Physical é a série do Apple TV ácida, divertida e necessária | Crítica

Numa Califórnia em intensa transformação, Physical se inspira em Jane Fonda para entregar um recorte histórico incrível e necessário.

Physical, AppleTV+
Imagem: AppleTV+ / Divulgação

Apesar do sucesso arrasador de Ted Lasso, a AppleTV+ ainda não dominou a arte do marketing para promover suas séries. Afinal, não são todas com o apelo comercial de Reese Witherspoon e Jennifer Aniston. Mesmo assim, Physical me atraiu pelo simples fato de trazer Rose Byrne como protagonista. Sei que não estamos mais na era de ‘bom elenco, boa produção’, mas para um fã de carteirinha de Damages, minhas lembranças da atriz na televisão são das melhores. Felizmente, minha intuição não me traiu.

Physical acompanha Sheila Rubin (Rose Byrne), uma dona de casa de San Diego que não aguenta mais sua vida monótona. Precisa cuidador dos serviços domésticos, resolver os problemas do marido inútil, além de ser uma boa mãe. Em busca de um sopro de juventude e liberdade, ela resolve investir em nada mais, nada menos do que aulas de ginástica. Enquanto isso, o esposo, Danny Rubin (Rory Scovel), decide concorrer ao Senado estadual da Califórnia.

O trunfo da série é que são temas são atemporais. As frustrações, medos, necessidades e sentimentos da Sheila são de mulheres americanas, brasileiras, canadenses, argentinas, chilenas e por aí vai. Além disso, os desafios são os mesmos se voltarmos, pelo menos, 50 anos na história. O lugar da mulher na sociedade, assim como sua liberdade para trabalhar, decidir sobre seu próprio corpo, econômica e entre outros.

PUBLICIDADE
Physical, AppleTV+
Imagem: AppleTV+ / Divulgação

Em Physical, a revolução será televisionada

Contudo, estamos numa série de comédia. O roteiro é bem sucedido em apostar na acidez para impor ritmo a narrativa e carisma para protagonista. As reflexões pontuais fazem com que a personagem fique relacionável, seja o famigerado ‘gente como a gente’, reforçando a postura atemporal do texto. Afinal, toda mulher, acredito eu, já passou por situações ridiculamente similares a essas que Sheila enfrenta numa base diária.

Os elementos culturais da década de 1980 são um deleite à parte. Seja pelas referências aos vídeos icônicos de Jane Fonda até o caos político da Era Reagan, Physical consegue entreter e fazer refletir também nessa frente. Mesmo com a eleição de um político de direita à presidência, o estado da Califórnia começa sua metamorfose política justamente nesse período com o aumento da imigração, elitização dos subúrbios e alto crescimento econômico.

A série absorve todas essas transformações de formas muito singulares. O embate entre Sheila e seus pais por dinheiro; a proposta do desenvolvimento econômico da faixa de areia; os desejos sexuais pitorescos dos vizinhos e até mesmo a necessidade de cortejar o poder econômico para ser competitivo em eleições.

Em suma, Physical é um acerto em todos os sentidos. Seja como série de comédia, de drama ou até mesmo um recorte histórico que faz refletir da onde vimos, onde queremos ir e o caminho para chegarmos lá. Lembro, por fim, que a série já está renovada para 2ª temporada.

Nota: 4/5

Sobre o autor

Bernardo Vieira

Redação

Bernardo Vieira é um jornalista que reside em São José, Santa Catarina. Bacharel em direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina, jornalista e empreendedor digital, é redator no Mix de Séries desde janeiro de 2016. Responsável por cobrir matérias de audiência e spoilers, ele também cuida da editoria de premiações e participa da pauta de notícias diariamente, onde atualiza os leitores do portal com as mais recentes informações sobre o mundo das séries. Ao longo dos anos, se especializou em cobertura de televisão, cinema, celebridades e influenciadores digitais. Destaques para o trabalho na cobertura da temporada de prêmios, apresentação de Upfronts, notícias do momento, assim como na produção de análises sobre bilheteria e audiência, seja dos Estados Unidos ou no Brasil. No Mix de Séries, além disso, é crítico dos mais recentes lançamentos de diversos streamings. Além de redator no Mix de Séries, é fundador de agência de comunicação digital, a Vieira Comunicação, cuido da carreira de diversos criadores de conteúdo e influenciadores digitais. Trabalha com assessoria de imprensa, geração de lead, gerenciamento de crise, gestão de carreira e gestão de redes sociais.