Monarch Legado de Monstros: série é boa, mas tem pouco Godzilla
Monarch, a série do Godzilla, chega à Apple com muitos personagens, bons efeitos e pouco Godzilla. Saiba o que achamos da estreia.
Desde os primórdios o Homem sempre procura coisas fora de sua realidade para aplacar a ânsia por histórias e novidades. É por isso que, desde muito cedo, já tivemos contos sobrenaturais ou tramas fantásticas. Nos primeiros anos do gênero de horror, já vínhamos a imaginação voar através de lendas e criaturas que há muito habitavam as mentes dos povos. Quando o mundo real esgota as possibilidades, viajamos para outros cantos. Aí surgem vampiros, lobisomens, magos e monstros gigantes, como o Godzilla de “Monarch”.
O próprio Godzilla vem numa esteira de fuga da realidade. O monstro é, em maior ou menor grau, um filtro do mundo real, uma reinterpretação de acontecimentos verídicos. O gigantismo e a ameaça de Godzilla é uma forma do ser humano entender realidades que mal compreende, como a guerra. “Monarch: Legado de Monstros” tem nesta fuga da realidade o seu maior trunfo e seu maior equívoco.
Trunfo também é maior problema
O trunfo está no foco merecido aos personagens humanos e seus dramas. Ao focar nas pessoas e no mundo atingidos por estes monstros, “Monarch” traz uma camada de pessoalidade e identificação que falta em muitos destes projetos. “Godzilla”, de 2014, tinha parte de sua força justamente nesta abordagem. E muitos criticaram o filme equivocadamente ao considerá-lo monótono, pois dava mais espaço às pessoas do que ao monstro.
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A questão é que, quando o gigante aparecia no filme, o resultado era empolgante. Godzilla era ameaçador, enorme, com um rugido acachapante. E Gareth Edwards, que mandou muitíssimo bem em Rogue One e A Resistência, sabia em quais botões apertar quando dirigiu aquele longa. Isso nos leva, então, ao pecadilho de “Monarch”. O drama humano é interessante, mas o monstro, quando aparece, não tem o impacto que merecia ter.
Falta Godzilla na série do… Godzilla
Com isso, as aparições escassas de Godzilla não são o problema. O que incomoda é que, quando ele surge em cena, a catarse e a empolgação não chegam. Para entender melhor, basta fazermos uma comparação com outro monstro: Hannibal Lecter. O canibal de Anthony Hopkins aparece por pouco mais de 15 minutos em “O Silêncio dos Inocentes”. A questão é que, no clássico vencedor do Oscar, Hannibal preenche toda e qualquer lacuna. Lecter está presenta mesmo quando não aparece. Sua sombra é percebida mesmo que a ameaça, de fato, seja outro sujeito, o Buffalo Bill.
Mesmo aparecendo pouco, Hopkins/Lecter deixam a sua marca. Tanto que o trabalho rendeu o Oscar ao Ator e a eternidade ao personagem. É claro que Godzilla não se compara a Lecter, visto que o monstrão é apenas uma conjunção de efeitos visuais. Ainda assim, é um elemento da trama que, se utilizado com inteligência, poderia render ótimos momentos na série. No fim, a impressão é que “Monarch” fica sempre no quase, no daqui a pouco. E isso frustra, principalmente porque esta é uma série que exige uma conexão e um interesse maior do público.
Série tem espaço – e capacidade – para melhorar
Dinheiro sabemos que não é o problema. A Apple tem investido pesado em suas produções e, na maioria das vezes, acerta o alvo. Algumas de suas produções são as melhores dos últimos anos, e é visível o interesse e o respeito da plataforma pelo material. Assim, talvez tenha faltado um pouco de coragem aos roteiristas, que capricharam na quantidade de personagens, nas idas e vindas no tempo, mas não na ação.
Ainda assim, “Monarch” é uma diversão válida. Os visuais são impressionantes (créditos a Matt Shakman, diretor de Game of Thrones e do próximo Quarteto Fantástico) e o elenco segura a tarefa, encarando tudo com seriedade e respeito. A escolha de escalar Kurt Russel e seu filho como versões do mesmo personagem é inspirada e garante bons momentos. Momentos que devem ficar ainda melhores em breve, já que os dois primeiros capítulos servem muito mais como uma introdução, prometendo mais do que cumprindo.
Nota: 3/5