Por que as pessoas gostam tanto de chorar assistindo séries de TV?
O gênero drama é um dos favoritos dos seriadores…
Você provavelmente já se pegou chorando em alguma série de TV, não é verdade? E, ao invés de ficar chateado com isso, você parece ter gostado? Não se preocupe, você não está sozinho!
Muitos seriadores tem a fissura de chorarem assistindo aos seus programas favoritos, e por isso que séries como Grey’s Anatomy e This Is Us possuem tanto sucesso: elas nos fazem gastarmos todo nosso estoque de lencinho.
Mas porque isso?
Uma resposta pode parecer bastante óbvia: os espectadores são atraídos por essas séries porque elas nos fazem emocionalmente investidos nos personagens e, na maioria das vezes, obtemos prazer com esse investimento emocional. Mas especialmente em dramas pesados, as coisas nem sempre são ótimas para os personagens, e o investimento emocional dos espectadores funciona nos dois sentidos.
“Para ser um sucesso, um programa tem que ser bem sucedido em fazer você se importar com os personagens“, disse Jennifer Barnes, professora assistente de Psicologia e Redação Profissional na Universidade de Oklahoma, em uma matéria ao TV Guide. “Sofremos quando eles sofrem, mas também sentimos grande alegria quando eles encontram alegria. Essas séries, se eles apenas transmitem tristeza o tempo todo, provavelmente não fariam tanto sucesso. Eles entregam uma mistura de emoções. E parte boa disso tudo é que na mesma proporção que eles nos deixam tristes eles também podem nos deixar muito felizes“.
O produtor Jason Katims, da série Rise – a substituta de This Is Us na NBC – tem subconscientemente trabalhado para esse equilíbrio o tempo todo: seu objetivo não é fazer o público chorar toda semana, mas aprofundar as conexões que eles sentem por esses personagens. E se isso resultar ocasionalmente em lágrima, que seja.
“É que as pessoas realmente gostam de se emocionar, ou elas realmente gostam de ver uma história que faz com que elas sintam e vejam personagens que eles sentem que poderiam se conectar?” questiona Katims. “Isso é o que faz você se emocionar, eu acho. Quando você assiste algo, é como se você se conectasse pessoalmente. Isso parece o tipo de histórias que eu gravito, tanto como espectador quanto como contador de histórias… Para mim, significa que você se sente conectado à experiência e não está assistindo de longe, e sim vivenciando aquilo.“, completou o produtor.
Mas não é estranho sentir conexões tão profundas com pessoas que nem são reais?
Na verdade não, de acordo com Barnes. Há um termo psicológico para as conexões que formamos com personagens e celebridades fictícias: relações parassociais, ou seja, relações que, em essência, são imaginárias porque só vão em uma direção.
“Você pode sentir que conhece o Big Three em This Is Us muito, muito bem, mas eles não conhecem você de fato porque são fictícios e não podem conhecê-lo“, explica Barnes. “Especialmente se você está assistindo o programa semana após semana, essas são pessoas que podem ser parte de sua vida por um longo tempo, e você pode realmente sentir que elas são suas amigas. Então é claro que você está triste quando algo horrível acontece com um deles – ou, quando alguém morre, você sente que perdeu um amigo”, não é mesmo Jack?
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Alguns estudos mostraram que os participantes relataram sentir mais pesar pela morte de um personagem fictício do que a (hipotética) morte de um conhecido do mundo real.
Apenas o ato inconsciente de formar essas relações parassociais, independentemente dos impactos que elas causam em nossos estados emocionais, traz benefícios psicológicos para as pessoas.
Pesquisas mostram que ter “amigos” fictícios pode realmente aumentar a auto-estima em indivíduos que não estão obtendo o que precisam em relacionamentos reais. Em outro estudo, as pessoas também demonstraram melhor desempenho cognitivo em uma sala onde fotos de suas celebridades favoritas e personagens fictícios foram penduradas.
Em um nível ainda mais profundo, o prazer derivado do choro em um programa de TV também está relacionado às meta-emoções dos seres humanos, ou “sentimentos sobre nossos sentimentos“. Nossos sentimentos em relação aos personagens fictícios são, muitas vezes, muito menos complicados do que nossos sentimentos em relação às pessoas em nossas vidas reais, em parte porque os desenvolvimentos ficcionais de impacto direto sobre nós são mínimos.
Fazer parte dessa história!
Com This Is Us ou Grey’s Anatomy, em particular, Barnes acredita que há outro elemento da psicologia humana por trás da popularidade dessas séries – e é algo que não envolve uma sensação um tanto masoquista de chorar, mas sim um sentimento de pertencimento.
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O mesmo pode ser dito de Rise. Ela não nos faz chorar como em This Is Us, mas como acontece com outros dramas familiares (e séries de Katmis), ele oferece aos espectadores um vislumbre de um grupo um tanto familiar – neste caso, o departamento de teatro de um ensino médio em uma pequena cidade pequena.
“Os humanos têm essa necessidade universal chamada de necessidade de pertencer. Precisamos de conexões com outras pessoas, mas também precisamos sentir que pertencemos a algum tipo de grupo“, diz Barnes.
“Se você olhar para o título de This Is Us, há um ‘Us’ (nós). Há um grupo lá para pertencer. Nesse caso, é uma família. Acho que o programa faz um ótimo trabalho convidando os espectadores a fazerem parte dessa família, em parte porque você consegue ver o passado deles. Ver como essas pessoas se tornaram quem elas são hoje, você está com elas por várias gerações, e existe essa proximidade que os diferentes membros da família compartilham… Embora as pessoas se sintam muito atraídas por This Is Us porque é tão lacônica, eu também acho que uma grande parte do prazer é que eles apenas se sentem parte dessa família e veem essas pessoas superando os desafios e os vêem crescer, subir e descer”, finaliza
E vocês, também gostam de séries de dramas? Se sentem acolhidos por essa família?