Game of Thrones: episódio perdido tem segredos revelados

Desde que foi ao ar originalmente, em 2019, muito se falou sobre a qualidade, ou a falta dela, do final de Game of Thrones. Da reviravolta sem sentido de Daenerys (Emilia Clarke) para Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e a morte de Cersei (Lena Headey) ao discurso de Tyrion (Peter Dinklage) sobre Bran, o Quebrado (Isaac Hempstead Wright). É difícil encontrar um único segundo de The Iron Throne que é lembrado por ser bom. Para muitos fãs, assistir a este episódio final foi como assistir a um avião em chamas cair em um incêndio florestal.

Foi um final catastrófico para uma oitava temporada já desastrosa. Mais importante, foi uma triste despedida de um show que havia começado com uma nota tão promissora oito anos antes. No entanto, o que poucos fãs do programa sabem é o quão perto Game of Thrones chegou de ter um piloto tão terrível quanto seu final. Claro, “Winter Is Coming” da primeira temporada pode ser considerado uma grande peça de televisão, talvez uma das maiores de seu tempo. Mas antes de “Winter Is Coming“, havia outro piloto sem título que David Benioff e D.B. Weiss deveriam estar agradecidos por não ser exibido.

Um episódio perdido

Filmado em 2009, o piloto inédito de Game of Thrones permanece até hoje sem ser assistido por ninguém que não esteja envolvido no programa. O mais próximo que chegou dos olhos do público foi durante as exibições de teste, nas quais foi constantemente criticado. Devido ao quão secreta a HBO é sobre isso e suas cópias existentes, alguns consideram o primeiro piloto de Game of Thrones como um pedaço de mídia perdida. Mas o fato de ninguém fora da sede da HBO ter visto isso não significa que as pessoas não falem sobre isso. Seja por meio de especulações ou em entrevistas com membros do programa.

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E, em 2020, um livro intitulado Fire Cannot Kill a Dragon nos deu uma história oral do início do programa. Embora, é claro, parte do material original tenha chegado ao produto final, como o elenco principal do programa e algumas cenas, muitas mudanças foram feitas no piloto de Game of Thrones antes de ir ao ar em 2011. Mas quais foram as mudanças? E, mais importante, o que fez do piloto original de Game of Thrones um show de terror?

O piloto original de Game of Thrones parecia completamente diferente

Apenas lendo os créditos, é fácil ver que o piloto original de Game of Thrones não se parecia exatamente com “Winter Is Coming”. A maior parte do elenco do programa permaneceu exatamente a mesma durante toda a produção. Alguns personagens, entretanto, tiveram que ser reformulados antes de verem a luz do dia. Interpretado por Ian McNeice no show, Magister Illyrio foi originalmente interpretado por Roger Allam (V de Vingança). Catelyn Stark (Michelle Fairley) estava nas mãos de Jennifer Ehle (Zero Dark Thirty). Até que ela decidiu que não queria se mudar para a Irlanda do Norte. Enquanto Daenerys Targaryen era interpretada por Tamzin Merchant (Carnival Row).

As mudanças não foram feitas apenas na frente das câmeras. Nos bastidores, o diretor de Tom McCarthy foi substituído por Tim Van Patten, um nome familiar da HBO que já era conhecido por seu trabalho em programas de prestígio como Rome, The Wire e The Sopranos. E embora as mudanças no elenco certamente tenham impactado no produto final – a química de Merchant com Jason Momoa, que interpretou seu marido Khal Drogo, teria sido inexistente. Essa troca de direção foi certamente a mais relevante para o show. Porque, ao que parece, o piloto original de Game of Thrones teve alguns problemas sérios quando se trata de criar a vibração geral de uma série épica de fantasia.

