Seria Westworld uma representação da “Eterna Danação”?
Westworld e a Eterna Danação
ATENÇÃO – ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS DE WESTWORLD PRIMEIRA TEMPORADA
Uma das séries mais intrigantes que tive a oportunidade de assistir em 2017 foi Westworld. E dela, um resgate de teorias, comparações e ideias surgiram.
Resumindo a série, sem lhe fazer justiça: Ela se passa em um parque de diversões temático, ambientado no velho oeste, onde robôs idênticos aos humanos são personagens daquele mundo. Os humanos (ricos) pagam para participar da experiência, podendo fazer o que quiser com os robôs, desde conversas amistosas até homicídios (entre outras deturpações horrendas imaginadas pela mente humana). Como é uma ficção científica, o ponto central da trama é a tomada de consciência dos seres mecânicos. Para nós telespectadores, cabe a reflexão filosófica sobre o que é consciência e se dela concluímos que se algo, como um robô, passa a tê-la, se este algo passa a ser “alguém”. Enfim, recomendo ver para todas as reflexões possíveis e uma boa dose de ficção científica.
Mas quero me distanciar um pouco das análises que normalmente são feitas sobre a série, e focar num ponto que me instigou desde o primeiro capítulo. Uma relação destes robôs com a eterna danação.
Westworld e a eterna danação: entenda as referências…
Há, na leitura das entrelinhas, uma simbologia mitológica e religiosa muito forte na matança/tortura/estupro/estrago total dos robôs, o retorno deles para a oficina do parque para serem reparados e, então, a recolocação deles no parque para que sejam novamente mortos, torturados, estuprados, etc. Em suma: Westworld não é nada mais, nada menos que o inferno cristão.
Vamos voltar um pouco no tempo. Na mitologia grega, Prometeu era um titã que roubou o fogo do Monte Olimpo e entregou para nós, homens (ele gostava da humanidade). Zeus, enfurecido, o condenou a uma eterna danação: Amarrou-o numa pedra e fez com que uma águia gigante devorasse o seu fígado durante todo o dia. No outro dia, seu fígado regenerava, e a águia novamente o devorava. A dor e o sofrimento eram eternos.
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Bem, a pena foi duríssima, mas convenhamos: depois de umas mil refeições de fígado, nem mesmo Prometeu lembra a razão de estar ali. Só sabe do sofrimento diário. A única a curtir a situação é a águia, que tem uma refeição grátis todo dia. Zeus é indiferente à situação.
Isso lembra alguma coisa?
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Agora vamos dar uma espiada no inferno cristão:
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Os aspectos que mais me chamam a atenção nesta pintura são os seres humanos completamente desorientados, sendo torturados de inúmeras maneiras. Eles não sabem para ondem ir e o porquê de estarem ali, enquanto os “diabinhos” estão curtindo bastante, a maioria rindo, celebrando a dor e a tortura.
Voltemos a Westworld. Ali temos seres que, ao final, descobrimos serem conscientes de sua existência, mas desconhecem a razão de existirem (hmmm…soa familiar...). De repente, aparecem seres semelhantes (no caso, nós, humanos), que os matam, torturam, destroem e fazem isso rindo, se deliciando com o momento…. como os diabinhos da pintura acima!
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Chega-se à seguinte conclusão…
Se Westworld é o inferno, nós humanos, frequentadores do parque, somos os diabinhos, torturando-os por prazer. E um prazer eterno, pois assim como o fígado de Prometeu era regenerado, os robôs são reconstruídos para que possamos, novamente, se divertir no inferno.
Agora, uma última digressão: Se alguém escapasse do inferno e chegasse ao céu e perguntasse para Deus por que tinha sido enviado para aquele lugar e escutasse a seguinte resposta indiferente: “Não tem propósito para você, só para mim e meus convidados. Seu propósito é sofrer eternamente a custas de outros. A propósito, volte para lá!”. Bem, acho seguro dizer que teríamos o famoso conflito entre criador e criatura, onde, geralmente, a criatura se rebela e mata seu criador, como o famoso monstro de Frankenstein.
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Claro que se torna curioso o que os produtores de Westworld estão tramando para esta nova segunda temporada, se colocarmos essa análise em foco. Mas o final da primeira temporada já seria o suficiente para completar o ciclo da “danação eterna”.
A personagem Dolores, um robô, ao descobrir seu propósito e a razão de sua existência, mata o Dr. Ford. Criatura se rebelando contra Criador.
Que final fantástico…