Body of Proof: a série (injustiçada) que fazia os mortos falar
Uma das séries mais injustiçadas da década, tinha seus problemas como qualquer outra, mas Body of Proof é sempre um bom título para relembrar.
Um tesouro incompreendido
Lançada pela ABC em 2011, Body of Proof era tudo o que o canal precisava naquele momento: uma procedural que fosse diferente dos demais, mas que proporcionasse experiência similar dos outros gêneros investigativos para laçar seu telespectador. Quando estreou em março daquele ano, logo percebeu-se que a série não era nenhum sucesso. Todavia, a série trazia números estáveis o suficiente para estancar o sangramento do horário e rendia (muitos) dólares para ABC Studios com vendas internacionais.
Canais tomam decisões equivocadas todos os anos. Seja nas suas aprovações ou nos seus cancelamentos, tanto que poderia citar inúmeros exemplos que começam por Lone Star, passam por Lucky 7, continuam com We Are Men até chegar em Utopia. Mas o cancelamento de Body of Proof é um dos maiores erros da década. Confesso ao leitor que até hoje, olho para minha coleção de DVDs na prateleira me questionando o que levou o canal a tirar um drama tão próspero do ar.
Não só porque a emissora este ano entendeu que para salvar um horário complicado (terça às 22h) precisa-se voltar ao básico, mas por uma fala de Channing Dungey, atual presidente de entretenimento da ABC. “Nós lamentamos muito o cancelamento, não vou mentir. Era uma boa série, foi triste vê-la indo embora,” lamentou. Em sua defesa, ela não comandava o canal à época da lambança, mas sim Paul Lee, demitido em 2016.
Mas afinal, o que a série tinha de especial?
O que tornavam a série tão boa? Primeiramente, sua protagonista. Dana Delany era um sucesso em Desperate Housewives, mas que em virtude da (constante) preguiça de Marc Cherry, a atriz foi esquecida. Desta vez era diferente. Semanalmente tínhamos a oportunidade de acompanhar o The Dana Delany Show, onde a atriz surpreenderia com uma performance pontual, certeira e sem firulas. Fazia medicina legal forense parecer fácil, mesmo que este que vos escreva nunca tenha se interessado por anatomia na vida, principalmente ao julgar pelas minhas notas em biologia no ensino médio.
Como um bom procedural, os casos eram deliciosos, instigantes e interessantes. É claro que alguns flertavam com o óbvio enquanto outros pareceriam um tanto incoerentes. Mas o roteiro era sagaz o suficiente para deixar a criatividade tomar contar. Afinal Body of Proof não tinha qualquer espelho ou antecessora para se preocupar. Não era uma policial que vivia com o constante fantasma de NYPD Blue ou a jurídica que frequentemente bebia na fonte de LA Law. Essa liberdade ajudava o roteiro a explorar inúmeras possibilidades, o que contribuía para qualidade do drama.
O elenco coadjuvante tinha seus problemas. Mal formado e preguiçoso em virtude de uma equipe de direção pouco visionária, o telespectador não sabia se estava assistindo o alívio cômico ou uma equipe séria de legistas. É verdade que Geoffrey Arend e o já falecido Windell Middlebrooks formavam uma parceria ótima. Tinham química e uma capacidade de fazer rir com facilidade, mas constantemente colocavam o ritmo do episódio em consequência.
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Assistir série de qualidade não tem momento certo
Nem sempre o roteiro conseguiu trabalhar a vida particular da Dra. Megan Hunt com originalidade. Problemas de relacionamento com a filha, Lacey, renderam boas e más histórias até o Series Finale. Altos e baixos que o telespectador perdoava uma vez que um novo (e interessante) caso a ser desvendado. Body of Proof não era nenhum exemplo a ser seguido, tinhas suas falhas assim como qualquer outra série, mas um passatempo delicioso que vinha com a melhor e mais doce cereja de todas: Dana Delany.
Nunca é tarde demais para apreciar tesouros do passado, tenha certeza. E lembre-se que esse conselho vem de uma pessoa assistindo Murphy Brown e Law & Order: SVU, desde o início.