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Talvez a cena mais sintomática de todas tenha sido a chegada do Rei Robert (Mark Addy) a Winterfell. Em “Winter Is Coming”, personagens e figurantes comunicam rapidamente a importância desse momento, ajoelhando-se assim que o rei e sua comitiva entram na casa dos Stark. No piloto original, por outro lado, ninguém se ajoelhou quando Robert entrou no palco. Isso, de acordo com Addy, era um problema porque você não pode simplesmente dizer às pessoas ao seu redor que você é poderoso porque é o rei. “As pessoas têm que te dar isso mostrando subserviência. Tem que ser concedido a você por outros”, disse Addy em sua entrevista em Fire Cannot Kill a Dragon. Então, desde o início, Game of Thrones tinha um rei que não parecia grande coisa.

O elenco e a equipe também tiveram problemas para imbuir a cena em que as crianças Stark encontram os lobos gigantes com o senso de importância apropriado. Bryan Cogman, que era assistente de Benioff na época e depois se tornou um dos produtores executivos da série, conta que teve dificuldade para fazer o ator entender o quão inspiradores eram os lobos gigantes. Afinal, as feras lendárias que simbolizam a Casa Stark estavam sendo interpretadas por uma matilha de cachorrinhos. “Sou o pequeno assistente Bryan correndo pelo set gritando para quem quiser ouvir: ‘Eles são lobos gigantes! Ninguém viu isso em um milhão de anos! Isto é como ver dinossauros! Não é como encontrar cachorrinhos! ‘ E todo mundo meio que rindo”, lembra Cogman.

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Outra coisa que não parecia tão impressionante no piloto original de Game of Thrones foi o cenário do show. Este é um verdadeiro crime quando consideramos o quão majestosos lugares como Winterfell e Pentos parecem em “Winter Is Coming“. Embora o elenco e a equipe tenham sido enviados para a Irlanda do Norte e Marrocos para dar a cenas como a chegada de Robert em Winterfell e o casamento de Daenerys com Khal Drogo uma vibração adequada e realista, quando chegou a hora de mostrar o piloto para testar o público e os executivos do estúdio, ninguém podia ver onde o dinheiro das viagens havia sido gasto.

O casamento de Dany e Drogo foi originalmente filmado à noite e, no geral, o episódio carecia de tomadas amplas que estabelecessem o cenário da história. Em suma, a produção parecia pequena. Os comentários variaram de “Poderíamos ter filmado isso em Burbank” a “Poderíamos ter filmado em um estacionamento“.

O piloto descartado não conseguiu encontrar o equilíbrio entre fantasia e drama político

Enquanto os departamentos de cinematografia e design de produção estavam sendo arrastados por não tornar o show épico o suficiente, o pessoal do figurino, cabelo e maquiagem recebia sua própria cota de críticas. Há rumores de que as perucas e cortes de cabelo usados por alguns dos personagens, em particular, foram completamente flagrantes. Lena Headey descreveu seu visual como uma reminiscência de uma dançarina de Las Vegas ou uma Dolly Parton medieval devido à quantidade de cabelo que ela usava em seu enorme penteado. Viserys Targaryen (Harry Lloyd) usava um corte prateado, enquanto Joffrey Baratheon (Jack Gleeson) exibia uma tigela cortada diretamente de um livro de história sobre Henrique V. Aqueles que o viram dizem que ele parecia um pajem e juram que Gleeson e seu penteado mais moderno contribuiu para tornar Joffrey um pouco mais ameaçador.

Dos cenários aos personagens, o piloto original de Game of Thrones estava longe de encontrar o visual adequado para o show. No entanto, este não é o único problema. De acordo com os que trabalharam no piloto, também havia algo muito errado com os temas gerais do programa. Mais especificamente, o piloto não exibido teve problemas para encontrar o equilíbrio correto entre ser um épico de fantasia tradicional e um drama político mais realista – um equilíbrio que é essencial para Game of Thrones como o conhecemos.

