Succession escancara uma maldição em seu penúltimo episódio

Succession chega a seu penúltimo episódio escancarando uma maldição digna das tragédias gregas. Final promete ser imperdível.

Succession

No mito grego, Sísifo é obrigado a rolar uma pedra montanha acima por toda a eternidade. Caso a pedra role abaixo, Sísifo deve refazer o percurso. O personagem da mitologia era o mais inteligente dos mortais, mas foi condenado à repetição e sofrimento eternos depois de desafiar e enganar os deuses.

Todos os personagens de Succession, em especial Kendall, Roman e Shiv, são versões de Sísifo, rolando suas pedras montanha acima. Sem fim, sem motivo, cercados de tragédia e de uma existência vazia.

Como apontamos no texto sobre o episódio anterior, os irmãos se revezam em sequências de altos e baixos. Roman, por exemplo, chegou ao fim do oitavo episódio no topo. Para quem conhece Succession, era óbvio que a vitória não duraria muito tempo. A pedra despencaria pela face da montanha mais cedo ou mais tarde.

Assim, o que vemos no penúltimo capítulo da série é uma troca violenta de lideranças: Roman cai, Kendall sobre. Shiv busca atalhar, enquanto carrega sua própria pedra.

A balança de poder não para – nem mesmo depois do fim

E, como vimos ao final do episódio, Shiv parece por cima. Mas isso também não parece durar mais do que poucos minutos da vindoura finale. Shiv deve cair, abrindo espaço para o derradeiro vencedor da disputa. Mas será? É possível que alguém ocupe o cargo máximo da Waystar e permaneça no topo?

Tudo indica que o campeão acabe caindo em seguida, mesmo que acompanhemos tais derrotas. Ao que tudo indica, portanto, é que a “vitória” fique com alguém que não seja um dos filhos de Logan. Nesta perspectiva, Tom ou Greg podem assumir.

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Isso porque Kendall, Roman e Shiv, ainda que permaneçam ricos ao final de Succession, provavelmente seguirão carregando suas pedras. Shiv será mãe, desempenhando o papel que cresceu detestando.

Kendall se aproximará de Logan em sua pior característica: a de mau pai. Já Roman estará como sempre temeu: sozinho, perturbado em um mundo preparado para o engolir. Tudo indica que eles não terão o que mais desejam: o poder do comando do império da família.

Mas ainda assim terão poder. Ainda assim terão dinheiro. Afinal, o que é derrota para quem pode comprar tudo?

Anos de mágoas não serão enterradas tão facilmente

No penúltimo episódio, vemos os reflexos de anos de relações complicadas convergindo em um ponto de ebulição. Não só o destino da empresa e da família pende em dúvida, como os rumos do país parecem suspensos. Mas nada do que aconteça na nação, ou para toda a população, será mais importante do que o luto da família.

É por isso que Succession é mais um drama familiar do que um suspense político. A política aliás, principalmente os conceitos de esquerda e direita, pouco importam, pois a família Roy e seu império permanecerão prósperos, independente do espectro político dominante.

Em uma entrevista, por exemplo, ao ser questionado sobre a maior curiosidade acerca dos bilionários, Kieran Culkin respondeu: “eles não usam casacos“.

Eles estão sempre em mansões e, quando saem, entram em jatos. Quando desembarcam, invadem prédios. Quando se despedem, sobem em helicópteros. A rua, em seus mais diversos sentidos, jamais os abraça. O vento, que corta o povo, jamais esfria a carne dos magnatas.

Série segue em seu corajoso trabalho de desprezo e empatia

Isso não nos impede, contudo, de sentir pena de Roman, que chora como uma criança durante o funeral de seu pai. Este poder de gerar empatia, mesmo sendo um personagem desprezível, vem em grande parte do talento de Culkin. E de Strong, Snook e todos os outros.

Assim como James Gandolfini e Bryan Cranston foram anti-heróis/vilões envolventes e humanos, os membros da família Roy também são.

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Será uma tarefa árdua para os votantes do Emmy, portanto, decidir quais serão os vencedores da próxima edição do prêmio. Todos os membros do elenco merecem uma estatueta. E mesmo James Cromwell, que aparece por uma única e potente cena, é, desde já, favorito na categoria de Ator Convidado.

E se Mark Mylod, diretor do episódio, já havia cimentado seu caminho aos prêmios com “Connor’s Wedding”, agora ele se aproxima mais alguns quilômetros da consagração.

Preparando um terreno empolgante e imprevisível para o desfecho, Succession caminha para um final natural. No topo, chega a seus últimos minutos na próxima semana. A despeito do que vimos até agora, vem coisa boa por aí.

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Matheus Pereira

Jornalista, curioso e viciado em cultura. Escreve há quase 10 anos no Mix e Six Feet Under é sua série favorita.

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