Crítica: 2ª temporada de 9-1-1 traz uma série mais humana e atenta ao seu impacto social
Segundas temporadas tendem a ser aquele momento que séries tropeçam, matam aquele personagem errado e mudam de rumo. O que será que aconteceu com 9-1-1?
Você, assíduo leitor do Mix de Séries, sabe que a televisão está mudando. Desde quando você começou a assistir sua primeira série, certamente o mundo não é mais o mesmo. A forma de assistir e consumir conteúdo não é a mesma. Lembro o leitor que assistia Desperate Housewives semanalmente no horário que o Canal Sony programava. Hoje assisto Disque Amiga Para Matar quando estiver disposto num estalar de dedos na Netflix. Contudo, a forma pela qual nós nos relacionamentos com o conteúdo não mudou. Diria até que aumentou ainda mais a necessidade de termos algo reconfortante e que traga empatia.
Sendo assim, consigo explicar não só o sucesso de 9-1-1, como também a razão pela qual ela é uma das minhas séries preferidas. A segunda temporada, que concluiu há algumas semanas, é um acerto em todos os sentidos. Precisamos de histórias humanas, de heróis de todos os dias e de alguém que nos diga que ‘está difícil, mas vai ficar tudo bem’. Essa proposta de aproximar-se do telespectador pode ser observada a partir da introdução de episódios dedicados quase que exclusivamente para alguns personagens. Ou você vai me dizer que Howie, Hen ou Bobby não representam boa parte da audiência?
Humanidade
Contudo, tenho que confessar ao leitor que a narrativa que mais me chamou atenção e me tocou foi a de Athena. Principalmente no episódio que temos a personagem discutindo com a sua mãe. Não abrirei meu coração porque seria algo enfadonho e piegas de fazer. Mas foi impossível não entender exatamente o que ambas estavam discutindo. A filha sufocada pelas expectativas da mãe, enquanto a mesma tenta explicar suas frustrações. É verdade que o roteiro poderia ter caprichado um pouquinho mais na densidade dos diálogos, mas a mensagem estava lá.
Outra situação onde a proposta de humanidade foi muito bem utilizada foi ao introduzir o filho espetacular de Eddie. Tais cenas nos mostram o quão necessário é termos representatividade e diversidade em cena. Faltou sagacidade do roteiro em propor uma discussão mais ampla sobre os desafios diários em criar uma criança com necessidades especiais. Os altos custos; a dificuldade em encontrar uma escola com a estrutura apropriada; a falta de serviços públicos, enfim. Acredito que poderiam ter ousado, mas sei da dificuldade em ser político num canal aberto.
Impacto Social
Ultimamente, toda série de sucesso na televisão aberta tem uma pegada social. Até mesmo a terrivelmente racista Roseanne, tinha uma ótima ideia de falar sobre a crise de opioides e outros desafios dos ‘esquecidos’ do centro oeste dos Estados Unidos. Enquanto This Is Us e Blue Bloods trazem famílias com o tradicional ‘gente como a gente’. No caso de 9-1-1, a série se propôs, desde quando a personagem de Jennifer Love Hewitt foi introduzida, em tratar de violência doméstica.
Sei que muitos torcem o nariz por ser uma ‘história batida’. Contudo, lembro ao leitor que comunga de tal pensamento que diferentemente de outras plataformas, a TV aberta está nos lares de todos os americanos. Todos. Por isso, é importantíssimo que séries estejam dispostas a tratar de um tema tão difícil de uma forma tão aberta, visceral e forte. Quem sabe tal história é exatamente o que uma dona de casa no subúrbio de Boise precisa para levantar-se e dizer que basta.
Meus elogios não se limitam ao roteiro. Muito pelo contrário. Tudo funcionou de forma espetacular em Fight or Flight. Jennifer Love Hewitt entregou a performance da sua carreira. Aliás, ouso em acreditar que seu trabalho como Maddie em 9-1-1 é a virada que ela estava precisando. Foi grandioso, impactante e muito importante de assistir. Seja pelo evidente comprometimento do ator, como também da forma perspicaz e inteligente que o roteiro trabalhou.
Em suma
Uma das razões pelas quais eu continuo assistindo séries da TV aberta é a humanidade. Infelizmente, ainda não encontrei algo assim no turbilhão de conteúdo oferecido pela Netflix, muito menos em Westeros. Seja 9-1-1, This Is Us, Blue Bloods, black-ish ou até mesmo SEAL Team, temos a oportunidade de tentar entender o porquê aquele personagem pensou daquela maneira ou tomou determinada decisão a partir de um ponto de vista de alguém cheio de defeitos.
Assim como eu e você, não é mesmo?