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A questão-chave envolveu alguns dos diálogos de exposição que foram cortados para tornar as conversas entre os personagens mais “reais”. Isso fez com que algumas cenas não fizessem nenhum sentido. O problema mais flagrante foi com a cena em que Jamie empurra Bran de uma janela depois que o jovem Stark pega ele e Cersei em um momento íntimo. Como não havia cenas em King’s Landing e nenhum despejo de informações básicas, os espectadores não sabiam que Jamie e Cersei eram gêmeos e, portanto, não entendiam como era terrível para eles serem pegos juntos na cama.

Comentando sobre o piloto como um todo, o autor George R.R. Martin, responsável pela série de romances As Crônicas de Gelo e Fogo, na qual a série se baseia, disse que gostou bastante, embora admita que não é a melhor pessoa para julgar. “Alguns não sabiam que Jaime e Cersei eram irmão e irmã. Bem, isso não foi um problema para mim! Minha grande familiaridade com o material tornou difícil para mim julgar objetivamente. Gostei que mantiveram um nível considerável de complexidade”, afirmou. De fato, para fãs obstinados, a falta de exposição nem sempre é um problema. Para espectadores casuais, por outro lado, pode ser quase fatal.

O que perdemos com o piloto original da série?

Martin também explicou que foi informado de que está sob pena de morte se mostrar o piloto não exibido a alguém. Isso mostra o quão baixo o episódio está na estima da HBO. Ainda assim, mesmo com todas as suas falhas, parece haver algumas coisas interessantes no piloto original de Game of Thrones. Infelizmente, isso não entrou em “Winter Is Coming”. Um deles é a participação especial de Martin como um nobre Pentoshi na cena do casamento de Daenery e Drogo.

Aliás, apesar de ter sido filmado no escuro e com dois atores que não tinham química entre si, a cena original do casamento dothraki parece ser um tanto superior à que foi ao ar. Pelo menos em alguns aspectos. Mais uma vez, de acordo com Martin, a primeira versão da primeira noite de Dany e Drogo juntos foi muito menos “violenta” do que a de “Winter Is Coming“.

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Em vez de ser agredida sexualmente por seu novo marido, Dany se envolveu em um jogo de sedução com Drogo muito mais próximo daquele descrito por Martin nos livros. Na cena, Dany diz: “Não” para Drogo várias vezes enquanto eles se despem, até que ela finalmente cede e diz: “Sim”. Ainda é uma cena desconfortável, considerando a dinâmica de poder entre os dois personagens. E o fato de Daenerys ter 13 anos no livro. Mas é muito melhor do que o que vimos na versão final.

Ainda assim, considerando tudo, estamos melhor com o piloto de Game of Thrones que realmente foi ao ar do que com a desastrosa versão original. Isso, no entanto, não apaga nossa necessidade de ver como seria Cersei com o cabelo de Dolly Parton. Ou quão diferente poderia ter sido a relação de Dany com Drogo. Talvez seja hora de iniciarmos uma petição para que a HBO libere o piloto não exibido ao público.

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Matheus Pereira

Coordenação editorial

Matheus Pereira é Jornalista e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Depois de quase seguir carreira na Arquitetura, enveredou para o campo da Comunicação, pelo qual sempre nutriu grande paixão. Escritor assíduo na época dos blogs, Matheus desenvolveu seus textos e conhecimentos em Cinema e TV numa experiência que já soma quase 15 anos. Destes, quase dez são dedicados ao Mix de Séries. No Mix, onde é redator desde 2014, já escreveu inúmeras resenhas, notícias, criou e desenvolveu colunas e aperfeiçoou seus conhecimentos televisivos. Sempre versando pelo senso crítico e pela riqueza da informação, já cobriu eventos, acompanha premiações, as notícias mais quentes e joga luz em nomes e produções que muitas vezes estão fora dos grandes holofotes. Além disso, trabalha há mais de dez anos no campo da comunicação e marketing educacional, sendo assessor de imprensa e publicidade em grandes escolas e instituições de ensino. Assim, se divide entre dois pilares que representam a sua carreira: de um lado, a educação; de outro, as séries de TV e o Cinema.

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