Ripley, o novo suspense estonteante da Netflix
Visualmente, Ripley é uma das produções mais lindas que a Netflix já produziu. O elenco e a história, felizmente, não ficam para trás.
O preto e branco não é estranho a Steven Zaillian. O criador/roteirista/diretor de “Ripley” é roteirista de “A Lista de Schindler”, um clássico do Cinema reconhecido, entre outras coisas, por sua belíssima fotografia monocromática. Na minissérie da Netflix, Zaillian traz um dos melhores diretores de fotografia e, juntos, criam uma das produções mais belas já vistas no streaming – ou em qualquer canal televisivo.
Adaptando o primeiro livro da saga “Ripley”, de Patricia Highsmith, a minissérie da Netflix traz Andrew Scott no papel de um vigarista que ganha pequenas quantidades de dinheiro aplicando golpes em Nova York. Sua sorte muda, então, quando um homem pede que ele vá até a Itália, encontre e retorne com o seu filho, Dickie. As coisas saem cuidadosamente do controle e uma rede de intrigas se cria.
A história já havia ganhado uma adaptação famosa no final da década de 1990. No elenco, Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow dão vida ao trio central. No filme, a saga criminosa de Tom Ripley ganha ares de suspense sensual cheio de gente bonita, paisagens lindíssimas e reviravoltas.
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Na minissérie, contudo, Zaillian opta por uma abordagem mais cínica. A própria fotografia em preto e branco já salienta os sentimentos buscados pela trama e seus personagens. E apesar da beleza inquestionável das imagens, “Ripley” não tenta mostrar aqueles ambientes como elementos paradisíacos. Na verdade, os espaços internos e externos são sufocantes, cheios de paredes e portas que escondem segredos e rostos.
Abordagem semelhante se estende ao elenco. Scott está longe do protótipo conhecido de galã. O mesmo serve para os demais personagens, como Dickie e sua namorada. Nesta trama, enfim, todos estão fugindo de algo e não buscando. Esta, então, parece ser a grande diferença de “Ripley” para as adaptações anteriores e a maioria dos suspenses lançados recentemente. A fuga, afinal, é mais pessimista do que a busca.
Com isso, é sintomático que o Ripley de Scott não seja um golpista galanteador. Tom, por exemplo, não parece sentir prazer nos golpes que aplica. Seus roubos são muitas vezes envergonhados ou mesmo desastrados. Seus ganhos são ínfimos, e os problemas constantes. Apesar da inteligência e de curtir alguns momentos, esta versão parece mais destinada a sobreviver do que angariar riquezas.
Não é à toa que muitas críticas à série têm apontado a falta de carisma ou a dificuldade de permanecer próximo ao personagem. Tom Ripley não é um anti-herói, mas um homem comum, cheio de problemas e propenso a qualquer tipo de crime. Nesta perspectiva, é mais um noir clássico do que um suspense típico da Netflix.
Zaillian, então, constrói “Ripley” com um ritmo quase que cirúrgico. Cada quadro, então, parece pensado milimetricamente, cada movimento (de câmera e dos atores) parece ensaiado com precisão quase psicótica. Essa exatidão, que jamais escolhe grandes arroubos dramáticos ou de ação, entretanto, pode afastar o público que busca por mistérios mais movimentados. Ainda assim, aqueles que tiverem paciência poderão se deliciar com uma experiência narrativa e visualmente embasbacante.
Nota: 4/5