tanta segurança que qualquer colega de elenco empalidece em sua presença.

E são vários os momentos marcantes de Ortega na série, indo de suas lutas (seja de esgrima ou no soco) até sua impecável dança no baile da escola.

Deixando claro que esta é uma série de Wandinha – e não da Família Addams -, a série dosa com inteligência as inserções de Gomez, Mortícia, Tio Fester e demais membros do clã. Assim, com oito episódios bem amarrados – e que funcionam muito bem isoladamente -, Wandinha honra o legado de Charles Addams, Tim Burton e todos já envolvidos com essa obscura e amável família.

Nota: 4/5

Sobre o autor

Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.